São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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Em Franca, desemprego na indústria calçadista atinge família inteira

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

A sapateira Seleide Silva Bertelli, 44, no ofício desde os 14, não sabe contar a sua vida sem relacioná-la com a indústria de calçados em Franca (399 km a nordeste de São Paulo). Desde o fim do ano passado, porém, ela, as duas filhas e os dois genros, além de amigos e vizinhos, estão sem trabalho.
Só em dezembro, Franca figurou como a terceira cidade que mais demitiu no país, atrás só de São Paulo e Manaus (AM), com 11.101 contratos encerrados, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego. Ontem, levantamento do Ciesp/Fiesp (Centro e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) apontou também que o polo calçadista de Franca foi a regional que mais fechou postos na indústria em 2008, com queda de 19%.
Ainda adolescente, Seleide começou a vida profissional em uma fábrica de calçados. Aos 20, montou em casa uma banca de pesponto (costura de sapatos enviados pelas fábricas). Em janeiro do ano passado, decidiu voltar a ser operária de fábrica, de olho na estabilidade.
Passou 2008 com o salário fixo de R$ 780 na função de pesponteira -mesmo que sem registro. Em agosto, fez registro temporário com a promessa de, em três meses, ser efetivada, mas, em novembro, veio a notícia da demissão "Não estava esperando, foi um choque. Tirou meu chão. Tive princípio de depressão, já fui três vezes ao pronto-socorro."
Sua filha do meio, Denise Bertelli, 20, desde os 13 ajudava os pais com a banca e, em agosto do ano passado, aos 19, havia começado na mesma fábrica que a mãe, também com a promessa do registro após três meses. "Era meu primeiro registro em carteira. Foi um susto. Aqui só somos eu e minha mãe para sustentar a casa", disse Denise.
Seu namorado, Lindomar Vieira, 20, conseguiu até outubro manter sua banca de pesponto, que divide com a irmã. Em média, chegavam-lhe 30 pares para costurar ao mês. Desde então, nenhum par. "Você vai nas fábricas procurar mercadoria, mas está tudo fechado. Mandam voltar só em fevereiro."
A filha mais velha de Seleide, Daniele, 23, e seu genro, Fransérgio, 28, também não encontram sapatos para costurar em sua banca de pesponto. "E não é só minha família. Meus antigos amigos da fábrica, pais de família, vêm desesperados perguntar se eu não sei de serviço."
Dentro do sindicato dos sapateiros, ao lado da sala onde são feitas as rescisões, o sapateiro Everton Reis da Silva André, 20, trabalhava ontem no conserto do piso. Ele lembra-se de quando precisou abandonar o emprego porque sua empresa fechou as portas.
"Comecei a fazer bicos e entrei na construção civil. Mas, se pudesse, voltava para o sapato. Gosto de trabalhar com calçado."


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