São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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MEMÓRIA

Conhecido por suas opiniões polêmicas, professor do MIT previu a crise mexicana de 94 e a desvalorização do real

Câncer mata economista Rudiger Dornbusch

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O economista e professor Rudiger Dornbusch, famoso por previsões e opiniões frequentemente polêmicas, em especial sobre a América Latina, morreu na quinta-feira, vítima de câncer, em sua casa no bairro residencial de Georgetown, em Washington (EUA). Ele tinha 60 anos.
Nascido na Alemanha e naturalizado norte-americano, Dornbusch era professor de economia e administração do MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA, onde aprofundou seus estudos sobre economia internacional e mercados emergentes. Desde fevereiro de 1999, colaborava regularmente com a seção "Tendências/Debates" da Folha.
Embora já conhecido entre seus pares desde 1976, quando divulgou um trabalho sobre taxas de câmbio ("Expectations and Exchange Rate Dynamics"), sua relevância extrapolou os limites do meio acadêmico em 1994, quando Dornbusch previu, sem eufemismos, a crise mexicana e a desvalorização do peso.
Desde então, formulou outras previsões que, por incomodarem autoridades latino-americanas, renderam-lhe a acusação de ser "catastrofista". Crítico da política econômica brasileira, Dornbusch disse, em 1998, que a desvalorização do real era inevitável e que a âncora cambial nunca deixaria espaço para o crescimento.
A reação dos tecnocratas brasileiros foi feroz e, embora muitos tivessem sido alunos de "Rudi", a relação entre o professor e o governo brasileiro azedou. Na época, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, respondeu a Dornbusch que "nenhum economista sério e responsável iria sugerir a desvalorização do real". Um mês depois, o real foi desvalorizado.
Em suas últimas referências sobre o Brasil, Dornbusch culpou o presidente FHC pelas turbulências no país. "Cardoso usou as privatizações para financiar sua reeleição e agora deixará uma dívida social e fiscal enorme para o próximo governo", disse. "Se estamos buscando um especulador para culpar pela situação do Brasil, esse especulador é Fernando Henrique Cardoso."
Com relação à Argentina, Dornbusch acumulou análises igualmente controversas. Celebrou a paridade cambial até meses antes do colapso da economia do país e, em março passado, propôs uma "intervenção internacional" no país. Ex-chefe da assessoria econômica do FMI e do Bird, Dornbusch foi casado com a economista brasileira Eliana Cardoso.
Dornbusch deixa sua última mulher, Sandra Masur, e um irmão, Paul Josef Dornbusch. "Rudi foi a pessoa que nos trouxe à era moderna", disse ontem Paul Krugman, professor de economia da Universidade de Princeton.



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