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Giannetti derruba mito dos US$ 100 bi
Folha - O sr. acha viável a meta
do governo de atingir US$ 100
bilhões em exportações até
2002, que é mais do que o dobro do total do ano passado?
Fonseca - Essa meta não é um
mito que estará fixado como imprescindível, como um fetiche.
Não vamos criar compromissos
absolutamente indispensáveis
com essa meta.
Mais importante que os US$ 100
bilhões é gerar superávits comerciais crescentes e que, eventualmente, superem, em 2002, US$ 10
bilhões no ano.
Folha - O sr. acredita nisso?
Giannetti - Não só acredito como acho essa meta absolutamente necessária. Nosso déficit em
conta corrente está crescendo a
taxas muito elevadas. E mesmo
todo o investimento estrangeiro
que está vindo ao Brasil, que é
muito bem-vindo e necessário,
está gerando uma obrigação futura em remessas de lucros e pagamentos de obrigações que teremos de cumprir. Para isso é fundamental o superávit comercial.
Folha - Muito desse dinheiro
que entrou no país nos últimos
anos em investimentos diretos
(foram US$ 31 bilhões só em 99)
foi destinado à compra de empresas das áreas financeira e de
serviços, como telecomunicações e energia. São setores que
enviam muitos dólares para fora na forma de lucros e dividendos e que não geram um centavo em exportações. Ao contrário, gastam dólares importando
equipamentos. Como desatar o
nó?
Giannetti - A única forma de
manter esse fluxo de investimentos desejável pelo Brasil é gerar
um superávit comercial que cubra o déficit futuro da balança de
serviços, que a gente sabe que vai
ser crescente e contínuo. E isso
deve ser feito sem aumentar o endividamento em dólares do país
para pagar esses serviços. Deve
ser financiado pelo superávit comercial.
Folha - Mas grande parte dos
investimentos estrangeiros no
país veio para a compra de empresas já existentes, e não para
a formação de novos negócios.
E, ao se tornarem estrangeiras,
essas empresas aumentaram
muito suas importações de matérias-primas e máquinas para
produzir localmente. Um relatório da Unctad mostra, por exemplo, que em três anos (de 93 a
96) a penetração de autopeças
importadas passou de 8% para
25%, e no setor de telecomunicações, de 29% para 70%. Como
reverter isso?
Giannetti - As importações vão
continuar crescendo. Nós desejamos que a economia brasileira
cresça. Já passamos dois anos
com crescimento muito baixo e
isso é socialmente insustentável.
O governo precisa recuperar o
apoio da população.
Para poder crescer, o país vai
acabar importando entre 4% a 5%
a mais este ano, com o agravante
de que o preço do petróleo ainda é
uma incógnita.
Para fechar a conta, as exportações terão de crescer algumas vezes mais do que as importações.
Por isso digo que a meta de superávit é mais importante do que os
US$ 100 bilhões em exportações.
Se não conseguirmos a meta de
US$ 10 bilhões de superávit, os
bancos não vão mais querer financiar nosso déficit em conta
corrente. Vai ficar evidente o desequilíbrio estrutural no balanço
de pagamentos do país. Se isso
acontecer, teremos que conter as
importações via redução do crescimento, e voltamos à estaca zero.
Esse é o desafio.
Folha - Mas o que o sr. pretende fazer? A balança comercial
este ano já começou mal. Acumula um déficit de quase US$
100 milhões depois de um resultado negativo de US$ 1,2 bilhão
em 99. Com um agravante: todos achavam que, após a desvalorização do real, o setor exportador se recuperaria rapidamente, o que não aconteceu.
Giannetti - A grande decepção
do ano passado foi o medíocre desempenho das exportações, que
caíram 7,3% em relação a 98. Mas
o grande problema não está no
volume exportado, que aumentou muito, mas na queda nos preços dos produtos exportados, que
foi significativa. Mas já está havendo uma forte recuperação este
ano.
No ano passado, para aumentar
o volume das vendas ao exterior,
os exportadores tiveram de dar
descontos, que foram possíveis
graças à desvalorização do real.
Nesse processo, os exportadores
ganharam maiores fatias de mercado, deslocando países como a
Coréia, o México, a Espanha. E,
no momento em que ganharam
mercado, estabeleceram um fluxo, que acabará se tornando contínuo e crescente.
No ano passado também tivemos uma dramática redução de
crédito ao setor produtivo. O volume caiu de 32% do PIB para
22% do PIB. Esse crédito também
está voltando agora.Por essas razões, tenho absoluta convicção de
que esse ano vamos ter um superávit comercial de até US$ 5 bilhões. É ótimo, mas não é suficiente. A economia brasileira precisa de mais. Vamos ter de voltar a
apresentar, ainda por um período, megasuperávits. É imprescindível conseguir rapidamente uma
inflexão da curva de déficits na
conta corrente para ter uma situação mais equilibrada nas contas
externas. Ainda estamos muito
vulneráveis justamente nisso.
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