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LUÍS NASSIF
Eliezer e o porto de Sepetiba
Maior estrategista do
desenvolvimento brasileiro, o fundador da Companhia
Vale do Rio Doce, Eliezer Batista, tem seu mais novo filho no
forno para sair: o porto de Sepetiba, no Estado do Rio.
Na recente federalização do
sistema portuário, há resistências contra Sepetiba, que poderia sufocar a operação de outros
portos. Eliezer rebate, inicialmente, visões bairristas sobre o
projeto. Mineiro, sua carreira foi
no Rio e hoje atua como consultor na Federação das Indústrias
do Rio de Janeiro. Mas também
é defensor obstinado do anel ferroviário de São Paulo, que considera fundamental para a integração logística do país e para
resolver os problemas de trânsito
da metrópole.
Por que a importância de Sepetiba? Na situação atual da siderurgia mundial houve grande
barateamento no transporte,
tornando vantajoso importar
minério e agregar valor. A maneira de a siderurgia brasileira
manter a competitividade é
agregando valor ao minério por
aqui mesmo.
Só que essa melhoria depende
bastante da evolução dos contêineres marítimos e aéreos. Cingapura transporta 18 milhões de
contêineres por ano; o Brasil não
chega a 2 milhões. Na opinião de
Eliezer Batista, a oportunidade
surge agora, com o porto de Sepetiba servindo de base para a
exportação de produtos de melhor valor agregado.
Os novos mercados brasileiros
são China, Coréia, Japão, Taiwan, sudeste da Ásia, Austrália,
Índia e sul da Ásia, explica Eliezer. E a viabilidade da exportação de produtos siderúrgicos está nos supernavios, que conseguem somar alta capacidade de
carga com alta velocidade. Na
recente Feira de Poseidon, na
Grécia, a Samsung apresentou
navio com capacidade para
transportar 9.600 contêineres,
contra a média atual de 1.800, à
velocidade de 28 nós, contra 24
nós de um navio normal de 15
nós de um navio graneleiro.
O Brasil não podia entrar nessa revolução porque os ganhos
no transporte são perdidos na
morosidade do processo de carga e descarga no destino. Navios
de alta velocidade exigem terminais rápidos. O frete fica barato,
mas o tempo se torna precioso. O
porto precisa ter profundidade
adequada, trabalhar 24 horas
por dia e não pode ter embaraços. Toda a cadeia de produção
precisa estar ligada, em um conceito sistêmico.
Com Santos, São Sebastião e,
agora, Sepetiba, o Brasil tornou-se lugar único em todo o hemisfério Sul, com acesso à África e à
Austrália, pelo fato de poder gerar contêineres em número suficiente para justificar investimentos para a vinda de navios
grandes.
Hoje Santos pode receber navios de 2.400 toneladas e não
processa com rapidez. Sepetiba
já suporta navios de 8.000 toneladas. A vantagem de Sepetiba é
poder abarcar, com competitividade, cerca de 70% do PIB brasileiro. É o único lugar em condições de instalar porto dessa natureza, explica Eliezer, pelo calado, o espaço, a área de headline,
ferrovia encostada no porto, rodovia, sistema de comunicação
pronto, articulação de internet
para fora a um custo de implantação muito baixo.
O custo de operação de contêiner por lá, bordo-porto, é de US$
100, US$ 5 acima de Roterdã. O
território economicamente atingível vai de Santa Cruz de la
Sierra, passando por São Paulo,
sul de Minas, pedaços do Paraná
e outros. Melhorando a malha
ferroviária, aumenta a área de
ação.
Pode ser obra fundamental
para as contas externas brasileiras, explica Eliezer. Mas, para
tanto, o conceito de logística precisa ser adotado na sua integridade. É preciso que o café do sul
de Minas que seja vendido em
Hamburgo, por exemplo, dependa de apenas um contrato de
transporte, que abarque o frete
ferroviário, os impostos interestaduais e estaduais, o frete rodoviário, tudo dentro de uma visão sistêmica.
Esse será um dos grandes desafios do próximo governo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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