São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2006

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FOLHAINVEST

Captação de investimentos, que foi negativa no começo de 2005, já é de R$ 11,07 bi neste ano; DI acumula R$ 1,69 bi

Multimercado cresce com apetite por risco

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O investidor brasileiro tem demonstrado estar menos temeroso de correr riscos. E o maior beneficiado disso têm sido os fundos multimercados.
Neste ano, esse tipo de investimento está com captação líquida (diferença entre o aplicado e o resgatado) positiva de R$ 11,07 bilhões. No mesmo período de 2005, os investidores mais sacaram que aplicaram nesses fundos, o que gerou captação negativa de R$ 20,57 bilhões.
Os fundos DI -que carregam os títulos que pagam juros, acompanhando de perto o sobe-e-desce da taxa Selic- têm captação líquida de apenas R$ 1,69 bilhão em 2006.
Os dados pertencem ao site Fortuna, especializado no mercado de fundos de investimento.
Os multimercados dão a seus gestores flexibilidade para investir em ativos de diferentes segmentos -ações, renda fixa, câmbio, mercado futuro, entre outros-, em busca de rentabilidades mais robustas.
"O ano de 2004 e o primeiro semestre de 2005 representaram um período ruim para os multimercados. Já nos últimos seis meses temos visto a recuperação do segmento, que tem dado boa rentabilidade", afirma Rafaela Vitória, superintendente de gestão de fortunas ("wealth management") do BankBoston.
As elevadíssimas taxas de juros brasileiros tinham tirado um pouco da atratividade dos multimercados. Mas o atual processo de queda da taxa básica (a Selic, que está em 16,5%) reverteu esse panorama, fazendo com que fundos mais tradicionais, como os de renda fixa e DI, perdessem um pouco de sua força.
Segundo pesquisa semanal do Banco Central, as instituições financeiras apostam que a Selic estará, na média, em 14,5% no fim do ano. Ou seja, os fundos DI tendem a pagar taxas menores em dezembro do que oferecem atualmente.
Em termos de patrimônio líquido, os multimercados são hoje a terceira maior categoria do mercado, ficando atrás apenas de DI e renda fixa. O patrimônio do segmento totaliza cerca de R$ 143 bilhões. O mercado de fundos como um todo soma hoje patrimônio de R$ 780 bilhões, segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).

Rentabilidade em alta
No acumulado do ano, os multimercados aparecem como uma boa opção. Na média, esse segmento tem valorização acumulada de 5,61% -contra 3,67% da renda fixa e 3,48% do DI.
Mas há fundos dentro do setor com rentabilidade muito maior. O Oceania FI Multimercado, do Citibank, por exemplo, tem rentabilidade de 38,17% em 2006, segundo o Fortuna.
"A resposta do investidor brasileiro costuma ser relativa ao passado. Assim, a recente boa rentabilidade dos multimercados acaba por atrair mais recursos para esses fundos", afirma Alexandre Póvoa, diretor responsável pela Modal Asset Management.
"O primeiro estágio de um investidor conservador, quando começa a se tornar mais agressivo, é ir para um multimercado. Somente depois vai para a renda variável [ações], que representa maior risco", diz Póvoa.
Apesar da expressiva valorização da Bolsa de Valores de São Paulo neste ano, a captação dos fundos de ações ainda é relativamente tímida. A Bovespa -parâmetro para os fundos de ações- registra, neste ano, alta acumulada de 12,32%.
Em 2006, os fundos de ações têm captação positiva de R$ 1,59 bilhão -o que representa cerca de 14% do valor captado pelos multimercados.
Vitória diz que costuma aconselhar os investidores a manter uma "parcela das economias nos multimercados" e não ficar sacando e reaplicando toda vez que as taxas de rentabilidade subirem ou caírem.
Para Marcelo D'Agosto, sócio-diretor do site Fortuna, "os gestores foram habilidosos em antecipar a alta da Bolsa e a queda dos juros futuros". Com isso, conseguiram fazer com que muitos fundos multimercados dessem rentabilidade expressiva nos últimos meses.

Riscos
Por carregarem ativos de diferentes segmentos, os multimercados têm riscos bem maiores de altas e baixas do que aplicações como os fundos DI.
Se a Bolsa cair consistentemente, ou se a rota dos juros futuros se alterar de forma imprevista, os multimercados podem rapidamente perder rentabilidade.


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