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COMÉRCIO EXTERIOR
Roberto Giannetti da Fonseca, que assumirá a Camex, condena aversão ao capital externo
Isolar o país é um erro, diz economista
A seguir, a continuação da entrevista com o economista Roberto Giannetti da Fonseca:
Folha - O sr. concorda com os
que dizem que o processo de
abertura do país acabou desmontando grandes setores exportadores?
Giannetti - Não. As multinacionais têm um desempenho muito
favorável nas exportações. Hoje,
grande parte do comércio internacional é entre companhias. E
por isso é ótimo ter essas multinacionais aqui.
Folha - Mas as importações de
matérias-primas e equipamentos dessas empresas não anulam esse ganho?
Giannetti - Eu não compartilho
desse viés antiimportação. Para
que a economia seja competitiva,
a exportação e a importação têm
de funcionar de forma racional.
Não é com restrições e impostos
de importação que vamos criar
uma economia competitiva. Se
quisermos ter produtos competitivos, com alto valor agregado,
precisamos importar componentes. Não existe país no mundo totalmente auto-suficiente.
Veja o caso da Embraer (hoje a
maior exportadora individual do
país), que importa grandes quantidades de componentes. É assim
mesmo. Não dá para pensar que
tudo vai estar disponível na economia brasileira antes de o produto a ser exportado aparecer.
Folha - O sr. citou a Embraer,
que é um caso de sucesso, onde
o governo deliberadamente
adotou uma política de investimentos. Mas parece que não há
uma política geral orientada para outras áreas. Não está tudo
meio descoordenado?
Giannetti - Não acho. O que está havendo é um processo de
transformação da indústria brasileira. Há trocas de comando de
brasileiros para estrangeiros, setores que estão desaparecendo e
outros que estão crescendo. É um
processo natural. A indústria de
telefonia e computadores, por
exemplo, está explodindo.
Folha - Mas, de novo, é uma
indústria que tem um alto índice de importações.
Giannetti - Tem. Mas também
tem um alto valor agregado. No
momento em que tivermos escala
nessas exportações, o componente nacional vai começar a aparecer. Quando o produto final dá
certo, a cadeia produtiva aparece.
Às vezes, ao proteger
indústria ineficiente, você acaba causando uma perda de produtividade na cadeia
e isso resulta em uma perda
de emprego muito maior
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Folha - A meta então é estimular áreas de alto valor agregado
para que os seus fornecedores
nacionais apareçam? É isso?
Giannetti - Com certeza. E caberá a nós induzir esse processo
para que ele se torne rápido.
Folha - Onde isso é mais fácil
hoje?
Giannetti - Em todos os setores
de alto valor agregado. Aeronáutico, eletroeletrônico, telecomunicações, no setor automotivo. Todos esses setores têm potenciais
fantásticos. Vamos estudar toda a
cadeia produtiva para saber como
podemos reduzir custos logísticos, financeiros, como capitalizar
as empresas.
Precisamos dar às empresas no
Brasil condições isonômicas. Precisamos defender que o capital
nacional tenha isonomia competitiva. E não defender e dar proteção à ineficiência. Pois aí estaremos prejudicando o conjunto.
Folha - E o ""neonacionalismo"? O que o sr. acha disso?
Giannetti - Existe uma diferença entre patriotismo e nacionalismo. Patriotismo é quando você
defende o seu país, a sua sociedade, as suas empresas e a sua economia. Nacionalismo, no sentido
que está sendo dado, é ser contra
o estrangeiro. E, no mundo atual,
isso é uma coisa retrógrada. É coisa dos anos 70, é isolacionismo,
terceiro-mundismo.
O mundo está cada vez mais integrado. É inexorável. Isolar o
Brasil seria um erro histórico e
não podemos jamais retornar a
esse passado. Isso acabou.
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