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VINICIUS TORRES FREIRE
Chove dinheiro de imposto
Resultado da arrecadação federal foi tão forte que perdas com a CPMF parecem ter sido mesmo pequenas
O GOVERNO andava parecendo
mesmo bastante otimista em
relação à quantidade de recursos com que poderia contar em
2008. A explicação apareceu ontem,
com um excepcional resultado da
arrecadação federal de impostos.
O sinal de tranqüilidade não havia
aparecido apenas no projeto de reforma tributária, o qual, a princípio e
sem checagem de números e novas
alíquotas (que o governo não apresentou), parecia mão aberta em relação a descontos fiscais.
O governo parecia também muito
mais tranqüilo do que o habitual em
relação à tenda de mágicas, milagres
e embromações da comissão de Orçamento do Congresso, que utilizou
indicadores econômicos bem favoráveis e uma taxa de inflação inflada
a fim de encontrar recursos de sobra, bastantes até para não cortar
emendas parlamentares.
Mesmo contando com apenas um
restinho de CPMF, cerca de um
quarto do que arrecadaria se o imposto estivesse vivo, o ritmo de arrecadação do governo continuou forte. Nos 12 meses encerrados em janeiro de 2008, a receita cresceu
11,93% em termos reais (se corrigida
pelo IPCA). Nos 12 meses encerrados em dezembro de 2007, o ritmo
do aumento da arrecadação era de
11,09%. Faz um ano, o ritmo de alta
da arrecadação era quase a metade.
A receita de "contribuições" cresceu ainda a 9,65% ao ano, queda pequena em relação ao ritmo de 10%
do ano encerrado em dezembro e
ainda o triplo do ritmo de um ano
atrás. A rubrica contribuições engloba CPMF, Cofins, PIS/Pasep e Cide.
Embora seja uma temeridade projetar receitas para um ano que mal
começa, sujeito a chuvas e trovoadas
econômicas mundiais, e considerada a tendência de incremento de arrecadação de um ano, não é improvável que a receita de contribuições
do governo federal acabe por ser
apenas R$ 20 bilhões inferior àquilo
que o governo arrecadaria caso a
CPMF tivesse sido mantida. Trata-se de resultado muito melhor do que
o imaginado por muita gente, este
colunista inclusive. E ponha-se
"muito melhor" nisso: MUITO.
Quanto aos demais impostos, o resultado foi ainda melhor. O aumento do IOF não foi mesmo muito relevante e ao longo do ano não deverá
ter muito impacto, a julgar por janeiro, mas ainda assim cobrir um
pouco mais do rombo da CPMF.
Mas o Imposto de Renda, o segundo
maior depois da batelada de contribuições, cresceu ao ritmo de mais de
16% em 12 meses (que era de uns
13% em dezembro). A terceira maior
fonte de arrecadação federal, a previdenciária, continua forte e sacudida, subindo a mais de 11% ao ano.
O que se passa? Bem, o país está
crescendo e, parece, com aumento
forte de formalização de empregos e
empresas. Está importando mais.
Em parte, parte menor, o dinheiro
da CPMF que deixou de ser cobrado
reapareceu como consumo em algum outro escaninho da economia.
Enfim, se o ano continuar na mesma toada em que começou, será até
possível para o governo continuar
gastando no mesmo passo de 2007
sem reduzir superávit primário e o
abatimento da dívida. Mas continuar na mesma toada é uma tolice,
decerto -o mesmo governo que festeja o "fim da dívida externa" deveria se preocupar com a dívida interna, enorme e muito mais cara.
vinit@uol.com.br
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