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LUÍS NASSIF
Risco BB = libor + 0,6 ponto
O título pode parecer alguma sigla cabalística. Mas quer dizer que em pleno tiroteio de mercado, com o risco Brasil sendo superior a 1.600 pontos (isto é, 16 pontos percentuais acima da taxa básica norte-americana), o Banco do Brasil completou ontem uma emissão com 60 pontos acima da libor. Ou seja,
libor mais 0,6 ponto percentual.
Em pleno tiroteio de mercado, com o risco país disparando, foram colocados US$ 300 milhões, a esse custo. Se o investidor fizesse um "swap" com renda fixa, estaria recebendo 5% ao ano.
O custo final da operação ficou em 7,2%, abaixo dos 7,9% da última operação, fechada em plena renúncia do presidente argentino De La Rúa. Nesse custo
se incluem seguro-país, advogados e estruturação da operação.
Para chegar a isso, avançaram-se em duas frentes. Uma, a
estruturação da operação, aproveitando a experiência das operações anteriores.
No início do ano passado, o BB
fez uma emissão de dois anos.
Foi desenhada para US$ 200 milhões, acabou sendo fechada em
US$ 300 milhões, com demanda
de pouco mais US$ 500 milhões.
Em agosto, uma segunda emissão, de US$ 300 milhões, por cinco anos. O lastro da emissão
eram as ordens de pagamentos
de decasséguis. A última, de US$
450 milhões, foi de sete anos, tendo como lastro as remessas de
brasileiros nos Estados Unidos.
Todas tiveram rating BBB+. Em
paralelo, o BB deflagrou um programa de crescimento no Japão,
abrindo 24 novos pontos de
atendimento e três microagências.
A nova operação seguiu os
procedimentos anteriores, com
uma variação. Percebeu-se que
havia espaço para papéis AAA
na carteira de investidores institucionais. Assim, decidiu-se
acrescentar um seguro de risco-país, ganhando o triplo A.
A operação foi estruturada pelo BB Securities e pelo ING. Sessenta por cento da emissão foi
vendida nos Estados Unidos e
40% na Europa.
Mas não basta apenas uma
operação bem estruturada. E aí
se entra na segunda perna da estratégia, que é o trabalho de esclarecimento dos investidores,
para desintoxicá-los dessa maluquice de agências de risco, considerando o risco Brasil superior
ao da Nigéria.
Diretores do banco fizeram o
"road show", explicando a cada
investidor a operação, as condições do banco e do país, os avanços conquistados nos últimos
anos e as perspectivas futuras.
Essa mesma apresentação foi feita para a AAMBAC, a seguradora. Quando se juntaram o lastro
das operações ao seguro de risco-país e os esclarecimentos, os custos despencaram. Além da redução do spread, o momento internacional ajudou porque a libor
vai equivaler a um T-Bond em
torno de pouco mais de três pontos.
O segredo para o sucesso da
operação foi fazer o produto
adequado e identificar o cliente
correto, explica Rossano Maranhão Pinto, vice-presidente de
Negócios Internacionais e Atacado do BB.
A crise internacional e brasileira não provocou impacto negativo na emissão. O único impacto
era que, a cada novo esclarecimento sobre o futuro do BB, aumentava o interesse pela emissão. Em pleno tiroteio, com os
yuppies nova-iorquinos fazendo
o risco Brasil disparar, a demanda superou US$ 500 milhões.
Ficou claro para os organizadores da operação que, por mais
que as agências de risco possam
ser influentes, pode-se avançar
com contatos pessoais e apresentações competentes, que permitam ao investidor entender o que está acontecendo.
Até o final de agosto o banco anunciará nova operação.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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