São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Cenário mundial instável preocupa BC

Reflexos da desaceleração dos EUA e ritmo maior de crescimento brasileiro ameaçam pressionar inflação, afirma ata do Copom

Antes das turbulências recentes, 3 dos 7 membros do comitê do banco já viam necessidade de cautela maior no corte dos juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma maior preocupação com o ritmo de crescimento da economia brasileira, combinada com um cenário externo mais instável, já leva o Banco Central a indicar que pretende adotar uma maior cautela no processo de redução dos juros.
Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) reduziu a taxa Selic em 0,5 ponto percentual pela segunda vez seguida, fixando-a em 11,5% ao ano. Mas mesmo dentro do BC houve discordâncias: três dos sete membros do comitê defenderam um corte menor, de 0,25 ponto.
Ontem, foi divulgada a ata dessa reunião, expondo as justificativas da decisão. O documento traz explicações semelhantes às apresentadas no encontro anterior, em junho.
De forma resumida, pode-se dizer que a queda do dólar é o argumento mais forte usado por quem defendeu o corte de 0,5 ponto nos juros. Por outro lado, o crescimento cada vez mais forte da economia é apontada por três diretores do BC -que não são identificados- como motivo de maior cautela.
A mudança em relação à reunião do mês passado está no peso atribuído a esses dois fatores. Embora o dólar continue em queda, o BC já vê maiores incertezas no cenário externo. O principal risco continua nos Estados Unidos, pois há dúvidas cada vez maiores sobre o ritmo de desaceleração da economia norte-americana.
Um desaquecimento mais abrupto poderia afetar o fluxo de capitais para países emergentes, colocando em risco a trajetória de valorização do real e, conseqüentemente, a estabilidade da inflação.
Do lado da economia brasileira, os sinais de aceleração do crescimento são um pouco mais fortes, o que eleva a chance de o BC aumentar a dose de cautela na redução dos juros.
Isso porque, até agora, parte do aumento no consumo observado no país tem sido atendida por importações, que, com a queda do dólar, ficam mais baratas. Se as turbulências externas se agravarem, a ajuda dada pelos bens importados no controle da inflação diminui, dificultando o processo de cortes na taxa Selic.
De qualquer forma, o BC afirma que, até agora, não há sinais de aceleração da inflação. A preocupação está nos riscos de os preços subirem no futuro. Ainda assim, a sinalização dada ontem foi suficiente para que analistas de mercado passassem a apostar numa redução mais lenta dos juros.
Até o começo do mês, o mercado esperava mais uma redução de 0,5 ponto nos juros na próxima reunião do Copom, marcada para setembro. Após a divulgação da ata do encontro da semana passada, algumas previsões já foram alteradas.


NA INTERNET - Leia a íntegra da ata do Copom
www.folha.com.br/072071



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