São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Grandes marcas são acusadas pela PF de fraudar importação

Elas usariam firmas desconhecidas para pagar menos impostos; empresas negam

Relatório da Operação Dilúvio aponta esquema que importou de maneira fraudulenta R$ 1,1 bilhão nos últimos quatro anos

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Esqueça aquele clichê que associa contrabando a lojinhas, camelôs e marcas desconhecidas ou falsificadas. O relatório da Polícia Federal e da Receita sobre a Operação Dilúvio, obtido pela Folha, diz que grandes corporações globais, como Sharp e Maxell, usam empresas pouco conhecidas no Brasil para importar seus produtos sem pagar todos os impostos.
O documento cita também a Polishop, canal de vendas na TV e rede de lojas de produtos importados, e empresas de porte que importam marcas famosas, como HP, Xerox e 3Com, entre outras.
Todas são acusadas de participar de um esquema de fraude às importações montado pelo grupo MAM -iniciais de Marco Antônio Mansur.
O empresário é apontado como o chefe da quadrilha que importou, de maneira fraudulenta, R$ 1,1 bilhão nos últimos quatro anos, segundo cálculos da Receita Federal. A multa às 23 empresas envolvidas deve ultrapassar R$ 1 bilhão.
Para pagar menos impostos, ele importava produtos por preços menores do que os de mercado -as notas americanas com valores irreais eram falsificadas no Brasil.
As empresas negam as fraudes (leia texto à pág. B6).
Os ganhos de Mansur podem ser imaginados a partir de uma conta dele que a PF descobriu fora do Brasil: só no Wachovia Bank, nos Estados Unidos, ele movimentou US$ 32 milhões no ano, de acordo com o relatório da Operação Dilúvio.
Ele e seu filho, Marco Antonio Mansur Filho, estão presos há 102 dias.
A PF trabalha com duas hipóteses na investigação sobre o envolvimento de grupos empresariais famosos com as fraudes: 1) as grandes corporações foram "ingênuas" ao contratar empresas desconhecidas para fazer a importação; 2) as importadoras foram escolhidas para evitar que marcas famosas fossem atingidas se o esquema fosse descoberto pela polícia.
Como "ingenuidade" não rima com negócios, policiais dizem que a segunda hipótese pode ser a mais provável.
Dois casos investigados pela PF e pela Receita são citados pelos policiais envolvidos na investigação como "modelo" de um novo tipo de negócio fraudulento: os de Sharp e Maxell.
A Sharp, um grupo japonês que projeta vendas de R$ 56 bilhões para este ano, não tem filial no país porque o ramo brasileiro da empresa, administrado pela família Machline, teve sua falência decretada pela Justiça em agosto de 2004. As dívidas da Sharp brasileira somam R$ 1,1 bilhão. Quem quiser assumir a marca no país terá de pagar os credores. Para fugir da dívida, empresas distribuem produtos da Sharp, mas o nome do grupo japonês só aparece na propaganda, não nos documentos formais.


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