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MEMÓRIA
Conhecido por suas opiniões polêmicas, professor do MIT previu a crise mexicana de 94 e a desvalorização do real
Câncer mata economista Rudiger Dornbusch
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O economista e professor Rudiger Dornbusch, famoso por previsões e opiniões frequentemente
polêmicas, em especial sobre a
América Latina, morreu na quinta-feira, vítima de câncer, em sua
casa no bairro residencial de
Georgetown, em Washington
(EUA). Ele tinha 60 anos.
Nascido na Alemanha e naturalizado norte-americano, Dornbusch era professor de economia
e administração do MIT (Massachusetts Institute of Technology),
nos EUA, onde aprofundou seus
estudos sobre economia internacional e mercados emergentes.
Desde fevereiro de 1999, colaborava regularmente com a seção
"Tendências/Debates" da Folha.
Embora já conhecido entre seus
pares desde 1976, quando divulgou um trabalho sobre taxas de
câmbio ("Expectations and Exchange Rate Dynamics"), sua relevância extrapolou os limites do
meio acadêmico em 1994, quando
Dornbusch previu, sem eufemismos, a crise mexicana e a desvalorização do peso.
Desde então, formulou outras
previsões que, por incomodarem
autoridades latino-americanas,
renderam-lhe a acusação de ser
"catastrofista". Crítico da política
econômica brasileira, Dornbusch
disse, em 1998, que a desvalorização do real era inevitável e que a
âncora cambial nunca deixaria espaço para o crescimento.
A reação dos tecnocratas brasileiros foi feroz e, embora muitos
tivessem sido alunos de "Rudi", a
relação entre o professor e o governo brasileiro azedou. Na época, o ministro da Fazenda, Pedro
Malan, respondeu a Dornbusch
que "nenhum economista sério e
responsável iria sugerir a desvalorização do real". Um mês depois,
o real foi desvalorizado.
Em suas últimas referências sobre o Brasil, Dornbusch culpou o
presidente FHC pelas turbulências no país. "Cardoso usou as
privatizações para financiar sua
reeleição e agora deixará uma dívida social e fiscal enorme para o
próximo governo", disse. "Se estamos buscando um especulador
para culpar pela situação do Brasil, esse especulador é Fernando
Henrique Cardoso."
Com relação à Argentina, Dornbusch acumulou análises igualmente controversas. Celebrou a
paridade cambial até meses antes
do colapso da economia do país e,
em março passado, propôs uma
"intervenção internacional" no
país. Ex-chefe da assessoria econômica do FMI e do Bird, Dornbusch foi casado com a economista brasileira Eliana Cardoso.
Dornbusch deixa sua última
mulher, Sandra Masur, e um irmão, Paul Josef Dornbusch. "Rudi foi a pessoa que nos trouxe à era moderna", disse ontem Paul Krugman, professor de economia
da Universidade de Princeton.
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