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VINICIUS TORRES FREIRE
A USP é quase linda, mas é feia
Universidade se torna mais produtiva e custa menos que escolas privadas boas, mas é lerda e não presta contas
A USP PERDE alguns professores
para escolas privadas que pagam bem. Não se trata de vaga
nem de voga, mas o caso deixou de
ser raro. A maioria não deixa a universidade devido à infra-estrutura
de pesquisa, ao prestígio ou pelo ambiente intelectual. Ou a tudo isso e
mais os complementos de renda
oferecidos pelo trabalho em fundações ou por encomendas privadas.
A USP ainda não perde a maioria
dos melhores estudantes de São
Paulo, mas os divide com a Unicamp
e enfrenta a concorrência de boas
escolas especializadas de economia,
matemática, engenharia. Quantos
estudantes ainda prefeririam a USP
se seus cursos fossem pagos?
Pesquisa, ambiente intelectual e a
maioria dos melhores estudantes
ainda fazem a USP. E por quais outros critérios a universidade deveria
ser julgada? Pelo seu futuro, talvez;
pela produtividade, decerto, embora
a medida da eficiência universitária
seja um problema (que nem por isso
deve ser tratado com a nonchalance
do faz-de-conta que suscitam os relatórios burocráticos de produção).
Ao menos desde os anos 90, a USP
torna-se mais produtiva. Há mais
estudantes por professor, embora
uspianos questionem a qualidade da
formação de classes de uma centena
de alunos. O número de publicações
científicas, as de padrão internacional, por docente é 51% maior que em
2000; há mais doutores a dar aulas.
A USP é cara? Faça-se uma conta
tonta, dividir o orçamento pelo total
de alunos de graduação e pós: dá uns
R$ 2.300 mensais por cabeça. Boas
escolas privadas de economia e direito de São Paulo, sob supergerentes ou "gente do mercado", cobram
uns R$ 2.000 mensais. Mas tais escolas nem de longe bancam a massa
de laboratórios, pesquisas, museus,
hospitais e serviços da USP. Ou seu
grave gasto com aposentados, que
levou 19% da despesa total de 2006.
Comparação global? Harvard gasta R$ 26 mil mensais por aluno. Mas
quem quer brincar de numeralha terá de fazer algo mais sofisticado que
continhas de privatistas raivosos ignaros. Por falar nisso, cabe porém
discutir se os uspianos formados deveriam contribuir, na medida de sua
renda, para a universidade (sim, pagar o curso ex post). Isso é solidariedade social e intergeracional, não
"mercantilização do ensino".
Mas a USP é lerda. Sua burocracia
e seu sistema de decisão são ineptos
em inovação institucional. A USP
não oferece novos formatos de cursos num mundo cambiante. Pouco
reage a cursos decadentes ou que jamais se firmaram. É lerda em criar
patentes, embora não deva se tornar
um balcão de soluções para empresas e programas sociais, como pregam mercadistas ou esquerdóides.
A USP porém não publica periodicamente uma carta de objetivos e
compromissos que possam ser verificados pelo público. Não demonstra
a qualidade de seus formados. Não
presta contas, afora a contabilidade
comezinha. Tende a soçobrar sob o
peso dos aposentados, sobre o que se
finge de morta. Reage a cobranças
com passividade ou por meio da militância corporativista e retrógrada.
O debate suscitado pelos decretos
Serra é medíocre. É pífia a crítica à
USP de um setor privado que mal investe em ciência. Governos ora nada
têm a dizer à universidade. Sim, tanto zunzum e tudo ficará na mesma.
vinit@uol.com.br
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