São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

Risco BB = libor + 0,6 ponto

O título pode parecer alguma sigla cabalística. Mas quer dizer que em pleno tiroteio de mercado, com o risco Brasil sendo superior a 1.600 pontos (isto é, 16 pontos percentuais acima da taxa básica norte-americana), o Banco do Brasil completou ontem uma emissão com 60 pontos acima da libor. Ou seja, libor mais 0,6 ponto percentual.
Em pleno tiroteio de mercado, com o risco país disparando, foram colocados US$ 300 milhões, a esse custo. Se o investidor fizesse um "swap" com renda fixa, estaria recebendo 5% ao ano.
O custo final da operação ficou em 7,2%, abaixo dos 7,9% da última operação, fechada em plena renúncia do presidente argentino De La Rúa. Nesse custo se incluem seguro-país, advogados e estruturação da operação.
Para chegar a isso, avançaram-se em duas frentes. Uma, a estruturação da operação, aproveitando a experiência das operações anteriores.
No início do ano passado, o BB fez uma emissão de dois anos. Foi desenhada para US$ 200 milhões, acabou sendo fechada em US$ 300 milhões, com demanda de pouco mais US$ 500 milhões.
Em agosto, uma segunda emissão, de US$ 300 milhões, por cinco anos. O lastro da emissão eram as ordens de pagamentos de decasséguis. A última, de US$ 450 milhões, foi de sete anos, tendo como lastro as remessas de brasileiros nos Estados Unidos. Todas tiveram rating BBB+. Em paralelo, o BB deflagrou um programa de crescimento no Japão, abrindo 24 novos pontos de atendimento e três microagências.
A nova operação seguiu os procedimentos anteriores, com uma variação. Percebeu-se que havia espaço para papéis AAA na carteira de investidores institucionais. Assim, decidiu-se acrescentar um seguro de risco-país, ganhando o triplo A.
A operação foi estruturada pelo BB Securities e pelo ING. Sessenta por cento da emissão foi vendida nos Estados Unidos e 40% na Europa.
Mas não basta apenas uma operação bem estruturada. E aí se entra na segunda perna da estratégia, que é o trabalho de esclarecimento dos investidores, para desintoxicá-los dessa maluquice de agências de risco, considerando o risco Brasil superior ao da Nigéria.
Diretores do banco fizeram o "road show", explicando a cada investidor a operação, as condições do banco e do país, os avanços conquistados nos últimos anos e as perspectivas futuras. Essa mesma apresentação foi feita para a AAMBAC, a seguradora. Quando se juntaram o lastro das operações ao seguro de risco-país e os esclarecimentos, os custos despencaram. Além da redução do spread, o momento internacional ajudou porque a libor vai equivaler a um T-Bond em torno de pouco mais de três pontos.
O segredo para o sucesso da operação foi fazer o produto adequado e identificar o cliente correto, explica Rossano Maranhão Pinto, vice-presidente de Negócios Internacionais e Atacado do BB.
A crise internacional e brasileira não provocou impacto negativo na emissão. O único impacto era que, a cada novo esclarecimento sobre o futuro do BB, aumentava o interesse pela emissão. Em pleno tiroteio, com os yuppies nova-iorquinos fazendo o risco Brasil disparar, a demanda superou US$ 500 milhões.
Ficou claro para os organizadores da operação que, por mais que as agências de risco possam ser influentes, pode-se avançar com contatos pessoais e apresentações competentes, que permitam ao investidor entender o que está acontecendo.
Até o final de agosto o banco anunciará nova operação.

E-mail - lnassif@uol.com.br



Texto Anterior: Opinião Econômica - Paulo Nogueira Batista Jr.: O problema da dívida pública
Próximo Texto: Panorâmica - Riqueza americana: Recuperação de indicadores econômicos dos EUA faz Fed manter juros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.