São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Escândalo de sonegação europeu se espalha

Ao menos 13 países abrem investigação sobre investidores citados na lista de contas secretas de um banco de Liechtenstein

Estopim foi CD com dados furtados e vendidos ao serviço secreto da Alemanha, onde escândalo derrubou presidente dos Correios

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O que já vinha sendo considerado o maior escândalo de sonegação fiscal da história da Alemanha ultrapassou as fronteiras européias e ameaça ganhar dimensões ainda maiores. Pelo menos outros 13 países decidiram abrir investigações sobre uma lista de contas secretas do principal banco de Liechtenstein, um minúsculo principado localizado entre a Áustria e a Suíça conhecido como paraíso fiscal.
O estopim do escândalo foi um CD comprado por 5 milhões de euros pelo serviço secreto alemão, contendo informações sigilosas de 1.400 clientes do banco LGT, que é controlado pela família real de Liechtenstein. Segundo o banco, os dados vendidos à Alemanha haviam sido roubados por um cidadão do principado, Heinrich Kieber, que trabalhou na instituição entre os anos de 1999 e 2002.
As informações derrubaram o presidente dos Correios alemão, Klaus Zumwinkel, que renunciou ao cargo depois que sua casa sofreu uma batida policial. Zumwinkel é acusado de ter usado uma fundação de Liechtenstein para sonegar mais de 1 milhão.
Ontem as autoridades alemãs informaram que 195 pessoas já confessaram ter burlaram o fisco desde que as investigações tiveram início, duas semanas atrás. As operações incluíram batidas em residências e escritórios de 150 pessoas. Segundo o procurador Hans-Ulrich Krueck, 91 delas concordaram em pagar 27,8 milhões de euros. Outros 104 sonegadores citados na lista se entregaram voluntariamente.
O caso se ampliou para além das fronteiras alemãs quando ficou claro que o CD continha informações de correntistas de outros países. Ontem os EUA anunciaram que cem cidadãos americanos suspeitos de manter contas secretas em Liechtenstein com dinheiro sonegado estão na mira da Justiça.
Reino Unido, França, Irlanda, Holanda, Noruega e Suécia também abriram investigações. De acordo com as autoridades suecas, outros cinco países seguiram o mesmo caminho. "A pressão está crescendo em todos os lados", disse Sylvia Schenk, presidente da organização Transparência Internacional da Alemanha. "As expectativas do público de que esses casos sejam investigados e punidos são enormes."
Procurada pela Folha, a Embaixada do Brasil em Berna, cuja jurisdição também cobre Lichtenstein, afirmou não ter recebido nenhuma informação sobre cidadãos do país com contas no principado. Segundo um diplomata, são raros os casos de pedidos da Justiça brasileira sobre contas suspeitas no principado, o que acontece com alguma freqüência na Suíça, sem muitos resultados.
A compra de dados sigilosos também parece ter rompido a fronteira alemã. De acordo com o jornal "Financial Times", o governo britânico pagou 133 mil por uma lista com cerca de cem cidadãos dos países que teriam sonegado impostos com a ajuda do liberal sistema bancário de Lichtenstein, um principado com apenas 35 mil habitantes em que a evasão fiscal não é crime.
O caso colocou enorme pressão sobre a família real do pequeno território, com a Alemanha ameaçando barrar a entrada do principado no Acordo Shengen, que prevê a livre circulação de pessoas no espaço europeu. Para a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), Liechtenstein é um dos três últimos integrantes da lista negra de "paraísos fiscais não cooperativos", ao lado de Andorra e Mônaco.


Com agências internacionais


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