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Escândalo de sonegação europeu se espalha
Ao menos 13 países abrem investigação sobre investidores citados na lista de contas secretas de um banco de Liechtenstein
Estopim foi CD com dados furtados e vendidos ao serviço secreto da Alemanha, onde escândalo derrubou presidente dos Correios
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O que já vinha sendo considerado o maior escândalo de
sonegação fiscal da história da
Alemanha ultrapassou as fronteiras européias e ameaça ganhar dimensões ainda maiores.
Pelo menos outros 13 países decidiram abrir investigações sobre uma lista de contas secretas
do principal banco de Liechtenstein, um minúsculo principado localizado entre a Áustria
e a Suíça conhecido como paraíso fiscal.
O estopim do escândalo foi
um CD comprado por 5 milhões de euros pelo serviço secreto alemão, contendo informações sigilosas de 1.400 clientes do banco LGT, que é controlado pela família real de
Liechtenstein. Segundo o banco, os dados vendidos à Alemanha haviam sido roubados por
um cidadão do principado,
Heinrich Kieber, que trabalhou na instituição entre os
anos de 1999 e 2002.
As informações derrubaram
o presidente dos Correios alemão, Klaus Zumwinkel, que renunciou ao cargo depois que
sua casa sofreu uma batida policial. Zumwinkel é acusado de
ter usado uma fundação de
Liechtenstein para sonegar
mais de 1 milhão.
Ontem as autoridades alemãs informaram que 195 pessoas já confessaram ter burlaram o fisco desde que as investigações tiveram início, duas
semanas atrás. As operações
incluíram batidas em residências e escritórios de 150 pessoas. Segundo o procurador
Hans-Ulrich Krueck, 91 delas
concordaram em pagar 27,8
milhões de euros. Outros 104
sonegadores citados na lista se
entregaram voluntariamente.
O caso se ampliou para além
das fronteiras alemãs quando
ficou claro que o CD continha
informações de correntistas de
outros países. Ontem os EUA
anunciaram que cem cidadãos
americanos suspeitos de manter contas secretas em Liechtenstein com dinheiro sonegado estão na mira da Justiça.
Reino Unido, França, Irlanda, Holanda, Noruega e Suécia
também abriram investigações. De acordo com as autoridades suecas, outros cinco países seguiram o mesmo caminho. "A pressão está crescendo
em todos os lados", disse Sylvia
Schenk, presidente da organização Transparência Internacional da Alemanha. "As expectativas do público de que esses
casos sejam investigados e punidos são enormes."
Procurada pela Folha, a Embaixada do Brasil em Berna, cuja jurisdição também cobre
Lichtenstein, afirmou não ter
recebido nenhuma informação
sobre cidadãos do país com
contas no principado. Segundo
um diplomata, são raros os casos de pedidos da Justiça brasileira sobre contas suspeitas no
principado, o que acontece
com alguma freqüência na Suíça, sem muitos resultados.
A compra de dados sigilosos
também parece ter rompido a
fronteira alemã. De acordo
com o jornal "Financial Times", o governo britânico pagou 133 mil por uma lista
com cerca de cem cidadãos dos
países que teriam sonegado
impostos com a ajuda do liberal sistema bancário de Lichtenstein, um principado com
apenas 35 mil habitantes em
que a evasão fiscal não é crime.
O caso colocou enorme pressão sobre a família real do pequeno território, com a Alemanha ameaçando barrar a entrada do principado no Acordo
Shengen, que prevê a livre circulação de pessoas no espaço
europeu. Para a OCDE (Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico),
Liechtenstein é um dos três últimos integrantes da lista negra
de "paraísos fiscais não cooperativos", ao lado de Andorra e
Mônaco.
Com agências internacionais
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