|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crise financeira global ajuda a fechar Rodada Doha, afirmam negociadores
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Ministros do Comércio de 17
países e o chanceler brasileiro
Celso Amorim concordaram
ontem em um ponto, em almoço com o diretor-geral da OMC
(Organização Mundial de Comércio), Pascal Lamy: a crise financeira global abre uma "janela de necessidade" que permitirá eventualmente concluir
ainda neste ano a Rodada Doha,
o mais ambicioso ensaio de liberalização comercial, lançado
em 2001 e que pouco avançou
desde então.
A explicação de Amorim: "O
mundo real [como contraponto
ao "da especulação'] mandaria
uma mensagem positiva em
meio à crise". Reforça Doris
Leuthard, ministra suíça de Assuntos Econômicos e anfitriã
do almoço: "Concluir a Rodada
Doha seria um forte sinal para
estabilizar a economia, além de
demonstrar que o sistema multilateral está funcionando".
A "janela de necessidade"
põe tanta pressão que os ministros concordaram em tentar fazer em abril a reunião ministerial, que é a suprema instância
de decisão da OMC. Pelas regras da instituição, deve haver
uma reunião ministerial a cada
dois anos, mas o prazo foi perdido no ano passado, devido às
formidáveis divergências entre
as partes (a mais recente ministerial foi em Hong Kong, em
dezembro de 2005).
A maioria dos ministros também concordou em que ou a
Rodada Doha é concluída agora
"ou nunca mais o será", conforme o relato de Doris Leuthard.
Amorim diz que não está
"entre os que acreditam que ou
fecha agora ou nunca", mas reconhece que, depois de 2008,
será muito mais difícil.
A razão central das dificuldades está dada, segundo Amorim
e Leuthard, pela mudança de
governo nos Estados Unidos, o
que arrastaria por algum tempo o que o chanceler chamou de
"processo educacional" das novas autoridades, a respeito de
comércio e da negociação de
Doha. Leuthard acha que, antes
de 2010, não haveria possibilidade de fechar a negociação, se
não houver acordo neste ano.
O cronograma desenhado no
almoço de ontem é assim:
1 - Até abril ou pouco antes,
os chefes dos diferentes grupos
negociadores divulgam novos
textos, que apresentem o que
Amorim chama de "espaços negociadores". Traduzindo: os
números para a redução do
protecionismo em agricultura
e em bens industriais -os itens
que estão emperrando o processo- terão que ser equilibrados o suficiente para que as
partes os aceitem não como
formato final, mas como chance de negociação.
2 - Faz-se então a ministerial
em abril. Só ela pode fechar o
esqueleto de um acordo final.
3 - Nos "seis ou oito meses"
seguintes, diz Leuthard, cada
país examina os aspectos jurídicos das propostas para bater
o martelo até o fim de 2008.
Para a diplomacia brasileira,
a Rodada Doha foi sempre a
prioridade sobre qualquer outra negociação. Explica Amorim: "Para nós, fortalecer o sistema multilateral é crucial. Nenhum acordo bilateral é tão positivo, especialmente acordos
com os países desenvolvidos,
que sempre penduram nesses
acordos itens como propriedade intelectual, compras governamentais etc".
São áreas que o Brasil não está interessado em liberalizar
tão amplamente quanto quer o
mundo rico.
(CR)
Texto Anterior: Existe dúvida sobre "crise latina" nos EUA Próximo Texto: Evento do Fórum Social no Rio reúne grupos distintos Índice
|