São Paulo, sábado, 27 de junho de 2009

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Brasil quer relançar G20, mas G8 resiste

Com o apoio de outros emergentes, país insiste em um novo eixo para a governança econômico-financeira mundial

Governo brasileiro reclama que falta ao G20 um programa próprio de trabalho, ao contrário do que ocorre com o G8

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILEIA

O governo brasileiro, com o apoio de outros países emergentes, quer aproveitar as reuniões deste fim de semana na Basileia para relançar o G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, como o eixo em torno do qual deve girar a governança econômico-financeira do planeta.
Depois das cúpulas de novembro, em Washington, e de Londres, em abril, parecia que o G20 tinha assegurado essa condição, mas está em curso um contra-ataque do G8, os países mais ricos do mundo mais a Rússia, embora os oito estejam também no G20. Mas preferem manter a exclusividade do seu pequeno clube.
"O G8 continua o fórum mais adequado para enfrentar os problemas do mundo", diz, por exemplo, Gianni Letta, o braço direito de Silvio Berlusconi, o premiê italiano e, como tal, presidente de turno do G8, cuja cúpula está marcada para entre 8 e 10 de julho na Itália.
Há duas semanas, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, tinha dado o G8 como morto, por mais que o Brasil esteja entre os seis emergentes convidados para a cúpula na Itália.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer, em Genebra, há duas semanas, que não sabia se os países ricos estavam de fato interessados em levar avante o G20 como fórum principal de discussão da governança global.
O fato é que, após a cúpula de Londres, o G20 entrou em uma espécie de hibernação, como grupo. As medidas anunciadas depois dela foram, todas, nacionais, sem coordenação global como pretendido pelo G20.
O governo brasileiro queixa-se de que falta ao G20 um programa próprio de trabalho, ao contrário do que acontece com o G8. Na preparação para a cúpula da Itália, por exemplo, houve reuniões prévias de ministros do G8 de várias áreas.

Preparar o caminho
Já o G20 retoma só hoje e amanhã os encontros entre os chamados "sherpas", altos funcionários que preparam os temas para que seus chefes (ministros e/ou chefe do governo) os debatam e implementem -o nome vem dos guias do Himalaia, que mapeiam o caminho para que os alpinistas cravem a bandeira no topo.
Serão reuniões destinadas exatamente a preparar o caminho para a ministerial de setembro, em Londres, à qual se seguirá a terceira cúpula do grupo, nos Estados Unidos.
O governo brasileiro considera que o fato de chegar a uma terceira cúpula em um grupo que era, até novembro passado, apenas de ministros de Economia e presidentes de bancos centrais já é uma indicação clara de como o G20 se reforçou. Mas o jogo não está ganho, admite a comitiva brasileira.
Em paralelo, dá-se também a corrida para reformular as duas principais instituições financeiras globais, o Bird (Banco Mundial) e o Fundo Monetário Internacional.
A cúpula de Londres já tomou a decisão política de aumentar o peso dos emergentes nas duas organizações. Agora, o que se discute é o tamanho do aumento. No Banco Mundial, a tese dos emergentes é chegar a uma divisão paritária, quando hoje os ricos pesam 56% ante 44% dos demais, embora estes sejam 156 países ante apenas 29 tidos como desenvolvidos.
No FMI, o Brasil quer melhorar a relação entre seu peso na economia global (2,88%, quando medido em Paridade de Poder de Compra) e suas cotas no Fundo (apenas 1,7%).
São reformas com data marcada para ocorrer: até abril de 2010 no Banco Mundial e até janeiro de 2011 no FMI.


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