São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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COMENTÁRIO

Eleição dificulta novo acerto com o FMI

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Após criar e difundir a hipótese de um "acordo de transição" entre o FMI, os presidenciáveis e o governo brasileiro, o presidente do BC, Armínio Fraga, mudou seu objetivo. Pressionado pela desvalorização excessiva do real e pelo cenário externo crítico, Fraga encurtou seu horizonte e desligou-se um pouco da transição. Agora, procura mais dinheiro para garantir o fim da administração Fernando Henrique Cardoso.
Dois funcionários do FMI disseram à Folha que o governo brasileiro deu início a conversas com o Fundo em torno de uma nova ajuda sob o atual programa. Fraga, que tentava costurar um acordo de transição entre os candidatos à Presidência, agora busca, com ansiedade, um aporte de recursos para intervir no câmbio ou afastar os especuladores até o final do mandato de FHC.
Fraga enfrenta um difícil obstáculo. Quanto mais perto das eleições de outubro, menos disposto ficará o FMI a elevar desembolsos para uma administração em final de governo.
Quanto esteve em Washington em 10 de julho, Fraga fez duas consultas ao FMI. Perguntou se há disponibilidade para a concessão de novos recursos dentro do atual programa e se poderia haver novo acordo, que cobriria a fase de transição política e contaria com a anuência dos candidatos.
O FMI deu sinal verde para as alternativas, mas disse a Fraga que, quanto mais perto se aproximarem as eleições e o final do mandato de FHC, mais difícil seria, para a gerência do FMI, justificar um novo pacote à diretoria-executiva da instituição. Isso porque a dívida que terá de ser paga pelo próximo presidente brasileiro cresceria ainda mais.
O FMI preocupa-se muito com o calendário de repagamentos, que já vai invadir a próxima administração. Parte relevante do que o Brasil deve refere-se a empréstimos concedidos por meio da SRF (Supplementary Reserve Facility), a linha de crédito mais curta e cara do FMI.
Pelo calendário atual do FMI, o país deve repagar cerca de US$ 11,1 bilhões ao Fundo em 2003. No entanto, pelas regras da instituição, US$ 9,5 bilhões desse total poderão ser jogados para o ano seguinte. Normalmente, a decisão de postergar ou não esse pagamento só é feita quando a data estiver próxima. A não ser que o FMI aceite formular um novo acordo e refazer todo o calendário, o que demandaria o compromisso do presidente eleito ou dos candidatos, hipótese não crível em Washington.
A situação do governo brasileiro não é tranquila. Existe o risco concreto de a diretoria executiva do FMI recusar-se a emprestar dinheiro a um governo que, embora seja visto como "responsável", está acabando. A dívida teria de ser cobrada, com juros, de um novo presidente ainda não definido numa campanha considerada confusa pelos burocratas do Fundo.
A vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, refletiu essa preocupação no Brasil ao salientar as dificuldades de um novo empréstimo sem a anuência dos candidatos ou do presidente eleito. Para os otimistas, essa declaração é um sinal de que o FMI aceita um acordo de transição. Para os pessimistas, é um forte indício de que o FMI não aceita um último empréstimo, dentro do atual programa, que poderia ajudar FHC a evitar uma moratória no final de seu segundo mandato.



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