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COMENTÁRIO
Eleição dificulta novo acerto com o FMI
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Após criar e difundir a hipótese
de um "acordo de transição" entre o FMI, os presidenciáveis e o
governo brasileiro, o presidente
do BC, Armínio Fraga, mudou
seu objetivo. Pressionado pela
desvalorização excessiva do real e
pelo cenário externo crítico, Fraga
encurtou seu horizonte e desligou-se um pouco da transição.
Agora, procura mais dinheiro para garantir o fim da administração Fernando Henrique Cardoso.
Dois funcionários do FMI disseram à Folha que o governo brasileiro deu início a conversas com o
Fundo em torno de uma nova
ajuda sob o atual programa. Fraga, que tentava costurar um acordo de transição entre os candidatos à Presidência, agora busca,
com ansiedade, um aporte de recursos para intervir no câmbio ou
afastar os especuladores até o final do mandato de FHC.
Fraga enfrenta um difícil obstáculo. Quanto mais perto das eleições de outubro, menos disposto
ficará o FMI a elevar desembolsos
para uma administração em final
de governo.
Quanto esteve em Washington
em 10 de julho, Fraga fez duas
consultas ao FMI. Perguntou se
há disponibilidade para a concessão de novos recursos dentro do
atual programa e se poderia haver
novo acordo, que cobriria a fase
de transição política e contaria
com a anuência dos candidatos.
O FMI deu sinal verde para as
alternativas, mas disse a Fraga
que, quanto mais perto se aproximarem as eleições e o final do
mandato de FHC, mais difícil seria, para a gerência do FMI, justificar um novo pacote à diretoria-executiva da instituição. Isso porque a dívida que terá de ser paga
pelo próximo presidente brasileiro cresceria ainda mais.
O FMI preocupa-se muito com
o calendário de repagamentos,
que já vai invadir a próxima administração. Parte relevante do
que o Brasil deve refere-se a empréstimos concedidos por meio
da SRF (Supplementary Reserve
Facility), a linha de crédito mais
curta e cara do FMI.
Pelo calendário atual do FMI, o
país deve repagar cerca de US$
11,1 bilhões ao Fundo em 2003. No
entanto, pelas regras da instituição, US$ 9,5 bilhões desse total
poderão ser jogados para o ano
seguinte. Normalmente, a decisão
de postergar ou não esse pagamento só é feita quando a data estiver próxima. A não ser que o
FMI aceite formular um novo
acordo e refazer todo o calendário, o que demandaria o compromisso do presidente eleito ou dos
candidatos, hipótese não crível
em Washington.
A situação do governo brasileiro não é tranquila. Existe o risco
concreto de a diretoria executiva
do FMI recusar-se a emprestar dinheiro a um governo que, embora
seja visto como "responsável", está acabando. A dívida teria de ser
cobrada, com juros, de um novo
presidente ainda não definido numa campanha considerada confusa pelos burocratas do Fundo.
A vice-diretora-gerente do FMI,
Anne Krueger, refletiu essa preocupação no Brasil ao salientar as
dificuldades de um novo empréstimo sem a anuência dos candidatos ou do presidente eleito. Para os otimistas, essa declaração é um sinal de que o FMI aceita um acordo de transição. Para os pessimistas, é um forte indício de que o
FMI não aceita um último empréstimo, dentro do atual programa, que poderia ajudar FHC a evitar uma moratória no final de seu segundo mandato.
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