São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Mudança de cronograma do BC segura queda do juro

Maior distância entre reuniões do Copom levou Selic a cair mais lentamente

Economistas dizem que o sistema anterior, com reuniões a cada mês, teria permitido ao BC perceber melhor a queda da inflação

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma pequena mudança de cronograma ajudou o Banco Central a fazer algo que parecia impensável até pouco tempo atrás: neste ano, a taxa Selic caiu de forma mais lenta do que em 2005, mas, ainda assim, as pressões por juros menores -que o presidente Lula chegou a chamar de "tensão pré-Copom"- perderam força.
Tudo porque, em 2006, o Comitê de Política Monetária do BC mudou seu calendário. Em vez das reuniões mensais, que aconteciam desde a criação do Copom, em 1996, os encontros passaram a acontecer de seis em seis semanas -intervalo que será mantido em 2007.
Economistas ouvidos pela Folha criticam a alteração e sugerem que a taxa Selic poderia ter sido reduzida mais rapidamente se tivesse sido mantido o cronograma antigo.
Essa é, por exemplo, a avaliação de Sérgio Werlang, diretor do Itaú. "Seria melhor voltar à sistemática antiga", diz. Ex-diretor do BC, Werlang foi um dos responsáveis pela implantação do sistema de metas de inflação no país, em 1999. "A minha impressão é que essa mudança fez com que a taxa de juros caísse mais lentamente. Mantido o sistema antigo, a cada mês haveria fatos novos para justificar novas quedas."
O BC diz que o novo calendário foi adotado por causa da "estabilidade do ambiente econômico do país", o que diminuiria a necessidade de mudar o nível do juro "em maior freqüência". Werlang discorda. "Na Inglaterra, as reuniões são mensais, e se trata de um dos países mais estáveis do mundo", afirma.
Já o economista Fernando Cardim, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que a mudança refletiu "um movimento de auto-preservação" da diretoria do BC. "O que eles queriam era diminuir a pressão sobre o Copom. Tudo bem que essa pressão foi menor também porque eles fizeram um pouco do que o governo queria [ao reduzir os juros], mas certamente dava para fazer mais", afirma.
Entre setembro e dezembro de 2005, o Copom se reuniu quatro vezes e cortou em 0,5 ponto percentual a Selic a cada encontro. Um corte dessa magnitude, feito a cada mês, equivale a uma redução de cerca de 0,75 ponto a cada seis semanas.
O Copom manteve a estratégia nos primeiros quatro meses de 2006 e, em três reuniões, foram feitos três cortes, de 0,75 ponto cada um.
A partir de maio, porém, o BC diminuiu a velocidade do alívio monetário e a redução passou a ocorrer em doses de 0,5 ponto percentual -a cada seis semanas, portanto. Os juros passaram a cair mais lentamente, mas o intervalo maior entre os encontros disfarçou isso.
"Foi um tiro n'água", afirma Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio). Ele lembra que, durante boa parte do primeiro semestre, os cortes da Selic apenas acompanharam o ritmo de queda dos principais índices de preços. Logo, os juros reais -já descontada a inflação- ficaram quase inalterados.
O economista Caio Megale, da Mauá Investimentos, diz que a inflação deste ano foi surpreendentemente baixa e que o BC teria percebido isso com mais facilidade e poderia ter tomado outras decisões. "Quando você está dirigindo numa estrada e não conhece bem o consumo de combustível do carro, é melhor que exista mais postos de gasolina no caminho, e não menos", compara.
Até agosto do ano passado, a expectativa média do mercado financeiro era que a inflação de 2006 ficasse em 5%. Fatores inesperados, como a queda do preço dos alimentos e a valorização do real, devem fazer com que o IPCA fique em torno de 3% neste ano.
A última reunião do Copom neste ano será na próxima terça e quarta-feiras. A expectativa do mercado é uma nova queda de 0,5 ponto percentual, o que levaria a taxa para 13,25%.


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