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Grandes marcas são acusadas pela PF de fraudar importação
Elas usariam firmas desconhecidas para pagar menos impostos; empresas negam
Relatório da Operação
Dilúvio aponta esquema
que importou de maneira
fraudulenta R$ 1,1 bilhão
nos últimos quatro anos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Esqueça aquele clichê que associa contrabando a lojinhas,
camelôs e marcas desconhecidas ou falsificadas. O relatório
da Polícia Federal e da Receita
sobre a Operação Dilúvio, obtido pela Folha, diz que grandes
corporações globais, como
Sharp e Maxell, usam empresas pouco conhecidas no Brasil
para importar seus produtos
sem pagar todos os impostos.
O documento cita também a
Polishop, canal de vendas na
TV e rede de lojas de produtos
importados, e empresas de
porte que importam marcas famosas, como HP, Xerox e
3Com, entre outras.
Todas são acusadas de participar de um esquema de fraude
às importações montado pelo
grupo MAM -iniciais de Marco Antônio Mansur.
O empresário é apontado como o chefe da quadrilha que
importou, de maneira fraudulenta, R$ 1,1 bilhão nos últimos
quatro anos, segundo cálculos
da Receita Federal. A multa às
23 empresas envolvidas deve
ultrapassar R$ 1 bilhão.
Para pagar menos impostos,
ele importava produtos por
preços menores do que os de
mercado -as notas americanas
com valores irreais eram falsificadas no Brasil.
As empresas negam as fraudes (leia texto à pág. B6).
Os ganhos de Mansur podem
ser imaginados a partir de uma
conta dele que a PF descobriu
fora do Brasil: só no Wachovia
Bank, nos Estados Unidos, ele
movimentou US$ 32 milhões
no ano, de acordo com o relatório da Operação Dilúvio.
Ele e seu filho, Marco Antonio Mansur Filho, estão presos
há 102 dias.
A PF trabalha com duas hipóteses na investigação sobre o
envolvimento de grupos empresariais famosos com as
fraudes: 1) as grandes corporações foram "ingênuas" ao contratar empresas desconhecidas
para fazer a importação; 2) as
importadoras foram escolhidas
para evitar que marcas famosas
fossem atingidas se o esquema
fosse descoberto pela polícia.
Como "ingenuidade" não rima com negócios, policiais dizem que a segunda hipótese
pode ser a mais provável.
Dois casos investigados pela
PF e pela Receita são citados
pelos policiais envolvidos na
investigação como "modelo" de
um novo tipo de negócio fraudulento: os de Sharp e Maxell.
A Sharp, um grupo japonês
que projeta vendas de R$ 56 bilhões para este ano, não tem filial no país porque o ramo brasileiro da empresa, administrado pela família Machline, teve
sua falência decretada pela
Justiça em agosto de 2004. As
dívidas da Sharp brasileira somam R$ 1,1 bilhão. Quem quiser assumir a marca no país terá de pagar os credores. Para
fugir da dívida, empresas distribuem produtos da Sharp,
mas o nome do grupo japonês
só aparece na propaganda, não
nos documentos formais.
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