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Brasil quer relançar G20, mas G8 resiste
Com o apoio de outros emergentes, país insiste em um novo eixo para a governança econômico-financeira mundial
Governo brasileiro reclama que falta ao G20 um programa próprio de trabalho, ao contrário do que ocorre com o G8
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILEIA
O governo brasileiro, com o
apoio de outros países emergentes, quer aproveitar as reuniões deste fim de semana na
Basileia para relançar o G20, o
grupo das 20 maiores economias do mundo, como o eixo
em torno do qual deve girar a
governança econômico-financeira do planeta.
Depois das cúpulas de novembro, em Washington, e de
Londres, em abril, parecia que
o G20 tinha assegurado essa
condição, mas está em curso
um contra-ataque do G8, os
países mais ricos do mundo
mais a Rússia, embora os oito
estejam também no G20. Mas
preferem manter a exclusividade do seu pequeno clube.
"O G8 continua o fórum mais
adequado para enfrentar os
problemas do mundo", diz, por
exemplo, Gianni Letta, o braço
direito de Silvio Berlusconi, o
premiê italiano e, como tal,
presidente de turno do G8, cuja
cúpula está marcada para entre
8 e 10 de julho na Itália.
Há duas semanas, o chanceler brasileiro, Celso Amorim,
tinha dado o G8 como morto,
por mais que o Brasil esteja entre os seis emergentes convidados para a cúpula na Itália.
O próprio presidente Luiz
Inácio Lula da Silva chegou a
dizer, em Genebra, há duas semanas, que não sabia se os países ricos estavam de fato interessados em levar avante o G20
como fórum principal de discussão da governança global.
O fato é que, após a cúpula de
Londres, o G20 entrou em uma
espécie de hibernação, como
grupo. As medidas anunciadas
depois dela foram, todas, nacionais, sem coordenação global
como pretendido pelo G20.
O governo brasileiro queixa-se de que falta ao G20 um programa próprio de trabalho, ao
contrário do que acontece com
o G8. Na preparação para a cúpula da Itália, por exemplo,
houve reuniões prévias de ministros do G8 de várias áreas.
Preparar o caminho
Já o G20 retoma só hoje e
amanhã os encontros entre os
chamados "sherpas", altos funcionários que preparam os temas para que seus chefes (ministros e/ou chefe do governo)
os debatam e implementem -o
nome vem dos guias do Himalaia, que mapeiam o caminho
para que os alpinistas cravem a
bandeira no topo.
Serão reuniões destinadas
exatamente a preparar o caminho para a ministerial de setembro, em Londres, à qual se
seguirá a terceira cúpula do
grupo, nos Estados Unidos.
O governo brasileiro considera que o fato de chegar a uma
terceira cúpula em um grupo
que era, até novembro passado,
apenas de ministros de Economia e presidentes de bancos
centrais já é uma indicação clara de como o G20 se reforçou.
Mas o jogo não está ganho, admite a comitiva brasileira.
Em paralelo, dá-se também a
corrida para reformular as duas
principais instituições financeiras globais, o Bird (Banco
Mundial) e o Fundo Monetário
Internacional.
A cúpula de Londres já tomou a decisão política de aumentar o peso dos emergentes
nas duas organizações. Agora, o
que se discute é o tamanho do
aumento. No Banco Mundial, a
tese dos emergentes é chegar a
uma divisão paritária, quando
hoje os ricos pesam 56% ante
44% dos demais, embora estes
sejam 156 países ante apenas
29 tidos como desenvolvidos.
No FMI, o Brasil quer melhorar a relação entre seu peso na
economia global (2,88%, quando medido em Paridade de Poder de Compra) e suas cotas no
Fundo (apenas 1,7%).
São reformas com data marcada para ocorrer: até abril de
2010 no Banco Mundial e até
janeiro de 2011 no FMI.
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