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PÚBLICO X PRIVADO
Presidente do órgão contratou três sobrinhos para a empresa, que está sob administração judicial desde 2003
Conselho da Bombril é acusado de nepotismo
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Sob administração judicial desde julho de 2003, a Bombril -que
ainda tem marcas líderes de mercado, como o sapólio Radium e a
esponja de aço Bombril- passou
a sofrer os vícios da administração pública. Há uma guerra interna no conselho de administração,
cujo presidente, Valmir Camilo, é
acusado de nepotismo.
A criação de uma nova diretoria
nas últimas semanas agravou a
crise política na empresa. Foi criada a diretoria de relações com instituições financeiras, que funcionará paralelamente à diretoria financeira. Para o cargo (que corresponde a um salário mensal de
R$ 39 mil) foi escolhido o funcionário aposentado do Banco do
Brasil Élcio Bueno, conselheiro da
Anabb (Associação Nacional de
Funcionários do BB), que é presidida por Valmir Camilo desde 96.
A ex-mulher de Camilo, Denise
Esper de Freitas, foi contratada
como gerente de benefícios de RH
-salário de R$ 11.328 mensais.
Demitiu-se em janeiro, quando a
informação circulou internamente na empresa. Ele contratou ainda três sobrinhos, com salários
entre R$ 1.877 e R$ 3.686 mensais,
que permanecem nos cargos.
O secretário-executivo dos conselhos fiscal e de administração,
Reinaldo Abud, é cunhado da ex-mulher de Camilo. Desde janeiro
deste ano, Abud acumula o cargo
na Bombril (salário de R$ 20 mil)
com a função de ouvidor da prefeitura de Santo André (SP).
O jornal "Valor" divulgou, no
dia 17, a lista de parentes e correligionários políticos de Camilo na
Bombril. Na ocasião, eram nove
pessoas. A contratação de Élcio
Bueno ampliou a lista para dez.
Desde que ele assumiu a presidência do conselho de administração, em novembro de 2004, ex-funcionários do BB vêm ocupado
cargos de destaque na empresa.
A gerência executiva de RH
(criada pela administração judicial), é ocupada pelo ex-diretor da
Anabb Luiz Antonio Careli. O salário é de R$ 20 mil mensais.
Dois dos seis membros do conselho de administração da Bombril (onde o salário mensal é de R$
16 mil) foram indicados por Camilo: o ex-presidente do Banco
Popular do Brasil Ivan Guimarães, e Isaac Silva.
Guimarães foi contratado em
junho do ano passado, dois meses
depois de ter sido afastado da presidência do Banco Popular, do
sistema Banco do Brasil. Amigo
do ex-tesoureiro do PT Delúbio
Soares, ele foi posteriormente envolvido no episódio do mensalão.
Silva é casado com a diretora de
planejamento da Previ (fundo de
pensão dos empregados do Banco
do Brasil), Cecília Garcez, que
também chegou à posição pelas
mãos de Camilo. Ela também é
ex-diretora da Anabb.
Previ
A guerra na Bombril já virou
combustível para a próxima eleição na Previ (maior fundo de pensão fechado do país, com patrimônio de R$ 74,7 bilhões), que
tem 30% do capital da Bombril,
em ações sem direito a voto, e só
colheu prejuízos com o negócio
até agora. Camilo é também conselheiro da Previ, onde exerce forte influência política.
Em maio, haverá eleição para
uma vaga nos conselhos fiscal e
deliberativo da Previ, e as acusações que vazam da guerra interna
da Bombril podem influenciar a
votação. Circulam também acusações de nepotismo na Anabb.
Uma delas é que o piloto de kart
Guilherme Camilo, filho de Valmir, foi patrocinado pela corretora de seguros Mastercor, que
presta serviços à Anabb.
No âmbito da Bombril, a guerra
está polarizada entre Camilo e o
ex-presidente-executivo da empresa José Edson Bacelar Júnior,
afastado do cargo em janeiro deste ano. Bacelar continua membro
do conselho de administração.
Acionista
A criação de uma segunda diretoria para a área financeira e a
contratação de parentes de Camilo foram criticadas pelo empresário Ronaldo Sampaio Ferreira, 59,
ex-acionista, que tenta retomar a
empresa desde que o grupo italiano Cirio Finanziaria, controlador
da holding Bombril, entrou em
colapso na Itália.
Sérgio Cragnotti comprou a
participação de Ferreira na Bombril, em 1995, e ficou devendo R$
715 milhões, segundo cálculo da
Justiça de São Paulo. A garantia de
pagamento eram as ações da
Bombril S.A. Em 2003, o empresário pediu a penhora das ações e
a intervenção judicial na Bombril.
Desde 2004, sua relação com a administração judicial é de conflito.
O empresário comparou a
Bombril ao Titanic afundando.
"O barco está à deriva, e a administração judicial não sai de lá. A
gestão é calamitosa, com brigas
internas, e, agora, há a acusação
de nepotismo. Os gestores não se
entendem, mas esse é o destino de
uma empresa sem dono. Não
posso mais dizer que a Bombril
seja uma empresa privada, com
tantos funcionários públicos lá."
Em 2004, Sampaio chegou a fazer um acordo com a Justiça italiana para compartilharem a administração da Bombril. O acordo foi inviabilizado porque o ex-advogado dele, Augusto Coelho,
conseguiu manter as ações bloqueadas para garantir o pagamento de seus honorários, no valor de R$ 80 milhões.
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