São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Crise financeira global ajuda a fechar Rodada Doha, afirmam negociadores

ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Ministros do Comércio de 17 países e o chanceler brasileiro Celso Amorim concordaram ontem em um ponto, em almoço com o diretor-geral da OMC (Organização Mundial de Comércio), Pascal Lamy: a crise financeira global abre uma "janela de necessidade" que permitirá eventualmente concluir ainda neste ano a Rodada Doha, o mais ambicioso ensaio de liberalização comercial, lançado em 2001 e que pouco avançou desde então.
A explicação de Amorim: "O mundo real [como contraponto ao "da especulação'] mandaria uma mensagem positiva em meio à crise". Reforça Doris Leuthard, ministra suíça de Assuntos Econômicos e anfitriã do almoço: "Concluir a Rodada Doha seria um forte sinal para estabilizar a economia, além de demonstrar que o sistema multilateral está funcionando".
A "janela de necessidade" põe tanta pressão que os ministros concordaram em tentar fazer em abril a reunião ministerial, que é a suprema instância de decisão da OMC. Pelas regras da instituição, deve haver uma reunião ministerial a cada dois anos, mas o prazo foi perdido no ano passado, devido às formidáveis divergências entre as partes (a mais recente ministerial foi em Hong Kong, em dezembro de 2005).
A maioria dos ministros também concordou em que ou a Rodada Doha é concluída agora "ou nunca mais o será", conforme o relato de Doris Leuthard.
Amorim diz que não está "entre os que acreditam que ou fecha agora ou nunca", mas reconhece que, depois de 2008, será muito mais difícil.
A razão central das dificuldades está dada, segundo Amorim e Leuthard, pela mudança de governo nos Estados Unidos, o que arrastaria por algum tempo o que o chanceler chamou de "processo educacional" das novas autoridades, a respeito de comércio e da negociação de Doha. Leuthard acha que, antes de 2010, não haveria possibilidade de fechar a negociação, se não houver acordo neste ano.
O cronograma desenhado no almoço de ontem é assim:
1 - Até abril ou pouco antes, os chefes dos diferentes grupos negociadores divulgam novos textos, que apresentem o que Amorim chama de "espaços negociadores". Traduzindo: os números para a redução do protecionismo em agricultura e em bens industriais -os itens que estão emperrando o processo- terão que ser equilibrados o suficiente para que as partes os aceitem não como formato final, mas como chance de negociação.
2 - Faz-se então a ministerial em abril. Só ela pode fechar o esqueleto de um acordo final.
3 - Nos "seis ou oito meses" seguintes, diz Leuthard, cada país examina os aspectos jurídicos das propostas para bater o martelo até o fim de 2008.
Para a diplomacia brasileira, a Rodada Doha foi sempre a prioridade sobre qualquer outra negociação. Explica Amorim: "Para nós, fortalecer o sistema multilateral é crucial. Nenhum acordo bilateral é tão positivo, especialmente acordos com os países desenvolvidos, que sempre penduram nesses acordos itens como propriedade intelectual, compras governamentais etc".
São áreas que o Brasil não está interessado em liberalizar tão amplamente quanto quer o mundo rico. (CR)


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