São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2001

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Greenspan critica adoção do câmbio fixo

DA REDAÇÃO

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Alan Greenspan, afirmou que emprestar dinheiro para países em apuros financeiros pode ter o mesmo efeito de uma bomba-relógio, pronta para explodir no futuro. Segundo Greenspan, isso é ainda mais verdadeiro quando o país em questão mantém um sistema de câmbio fixo.
"Certas condições de estresse aumentam a probalidade do calote de países emergentes e seus contágios", disse o presidente do Fed.
"Grandes endividamentos de curto prazo em moeda estrangeira que são usadas para financiar empréstimos de longo prazo na moeda local são como combustível esperando para pegar fogo."
Greenspan acrescentou: "Esse é especialmente o caso se as reservas em moeda estrangeira são inadequadas e as taxas de câmbio são fixas."
O presidente do Fed fez as declarações durante discurso no Instituto de Economia Internacional, em Washington, anteontem à noite. Ele não citou nenhum país de maneira específica, mas a descrição cai com uma luva para a Argentina.
Os comentários de Greenspan ocorreram no mesmo dia em que o FMI (Fundo Monetário Internacional) se negou a receber o ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, que estaria à procura de novos empréstimos.

Reserva ameaçada
A Argentina, que vive uma recessão econômica, mantém há dez anos um sistema em que a cotação do peso (moeda local) é atrelada ao dólar, em regime de paridade (US$ 1 é igual a um peso). Com o desaquecimento econômico e a queda nas exportações, o país tem enfrentado a diminuição das reservas internacionais.
Essa reservas ficam armazenadas no Banco Central. Quando há a saída de divisas do país (no caso de importações, por exemplo), a moeda local precisa ser trocada por moeda estrangeira. Se a fuga supera a entrada, cria-se um déficit. Para cobri-lo, o Banco Central precisa queimar parte das reservas. Uma alternativa é financiar o rombo, sobretudo com empréstimos externos.

Protestos adormecidos
Durante o discurso, que teve como tema a globalização da economia mundial, Greenspan afirmou que o livre comércio pode ajudar países de mercados emergentes a alcançar a estabilidade.
"Ao contrário do que muitos afirmam, países em desenvolvimento precisam de mais globalização, e não menos", disse o presidente do Fed.
Ainda segundo Greenspan, os atentados ocorridos em Washington e em Nova York, no dia 11 de setembro, silenciaram temporariamente os manifestantes antiglobalização. "Mas o debate a respeito da crescente integração entre os mercados inevitavelmente será retomado", disse.
Para o presidente do Fed, a queda das barreiras ocorrida nos últimos 50 anos trouxe um saldo positivo, ao menos para aqueles países que se mantiveram abertos aos negócios. Segundo ele, o aumento na competição acabou gerando ganho em qualidade de vida.
Greenspan disse que esse fenômeno ocorreu porque as indústrias foram obrigadas a abandonar procedimentos "obsoletos". As novas tecnologias ajudam a ampliar a produtividade e, assim, a poupança da população.
"É esse o processo em que a riqueza é criada", afirmou. "Ele pressupõe um contínuo desmantelamento da economia, em que o novo toma o lugar do antigo."
O presidente do Fed também criticou indiretamente a posição dos países industrializados. Segundo ele, o melhor que eles poderiam fazer para ajudar na redução na pobreza dos países emergentes seria "abrir, de maneira unilateral, seus mercados para as exportações daqueles países".


Com agências internacionais


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