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Projeto eleva peso do Estado na mineração
Proposta para mudança de marco legal do setor dá mais poder ao governo para rever e limitar direitos de exploração
Como no caso do pré-sal, marco legal e taxação são separados em projetos diferentes, que devem ir
ao Congresso só em 2010
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governo decidiu "fatiar" o
novo marco legal do setor de
mineração. Serão enviados dois
projetos de lei ao Congresso:
um com as mudanças institucionais e as novas regras para
concessão de áreas e outro
abordando a modificação nos
royalties pagos pelas empresas
e possivelmente alterando a
tributação dessa atividade.
A Folha teve acesso ao documento que o governo deve
apresentar aos empresários do
setor a partir de amanhã. Segundo o texto, a intenção é ampliar a presença e o poder de
decisão do Estado no setor. É
provável que o envio ao Congresso dos projetos fique para
2010.
Um dos principais objetivos
do governo com a mudança do
marco legal do setor é fortalecer a presença do Estado (com
a criação de uma agência reguladora e do Conselho Nacional
de Política Mineral) e acabar
com o que é chamado de "mineração de papel": empresas
obtêm autorização para pesquisa e ficam até dez anos com
a área bloqueada, sem desenvolver produção.
Segundo o detalhamento da
proposta do governo, o prazo
da autorização de pesquisa será
anual, prevendo até cinco renovações, com obrigatoriedade
de investimento anual progressivo a partir do primeiro ano. A
empresa deverá apresentar relatório ao governo após o prazo
e terá um ano para requerer lavra -ou seja, autorização para
produzir- após o período de
pesquisa.
Os contratos de concessão de
lavra terão, obrigatoriamente,
cláusulas definindo o programa de trabalho, exigência de
conteúdo local mínimo e prazo
limitado a 35 anos, com possibilidade de renovação.
Haverá exigência de leilão
nas áreas consideradas "de relevante interesse nacional",
nas quais os governo avalie que
há indícios de minérios estratégicos. Nesse caso, o objetivo é
que a produção comece mais
rápido. O comércio de títulos
de mineração será restringido.
A transferência terá que ser
aprovada previamente pela
agência reguladora e poderá
ser analisada pelo Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. Os títulos prescreverão
em dez anos.
Quando o novo marco legal
entrar em vigor, todos os concessionários atuais deverão
comprovar efetiva atividade,
sob pena de cancelamento do
título. Os atuais concessionários deverão, também, apresentar reavaliação de suas reservas e novo Plano de Aproveitamento Econômico Sustentável em até dois anos.
Estratégia do pré-sal
A estratégia é a mesma usada
na regulamentação do pré-sal,
quando o governo também optou por separar o marco legal
propriamente dito (modelo de
partilha, nova estatal e fundo
social) da discussão sobre os royalties. O objetivo é facilitar a
tramitação, evitando resistências fortes no Congresso.
O governo avalia que é mais
fácil obter um nível elevado de
consenso em relação às novas
regras para mineração do que
aumentar o valor dos royalties,
medida que enfrenta forte oposição das empresas mineradoras, que armaram um lobby intenso na Câmara e no Senado.
A discussão sobre os royalties foi ampliada no governo e
deixou de ser tratada exclusivamente no Ministério de Minas
e Energia. Agora, o tema está
sendo analisado também nos
ministérios da área econômica.
Não está mais em discussão
só a Cfem (Compensação Financeira pela Exploração Mineral, o royalty propriamente
dito), mas toda a carga tributária e outros custos que afetam a
competitividade, como o frete.
A nova avaliação do governo
acata, em parte, argumentação
da indústria. A tese é a seguinte:
embora a Cfem possa ser baixa,
se comparada com alíquotas
desse tipo de imposto em outros países, a carga tributária é
alta de um modo geral.
Dessa forma, ao mexer na
Cfem, o governo precisa estudar melhor o que fazer com outros impostos, para não perder
espaço no mercado global.
Para o governo, um dos principais objetivos em relação à
tributação no setor é incentivar
a transformação do minério em
produtos industriais de valor
agregado. Hoje, a tributação incentiva a exportação de minério bruto.
"Queremos que a Cfem se
torne uma política tributária",
afirmou o secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de
Minas e Energia, Cláudio
Scliar.
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