São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMBUSTÍVEIS

Produção manteve-se estável; produto puxou índice de inflação

Entressafra eleva preços do álcool

JOSÉ SERGIO OSSE
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A elevação dos preços do álcool nas últimas semanas -só nos últimos sete dias, o combustível subiu 5,55% em média nos postos de São Paulo- se deve, segundo a especialistas, ao período de entressafra da cana-de-açúcar.
Os produtores não reduziram a fabricação do álcool -o que elevaria o preço do combustível-, mesmo com a possibilidade de ganhar mais fabricando açúcar.
Míriam Bacchi, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP, diz que, caso o objetivo dos produtores fosse ganhar mais fabricando açúcar em vez de álcool, já teriam deixado de produzir o combustível há muito tempo. No ano, o açúcar remunerou o produtor, em média, 16% mais do que o álcool anidro (utilizado na mistura com a gasolina) e 32% mais que o hidratado (usado nos carros a álcool).
"A colheita de cana deste ano foi 8% maior que a de 2001 e suficiente para atender a um aumento na demanda externa por açúcar", diz a pesquisadora.
Para Míriam, a produção de álcool está sendo mantida para preservar a confiança no programa do carro a álcool, apesar do retorno maior do açúcar.
Foi por motivo semelhante que o Proálcool (programa de incentivo federal à compra de carros a álcool) acabou. No início da década de 1990, a produção de álcool foi praticamente paralisada em busca de melhores ganhos com a exportação de açúcar.
Ainda assim, depois de três meses em que a paridade com a gasolina se manteve em baixa, os preços do álcool voltaram a ser pressionados no mês de outubro. O IPCA-15 (um dos índices prévios de inflação medidos pelo IBGE) registrou reajuste de 9,17% nos preços do álcool.
Em janeiro deste ano, o preço nominal da gasolina para o consumidor, segundo o Cepea, era de R$ 0,872, o que representava 56% do preço do litro da gasolina (R$ 1,55 à época).
Em agosto, no auge da colheita, a paridade caiu para 43%. Por conta dos aumentos em outubro, o litro do álcool custa hoje o equivalente a 52% do litro da gasolina (a média de preços em São Paulo é de R$ 0,913 para o álcool e de R$ 1,73 para a gasolina).
Para o diretor de relações institucionais da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Ademar Cantero, as vendas de carros a álcool não serão afetadas pelo aumento no preço do combustível.
"Além dos incentivos fiscais ao carro a álcool, o preço do combustível na bomba ainda é muito bom e, enquanto estiver assim, vai elevar as vendas de carros movidos a álcool", diz ele.


Texto Anterior: Maior aumento de luz do ano irá para o RS
Próximo Texto: Informática: Empresas subfaturam importação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.