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Comissão pune ex-conselheiros da Sadia
CVM conclui que executivos usaram informação privilegiada em oferta de compra da Perdigão em 2006
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) puniu ontem o ex-conselheiro da Sadia Romano
Ancelmo Fontana Filho, sobrinho do fundador do grupo (Atílio Fontana) e o ex-diretor de
Finanças e de Relações com Investidores da empresa Luiz
Gonzaga Murat Júnior por uso
de informações privilegiadas
sobre a oferta de compra da
Perdigão havida em 2006.
Os dois foram inabilitados,
pela CVM, para exercerem cargos de administração e participarem de conselhos de companhias abertas no Brasil por cinco anos. A punição é passível de
recursos junto ao Conselho de
Recursos do Sistema Financeiro Nacional.
Em 17 de julho de 2006, a Sadia fez oferta pública de compra do controle acionário de
sua concorrente Perdigão, que
foi rejeitada, no dia seguinte,
pelos fundos de pensão acionistas majoritários.
A empresa voltou à carga e
aumentou o valor da oferta, no
dia 20 de julho, a qual também
foi recusada. Diante da segunda
recusa, a Sadia comunicou ao
mercado, em 21 de julho, que
desistia do intento.
Enquanto a Sadia estudava
internamente a investida sobre
a Perdigão, os dois compraram
ADRs (American Depositary
Receipts) da Perdigão no mercado financeiro norte-americano.
Eles já haviam sido punidos
pela Justiça dos EUA, pelo
mesmo motivo, após investigação da SEC (correspondente
norte-americana da CVM). No
ano passado, tiveram que devolver o lucro obtido com as
operações e ainda sofreram
multa de 100% sobre o lucro
apurado. Também nos EUA foram inabilitados para dirigir
empresas abertas.
O conselheiro e o diretor foram julgados em separado pela
CVM. A proposta de inabilitação por cinco anos foi aprovada
por unanimidade, em ambos os
casos.
O relatório do processo do
ex-conselheiro diz que, entre 5
e 12 de julho de 2006 -portanto, pouco antes da divulgação
da oferta da Sadia-, ele ordenou a compra de 18.000 ADRs
da Perdigão, pelo valor de US$
344,1 mil. Os títulos foram revendidos por US$ 483,2 mil no
mesmo dia em que a Sadia informou ter desistido do negócio. Houve, portanto, um ganho
de US$ 139,1 mil.
O ex-diretor de Finanças
Luiz Gonzaga Murat Júnior
comprou 15.300 ADRs em 7 de
abril. Segundo a CVM, naquele
dia, ele havia discutido com o
ABN Amro a possibilidade de
compra da Perdigão pela Sadia.
Cerca de duas semanas antes
de a oferta ser divulgada ao
mercado, comprou mais
30.600 ADRs.
A exemplo do ex-conselheiro, Murat Júnior vendeu parte
de suas ADRs (15.300) no dia
em que a Sadia comunicou haver desistido do negócio. Segundo a CVM, o lucro dele com
as operações foi de US$ 176,65
mil na ocasião.
Defesa
Os advogados dos acusados
fizeram defesa verbal. Uma das
alegações apresentadas foi de
que eles já haviam sido punidos
nos Estados Unidos e que a legislação não permite dupla punição pelo mesmo fato. Também alegaram que não houve
dano a investidores no Brasil.
O colegiado diretor da CVM
considerou que a inabilitação
por cinco anos complementou
a punição havida nos EUA e que
houve dano à Sadia e, indiretamente, a seus acionistas.
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