São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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COMÉRCIO EXTERIOR

Roberto Giannetti da Fonseca, que assumirá a Camex, condena aversão ao capital externo

Isolar o país é um erro, diz economista


A seguir, a continuação da entrevista com o economista Roberto Giannetti da Fonseca:

Folha - O sr. concorda com os que dizem que o processo de abertura do país acabou desmontando grandes setores exportadores?
Giannetti -
Não. As multinacionais têm um desempenho muito favorável nas exportações. Hoje, grande parte do comércio internacional é entre companhias. E por isso é ótimo ter essas multinacionais aqui.

Folha - Mas as importações de matérias-primas e equipamentos dessas empresas não anulam esse ganho?
Giannetti -
Eu não compartilho desse viés antiimportação. Para que a economia seja competitiva, a exportação e a importação têm de funcionar de forma racional. Não é com restrições e impostos de importação que vamos criar uma economia competitiva. Se quisermos ter produtos competitivos, com alto valor agregado, precisamos importar componentes. Não existe país no mundo totalmente auto-suficiente.
Veja o caso da Embraer (hoje a maior exportadora individual do país), que importa grandes quantidades de componentes. É assim mesmo. Não dá para pensar que tudo vai estar disponível na economia brasileira antes de o produto a ser exportado aparecer.

Folha - O sr. citou a Embraer, que é um caso de sucesso, onde o governo deliberadamente adotou uma política de investimentos. Mas parece que não há uma política geral orientada para outras áreas. Não está tudo meio descoordenado?
Giannetti -
Não acho. O que está havendo é um processo de transformação da indústria brasileira. Há trocas de comando de brasileiros para estrangeiros, setores que estão desaparecendo e outros que estão crescendo. É um processo natural. A indústria de telefonia e computadores, por exemplo, está explodindo.

Folha - Mas, de novo, é uma indústria que tem um alto índice de importações.
Giannetti -
Tem. Mas também tem um alto valor agregado. No momento em que tivermos escala nessas exportações, o componente nacional vai começar a aparecer. Quando o produto final dá certo, a cadeia produtiva aparece.

Às vezes, ao proteger indústria ineficiente, você acaba causando uma perda de produtividade na cadeia e isso resulta em uma perda de emprego muito maior

Folha - A meta então é estimular áreas de alto valor agregado para que os seus fornecedores nacionais apareçam? É isso?
Giannetti -
Com certeza. E caberá a nós induzir esse processo para que ele se torne rápido.

Folha - Onde isso é mais fácil hoje?
Giannetti -
Em todos os setores de alto valor agregado. Aeronáutico, eletroeletrônico, telecomunicações, no setor automotivo. Todos esses setores têm potenciais fantásticos. Vamos estudar toda a cadeia produtiva para saber como podemos reduzir custos logísticos, financeiros, como capitalizar as empresas.
Precisamos dar às empresas no Brasil condições isonômicas. Precisamos defender que o capital nacional tenha isonomia competitiva. E não defender e dar proteção à ineficiência. Pois aí estaremos prejudicando o conjunto.

Folha - E o ""neonacionalismo"? O que o sr. acha disso?
Giannetti -
Existe uma diferença entre patriotismo e nacionalismo. Patriotismo é quando você defende o seu país, a sua sociedade, as suas empresas e a sua economia. Nacionalismo, no sentido que está sendo dado, é ser contra o estrangeiro. E, no mundo atual, isso é uma coisa retrógrada. É coisa dos anos 70, é isolacionismo, terceiro-mundismo.
O mundo está cada vez mais integrado. É inexorável. Isolar o Brasil seria um erro histórico e não podemos jamais retornar a esse passado. Isso acabou.


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