|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empresas em nome de laranja fazem parte do esquema
Moradores de favela na Grande SP, dona-de-casa e ajudante de pedreiro constam como controladores de importadora
Empresas ficaram quase sem estoques depois da Operação Dilúvio; grandes
corporações pressionam por fim de importações diretas
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem liga para o showroom
das empresas Plena ou Principal na avenida Paulista é atendido por uma telefonista que
diz "Sharp Digital, bom dia!". A
Plena e a Principal são citadas
pelo relatório da PF como
usuárias do esquema do grupo
MAM -elas importam copiadoras e impressoras do grupo
japonês para uso corporativo.
Não é a primeira vez que a
Plena é associada a práticas comerciais heterodoxas. Durante
a CPI da Pirataria, em 2004, o
executivo que se apresentava
como diretor da Sharp no Brasil, Rubens Barcellos, foi preso
pela polícia sob acusação de
prática de contrabando.
Barcellos foi acusado de usar
laranjas para importar copiadoras recondicionadas -a empresa que fazia a importação, a
SB Comercial, estava em nome
de um funileiro. Além de não
pagar todos os impostos, as máquinas recondicionadas eram
vendidas como novas, de acordo com a polícia.
A Plena e a Principal, empresas que se apresentam como
Sharp Digital, dizem que Barcellos era apenas um consultor.
Se havia funileiro importando fotocopiadoras que custam
até R$ 150 mil, há também ajudante de pedreiro e dona-de-casa que são os supostos controladores da Llexam, importadora de CDs, DVDs, memórias
para computador e câmeras digitais da Maxell japonesa. Não é
preciso ser nenhum Sherlock
Holmes para notar que Llexam
é Maxell ao contrário.
A Maxell é uma subsidiária
da Hitachi, a terceira maior
corporação japonesa. Em abril
deste ano, as vendas mundiais
da Maxell eram equivalentes a
R$ 3,8 bilhões. O site da Maxell
para a América Latina aponta a
Llexam como sua distribuidora
no Brasil.
Quem vê a casa onde moravam os supostos acionistas da
Llexam, numa favela em que o
esgoto corre a céu aberto em
Rio Grande da Serra, na Grande
São Paulo, não tem muitas dúvidas de que são laranjas.
O antigo controlador da Llexam, Ricardo Breslauer, continua a se apresentar como diretor comercial da Maxell do Brasil, mas não há nenhum papel
oficial que traga o nome do grupo japonês. Em entrevista à Folha na última quinta-feira, ele
disse que não sabia informar se
os controladores da Llexam
eram laranjas: "Vendi a empresa, mas não lembro para quem.
Vou consultar meu advogado e
ligo depois", afirmou Breslauer.
Ele não ligou.
Sem mercadoria
Policiais e técnicos da Receita que participaram da Operação Dilúvio dizem ter a prova
dos nove de que um bom número das empresas investigadas é
movida por fraudes: esse atestado seria a falta de mercadorias depois que a PF fez buscas
e apreensões em agosto. A Justiça determinou que o estoque
de algumas empresas fosse
apreendido, já que os produtos
poderiam servir de prova da
eventual fraude.
Uma das empresas mais afetadas pela apreensão do estoque foi a Nagem, a maior distribuidora de produtos da HP do
Nordeste brasileiro. A Nagem,
que tem escritórios em São
Paulo, Recife, Salvador e Fortaleza, ficou praticamente sem
ter o que vender às vésperas do
Natal.
A Polishop, que vende produtos importados pela TV e por
uma rede que já tem 59 lojas,
também está com seu estoque
praticamente zerado depois
que a empresa foi alvo da Operação Dilúvio.
Segundo a Folha apurou, para as vendas de Natal há risco
de falta dos produtos tipicamente Polishop, como o Total
Shape, anunciado como um tonificador do abdome.
Após a ação da PF, os gerentes da rede Polishop foram
convocados para uma reunião
de emergência. Lá, ficaram sabendo que vão faltar produtos
e receberam a instrução de
mandar o consumidor procurar o produto no site para não
deixar claro que as lojas haviam ficado praticamente sem
produtos.
Outra conseqüência da operação é que empresas que importavam grandes marcas diretamente dos EUA foram pressionadas pelas corporações para parar com esse tipo de prática. A Solution TI, que trabalha
com produtos da 3Com, da Logitech e da Acer e sofreu buscas
durante a Operação Dilúvio, foi
uma das empresas pressionadas. A Microsens, uma importadora de Londrina que traz
equipamentos da Xerox e da
HP, sofreu pressões para que
essas marcas não apareçam
mais no noticiário policial.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: O novo Estado investidor de Lula Próximo Texto: Luciana Coutinho: Política e economia Índice
|