São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2006

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PÚBLICO X PRIVADO

Presidente do órgão contratou três sobrinhos para a empresa, que está sob administração judicial desde 2003

Conselho da Bombril é acusado de nepotismo

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Sob administração judicial desde julho de 2003, a Bombril -que ainda tem marcas líderes de mercado, como o sapólio Radium e a esponja de aço Bombril- passou a sofrer os vícios da administração pública. Há uma guerra interna no conselho de administração, cujo presidente, Valmir Camilo, é acusado de nepotismo.
A criação de uma nova diretoria nas últimas semanas agravou a crise política na empresa. Foi criada a diretoria de relações com instituições financeiras, que funcionará paralelamente à diretoria financeira. Para o cargo (que corresponde a um salário mensal de R$ 39 mil) foi escolhido o funcionário aposentado do Banco do Brasil Élcio Bueno, conselheiro da Anabb (Associação Nacional de Funcionários do BB), que é presidida por Valmir Camilo desde 96.
A ex-mulher de Camilo, Denise Esper de Freitas, foi contratada como gerente de benefícios de RH -salário de R$ 11.328 mensais. Demitiu-se em janeiro, quando a informação circulou internamente na empresa. Ele contratou ainda três sobrinhos, com salários entre R$ 1.877 e R$ 3.686 mensais, que permanecem nos cargos.
O secretário-executivo dos conselhos fiscal e de administração, Reinaldo Abud, é cunhado da ex-mulher de Camilo. Desde janeiro deste ano, Abud acumula o cargo na Bombril (salário de R$ 20 mil) com a função de ouvidor da prefeitura de Santo André (SP).
O jornal "Valor" divulgou, no dia 17, a lista de parentes e correligionários políticos de Camilo na Bombril. Na ocasião, eram nove pessoas. A contratação de Élcio Bueno ampliou a lista para dez.
Desde que ele assumiu a presidência do conselho de administração, em novembro de 2004, ex-funcionários do BB vêm ocupado cargos de destaque na empresa.
A gerência executiva de RH (criada pela administração judicial), é ocupada pelo ex-diretor da Anabb Luiz Antonio Careli. O salário é de R$ 20 mil mensais.
Dois dos seis membros do conselho de administração da Bombril (onde o salário mensal é de R$ 16 mil) foram indicados por Camilo: o ex-presidente do Banco Popular do Brasil Ivan Guimarães, e Isaac Silva.
Guimarães foi contratado em junho do ano passado, dois meses depois de ter sido afastado da presidência do Banco Popular, do sistema Banco do Brasil. Amigo do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, ele foi posteriormente envolvido no episódio do mensalão.
Silva é casado com a diretora de planejamento da Previ (fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil), Cecília Garcez, que também chegou à posição pelas mãos de Camilo. Ela também é ex-diretora da Anabb.

Previ
A guerra na Bombril já virou combustível para a próxima eleição na Previ (maior fundo de pensão fechado do país, com patrimônio de R$ 74,7 bilhões), que tem 30% do capital da Bombril, em ações sem direito a voto, e só colheu prejuízos com o negócio até agora. Camilo é também conselheiro da Previ, onde exerce forte influência política.
Em maio, haverá eleição para uma vaga nos conselhos fiscal e deliberativo da Previ, e as acusações que vazam da guerra interna da Bombril podem influenciar a votação. Circulam também acusações de nepotismo na Anabb. Uma delas é que o piloto de kart Guilherme Camilo, filho de Valmir, foi patrocinado pela corretora de seguros Mastercor, que presta serviços à Anabb.
No âmbito da Bombril, a guerra está polarizada entre Camilo e o ex-presidente-executivo da empresa José Edson Bacelar Júnior, afastado do cargo em janeiro deste ano. Bacelar continua membro do conselho de administração.

Acionista
A criação de uma segunda diretoria para a área financeira e a contratação de parentes de Camilo foram criticadas pelo empresário Ronaldo Sampaio Ferreira, 59, ex-acionista, que tenta retomar a empresa desde que o grupo italiano Cirio Finanziaria, controlador da holding Bombril, entrou em colapso na Itália.
Sérgio Cragnotti comprou a participação de Ferreira na Bombril, em 1995, e ficou devendo R$ 715 milhões, segundo cálculo da Justiça de São Paulo. A garantia de pagamento eram as ações da Bombril S.A. Em 2003, o empresário pediu a penhora das ações e a intervenção judicial na Bombril. Desde 2004, sua relação com a administração judicial é de conflito.
O empresário comparou a Bombril ao Titanic afundando. "O barco está à deriva, e a administração judicial não sai de lá. A gestão é calamitosa, com brigas internas, e, agora, há a acusação de nepotismo. Os gestores não se entendem, mas esse é o destino de uma empresa sem dono. Não posso mais dizer que a Bombril seja uma empresa privada, com tantos funcionários públicos lá."
Em 2004, Sampaio chegou a fazer um acordo com a Justiça italiana para compartilharem a administração da Bombril. O acordo foi inviabilizado porque o ex-advogado dele, Augusto Coelho, conseguiu manter as ações bloqueadas para garantir o pagamento de seus honorários, no valor de R$ 80 milhões.


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