São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Europa quer avançar acordo com Mercosul

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

A Espanha está tentando armar uma reunião entre seu presidente de governo, José Luis Rodríguez Zapatero, o primeiro-ministro português, José Sócrates, e os quatro presidentes dos países do Mercosul para dar impulso político às estancadas negociações para um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
Criaria um mercado de 750 milhões de pessoas, um formidável atrativo.
A reunião se daria paralelamente à Cúpula Ibero-Americana que se realiza a partir de segunda-feira no balneário do Estoril, a 30 quilômetros de Lisboa.
Se não for possível fazer o encontro dos governantes, já está marcada, de todo modo, uma reunião entre ministros do Exterior dos mesmos seis países, sendo que o Brasil estará representado pelo vice-chanceler Antônio Patriota, já que o titular, Celso Amorim, viaja a Genebra, para uma reunião ministerial da Rodada Doha.
Doha, aliás, é usada como grande argumento para vender a ideia de que agora é possível fechar a negociação entre o conglomerado europeu de 27 países e o bloco sul-americano. "O Brasil queria Doha, Doha, Doha. Agora que Doha está virtualmente descartada, um acordo entre a União Europeia e o Mercosul é a grande herança que o presidente Lula poderá deixar", diz Alberto Navarro, embaixador da Espanha em Portugal, com a experiência de quem foi, antes, embaixador da União Europeia no Brasil e secretário de Estado, na Espanha, para Assuntos Europeus.
Conhece, portanto, as intimidades de uma negociação que começou em 1995, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, mas não chegou até agora a lugar nenhum.
Há um mês, técnicos dos dois lados reuniram-se em Lisboa para ver até onde era possível avançar, mas chegaram à conclusão de que ainda não havia condições de relançar as negociações propriamente ditas. Limitaram-se a convocar uma nova reunião de avaliação, ainda sem data marcada, à espera da definição do novo presidente do Uruguai -a eleição ocorre no domingo.
"Foi um sinal importante de que a bola está andando, mas ainda não se chegou ao ponto de retomar as negociações", diz Ricardo Neiva Tavares, embaixador do Brasil junto à UE.
A Espanha, que é a inspiradora das cúpulas ibero-americanas, será também a sede da Cúpula União Europeia/América Latina-Caribe, em maio. Por isso, quer a retomada das negociações para que cheguem a maio em estado avançado, talvez conclusivo.
Alberto Navarro diz que é "um momento mágico, porque o Brasil já não tem somente interesses defensivos. Tem também um enorme interesse pelo mercado europeu".
Na verdade, o Brasil sempre teve "interesses ofensivos": pretende abrir o mercado agrícola europeu, fortemente protegido, mas a Europa se nega a fazê-lo.
A fase atual é de consultas dos governos ao setor privado, para saber que demandas e que ofertas podem ser feitas se e quando a negociação for retomada.


Texto Anterior: Emergentes querem reduzir as tarifas de importação em 20%
Próximo Texto: Comércio exterior: Brasil quer usar real nas trocas com a Rússia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.