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Manaus dá R$ 1 bi a Coca, Pepsi e AmBev
Companhias recebem benefícios fiscais previstos em lei da zona franca, mas criam poucos empregos na região
Isenção recebida em 2006 corresponde a cerca de um terço do faturamento total
das três companhias na Zona Franca de Manaus
Alberto César Araújo/Folha Imagem
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Unidade da Recofarma, fábrica de concentrados instalada desde 1989 na Zona Franca de Manaus e de propriedade da Coca-Cola |
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com 236 empregos diretos,
três fabricantes de concentrados de bebidas na Zona Franca
de Manaus (ZFM) -a Recofarma (Coca-Cola), a Pepsi-Cola e
a Arosuco (AmBev)- somaram
faturamento de R$ 3,27 bilhões
no ano passado. Instaladas em
região que concede benefícios
fiscais, essas três companhias
economizaram, juntas, R$ 1,16
bilhão no pagamento de impostos em 2006, o que corresponde a praticamente um terço do
total faturado. Nos últimos três
anos, essa cifra sobe para R$
3,57 bilhões -42,4% da receita
das empresas no período.
Os cálculos foram feitos por
economistas contratados pela
Afrebras (associação que reúne
105 fabricantes regionais de refrigerantes no país), com base
no faturamento das empresas
registrado pela Suframa (Superintendência da Zona Franca
de Manaus) e na política de incentivos fiscais da região. A Folha submeteu os dados a uma
consultoria especializada em
assuntos tributários, que confirmou as informações.
Proporção
A proporção entre benefícios
fiscais concedidos e empregos
criados pelas empresas instaladas na ZFM causa polêmica entre tributaristas ouvidos pela
Folha. "Vale a pena o país abrir
mão de uma arrecadação de bilhões de reais em nome da criação de tão poucos empregos?",
questiona Clovis Panzarini,
consultor tributário.
A Moto Honda é a indústria
que teve o maior faturamento
na ZFM, de R$ 5,9 bilhões, em
2006. Também é a líder no número de funcionários -emprega cerca de 5.700 pessoas-, segundo dados da Suframa. A renúncia fiscal da Moto Honda
em 2006, nos cálculos dos economistas, foi de R$ 1,47 bilhão.
"Goste ou não goste, a renúncia fiscal proporcionada pela
Zona Franca de Manaus está
dentro da lei, situação que deve
se estender pelo menos até
2023. Mas é fato que essa é a
única zona franca voltada para
o mercado interno, e não para o
externo. Isso é muito ruim, pois
causa distorções econômicas",
diz Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal.
Recentemente, a sul-coreana
LG foi criticada por concorrentes porque teria mais benefício
de ICMS do que as outras que
estão lá instaladas em razão de
uma alteração na legislação de
incentivos em 2003.
O debate entre indústrias
com e sem benefícios fiscais
que concorrem num mesmo
setor se intensificou na semana
passada. A Afrebras entregará
ao secretário da Receita, Jorge
Rachid, até o fim do mês, estudo para mostrar a economia de
impostos de três fabricantes de
concentrados (Coca-Cola, Pepsi-Cola e Arosuco) instaladas
em Manaus. Essa economia levaria a concorrência desleal.
A renúncia fiscal concedida
às empresas localizadas na
ZFM está prevista em legislação para atrair desenvolvimento e empregos para a região.
Naquela área, as indústrias têm
os seguintes benefícios fiscais:
1) não pagam IPI -mas, apesar disso, transmitem créditos
do imposto para as indústrias
que compram seus produtos
em outros Estados, como se as
operações fossem tributadas;
2) têm desconto de 90,25%
no valor do ICMS pago ao Estado do Amazonas e, ainda assim,
proporcionam 100% do crédito
do ICMS às indústrias que
compram seus produtos em
outros Estados;
3) têm redução no Imposto
de Importação, proporcional
ao grau de nacionalização do
processo produtivo, até o limite
de 88%;
4) têm redução de 75% no
Imposto de Renda. Há ainda
benefícios no PIS/Cofins.
"Considerando a renúncia
fiscal das três fabricantes de refrigerantes em Manaus, de R$
1,16 bilhão em 2006, é possível
afirmar que cada emprego dessas três fábricas custou R$ 4,9
milhões para a sociedade", afirma Panzarini.
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