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Mudança de cronograma do BC segura queda do juro
Maior distância entre reuniões do Copom levou Selic a cair mais lentamente
Economistas dizem que o sistema anterior, com reuniões a cada mês, teria permitido ao BC perceber melhor a queda da inflação
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma pequena mudança de
cronograma ajudou o Banco
Central a fazer algo que parecia
impensável até pouco tempo
atrás: neste ano, a taxa Selic
caiu de forma mais lenta do que
em 2005, mas, ainda assim, as
pressões por juros menores
-que o presidente Lula chegou
a chamar de "tensão pré-Copom"- perderam força.
Tudo porque, em 2006, o Comitê de Política Monetária do
BC mudou seu calendário. Em
vez das reuniões mensais, que
aconteciam desde a criação do
Copom, em 1996, os encontros
passaram a acontecer de seis
em seis semanas -intervalo
que será mantido em 2007.
Economistas ouvidos pela
Folha criticam a alteração e sugerem que a taxa Selic poderia
ter sido reduzida mais rapidamente se tivesse sido mantido o
cronograma antigo.
Essa é, por exemplo, a avaliação de Sérgio Werlang, diretor
do Itaú. "Seria melhor voltar à
sistemática antiga", diz. Ex-diretor do BC, Werlang foi um
dos responsáveis pela implantação do sistema de metas de
inflação no país, em 1999. "A
minha impressão é que essa
mudança fez com que a taxa de
juros caísse mais lentamente.
Mantido o sistema antigo, a cada mês haveria fatos novos para
justificar novas quedas."
O BC diz que o novo calendário foi adotado por causa da "estabilidade do ambiente econômico do país", o que diminuiria
a necessidade de mudar o nível
do juro "em maior freqüência".
Werlang discorda. "Na Inglaterra, as reuniões são mensais,
e se trata de um dos países mais
estáveis do mundo", afirma.
Já o economista Fernando
Cardim, professor da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro), diz que a mudança
refletiu "um movimento de auto-preservação" da diretoria do
BC. "O que eles queriam era diminuir a pressão sobre o Copom. Tudo bem que essa pressão foi menor também porque
eles fizeram um pouco do que o
governo queria [ao reduzir os
juros], mas certamente dava
para fazer mais", afirma.
Entre setembro e dezembro
de 2005, o Copom se reuniu
quatro vezes e cortou em 0,5
ponto percentual a Selic a cada
encontro. Um corte dessa magnitude, feito a cada mês, equivale a uma redução de cerca de
0,75 ponto a cada seis semanas.
O Copom manteve a estratégia nos primeiros quatro meses
de 2006 e, em três reuniões, foram feitos três cortes, de 0,75
ponto cada um.
A partir de maio, porém, o BC
diminuiu a velocidade do alívio
monetário e a redução passou a
ocorrer em doses de 0,5 ponto
percentual -a cada seis semanas, portanto. Os juros passaram a cair mais lentamente,
mas o intervalo maior entre os
encontros disfarçou isso.
"Foi um tiro n'água", afirma
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista da
CNC (Confederação Nacional
do Comércio). Ele lembra que,
durante boa parte do primeiro
semestre, os cortes da Selic
apenas acompanharam o ritmo
de queda dos principais índices
de preços. Logo, os juros reais
-já descontada a inflação- ficaram quase inalterados.
O economista Caio Megale,
da Mauá Investimentos, diz
que a inflação deste ano foi surpreendentemente baixa e que o
BC teria percebido isso com
mais facilidade e poderia ter tomado outras decisões. "Quando você está dirigindo numa estrada e não conhece bem o consumo de combustível do carro,
é melhor que exista mais postos de gasolina no caminho, e
não menos", compara.
Até agosto do ano passado, a
expectativa média do mercado
financeiro era que a inflação de
2006 ficasse em 5%. Fatores
inesperados, como a queda do
preço dos alimentos e a valorização do real, devem fazer com
que o IPCA fique em torno de
3% neste ano.
A última reunião do Copom
neste ano será na próxima terça
e quarta-feiras. A expectativa
do mercado é uma nova queda
de 0,5 ponto percentual, o que
levaria a taxa para 13,25%.
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