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Só energia térmica a óleo é vendida em leilão
Montante negociado supera a demanda das distribuidoras, que não demonstraram interesse por gás natural e hidrelétrica
Associação de consumidores de energia critica resultado do leilão e diz que térmicas a óleo
são mais caras e poluentes
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Bom para as geradoras, nem
tanto para os consumidores.
Esse foi o resultado do 4º Leilão
de Energia Nova, o chamado A-3, ocorrido ontem em São Paulo. Três tipos diferentes de fonte foram ofertadas -gás natural, hidrelétrica e óleo combustível. Só a última teve demanda.
Durante o leilão, virtual, 12
usinas venderam energia para
36 distribuidoras. Ao todo, foram negociados 1.304 MW
(megawatts) médios, ou 1.781,8
MW de potência instalada. A
energia será entregue a partir
de janeiro de 2010. Os contratos têm prazo de 15 anos, e o
preço médio do megawatt-hora
ficou em R$ 134,67.
"As empresas foram totalmente atendidas. O sistema como um todo saiu ganhando",
disse o presidente do conselho
de administração da CCEE
(Câmara de Comercialização
Energia Elétrica), Antônio Carlos Fraga Machado.
De acordo com ele, o montante negociado atende a
101,8% da demanda declarada
pelas distribuidoras.
Cenário
O Brasil vive com a economia
estabilizada há 17 anos e, apesar de registrar um crescimento pequeno em comparação a
outros países emergentes, viu
seu parque industrial se expandir. Além de condições mais favoráveis no mercado interno, o
país investiu em exportações.
Mas só comprar máquinas
não é suficiente. É preciso que
elas funcionem. Por isso, na esteira dos investimentos, vem a
necessidade de energia.
O Estado brasileiro investiu
pouco na infra-estrutura. Especialistas do setor dizem que o
país sofre o risco de um apagão
energético a partir de 2010.
As projeções negativas interferem no planejamento dos investidores. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu publicamente que, "para
a gente crescer acima 5%, vamos ter que garantir aos investidores que não vai faltar energia a partir de 2012".
O Brasil registra em sua história a tradição de grandes usinas hidrelétricas, obras demoradas e que garantiam o abastecimento de várias regiões.
O cenário, entretanto, mudou. Os ambientalistas ganharam força, com suas teses reforçadas pelos problemas climáticos. As agências reguladoras
criaram uma etapa a mais para
ser vencida pelas empreiteiras,
as grandes beneficiadas com
um modelo de grande escala.
Por fim, há a busca constante
dos especialistas por fontes alternativas de energia.
Ao unir os ingredientes dessa
receita à dificuldade do Estado
de oferecer soluções além das
pontuais, obtém-se o cenário
atual: obras embargadas ou
sendo tocadas a partir de brechas e contradições legais.
O saldo é o do leilão de ontem: sem demanda para energia hidrelétrica.
O mesmo aconteceu com outra aposta do governo, a oferta
de energia criada a partir de gás
natural. A regulamentação para
esse tipo de energia não está
pronta, e os investidores temem que a Petrobras, grande
consumidora, não cumpra os
contratos posteriormente.
"Só foi vendida energia térmica a óleo, que é mais cara e
poluente do que as outras
duas", disse a Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia), em nota.
A energia é mais cara porque
o preço médio de R$ 134,67 o
megawatt-hora, auferido no
leilão, não embute o custo variável de ativação das usinas. Se
elas tiverem de ser ativadas, o
valor poderia subir até R$ 270,
segundo analistas.
E é mais poluente porque a
queima do óleo para a produção de energia produz gases
que agravam o efeito estufa.
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