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Cenário mundial instável preocupa BC
Reflexos da desaceleração dos EUA e ritmo maior de crescimento brasileiro ameaçam pressionar inflação, afirma ata do Copom
Antes das turbulências recentes, 3 dos 7 membros do comitê do banco já viam necessidade de cautela maior no corte dos juros
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma maior preocupação
com o ritmo de crescimento da
economia brasileira, combinada com um cenário externo
mais instável, já leva o Banco
Central a indicar que pretende
adotar uma maior cautela no
processo de redução dos juros.
Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) reduziu a taxa Selic
em 0,5 ponto percentual pela
segunda vez seguida, fixando-a
em 11,5% ao ano. Mas mesmo
dentro do BC houve discordâncias: três dos sete membros do
comitê defenderam um corte
menor, de 0,25 ponto.
Ontem, foi divulgada a ata
dessa reunião, expondo as justificativas da decisão. O documento traz explicações semelhantes às apresentadas no encontro anterior, em junho.
De forma resumida, pode-se
dizer que a queda do dólar é o
argumento mais forte usado
por quem defendeu o corte de
0,5 ponto nos juros. Por outro
lado, o crescimento cada vez
mais forte da economia é apontada por três diretores do BC
-que não são identificados-
como motivo de maior cautela.
A mudança em relação à reunião do mês passado está no peso atribuído a esses dois fatores. Embora o dólar continue
em queda, o BC já vê maiores
incertezas no cenário externo.
O principal risco continua nos
Estados Unidos, pois há dúvidas cada vez maiores sobre o
ritmo de desaceleração da economia norte-americana.
Um desaquecimento mais
abrupto poderia afetar o fluxo
de capitais para países emergentes, colocando em risco a
trajetória de valorização do real
e, conseqüentemente, a estabilidade da inflação.
Do lado da economia brasileira, os sinais de aceleração do
crescimento são um pouco
mais fortes, o que eleva a chance de o BC aumentar a dose de
cautela na redução dos juros.
Isso porque, até agora, parte
do aumento no consumo observado no país tem sido atendida por importações, que, com
a queda do dólar, ficam mais
baratas. Se as turbulências externas se agravarem, a ajuda
dada pelos bens importados no
controle da inflação diminui,
dificultando o processo de cortes na taxa Selic.
De qualquer forma, o BC afirma que, até agora, não há sinais
de aceleração da inflação. A
preocupação está nos riscos de
os preços subirem no futuro.
Ainda assim, a sinalização dada
ontem foi suficiente para que
analistas de mercado passassem a apostar numa redução
mais lenta dos juros.
Até o começo do mês, o mercado esperava mais uma redução de 0,5 ponto nos juros na
próxima reunião do Copom,
marcada para setembro. Após a
divulgação da ata do encontro
da semana passada, algumas
previsões já foram alteradas.
NA INTERNET - Leia a íntegra da
ata do Copom
www.folha.com.br/072071
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