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foco
Em Franca, desemprego na indústria calçadista atinge família inteira
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
A sapateira Seleide Silva
Bertelli, 44, no ofício desde
os 14, não sabe contar a sua
vida sem relacioná-la com a
indústria de calçados em
Franca (399 km a nordeste
de São Paulo). Desde o fim
do ano passado, porém, ela,
as duas filhas e os dois
genros, além de amigos e vizinhos, estão sem trabalho.
Só em dezembro, Franca
figurou como a terceira cidade que mais demitiu no país,
atrás só de São Paulo e Manaus (AM), com 11.101 contratos encerrados, segundo o
Caged (Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego. Ontem, levantamento do Ciesp/Fiesp
(Centro e Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo) apontou também que
o polo calçadista de Franca
foi a regional que mais fechou postos na indústria em
2008, com queda de 19%.
Ainda adolescente, Seleide
começou a vida profissional
em uma fábrica de calçados.
Aos 20, montou em casa uma
banca de pesponto (costura
de sapatos enviados pelas fábricas). Em janeiro do ano
passado, decidiu voltar a ser
operária de fábrica, de olho
na estabilidade.
Passou 2008 com o salário
fixo de R$ 780 na função de
pesponteira -mesmo que
sem registro. Em agosto, fez
registro temporário com a
promessa de, em três meses,
ser efetivada, mas, em novembro, veio a notícia da demissão "Não estava esperando, foi um choque. Tirou
meu chão. Tive princípio de
depressão, já fui três vezes ao
pronto-socorro."
Sua filha do meio, Denise
Bertelli, 20, desde os 13 ajudava os pais com a banca e,
em agosto do ano passado,
aos 19, havia começado na
mesma fábrica que a mãe,
também com a promessa do
registro após três meses.
"Era meu primeiro registro
em carteira. Foi um susto.
Aqui só somos eu e minha
mãe para sustentar a casa",
disse Denise.
Seu namorado, Lindomar
Vieira, 20, conseguiu até outubro manter sua banca de
pesponto, que divide com a
irmã. Em média, chegavam-lhe 30 pares para costurar ao
mês. Desde então, nenhum
par. "Você vai nas fábricas
procurar mercadoria, mas
está tudo fechado. Mandam
voltar só em fevereiro."
A filha mais velha de Seleide, Daniele, 23, e seu genro,
Fransérgio, 28, também não
encontram sapatos para costurar em sua banca de pesponto. "E não é só minha família. Meus antigos amigos
da fábrica, pais de família,
vêm desesperados perguntar
se eu não sei de serviço."
Dentro do sindicato dos
sapateiros, ao lado da sala
onde são feitas as rescisões, o
sapateiro Everton Reis da
Silva André, 20, trabalhava
ontem no conserto do piso.
Ele lembra-se de quando
precisou abandonar o emprego porque sua empresa
fechou as portas.
"Comecei a fazer bicos e
entrei na construção civil.
Mas, se pudesse, voltava para o sapato. Gosto de trabalhar com calçado."
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