São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Só energia térmica a óleo é vendida em leilão

Montante negociado supera a demanda das distribuidoras, que não demonstraram interesse por gás natural e hidrelétrica

Associação de consumidores de energia critica resultado do leilão e diz que térmicas a óleo são mais caras e poluentes

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Bom para as geradoras, nem tanto para os consumidores. Esse foi o resultado do 4º Leilão de Energia Nova, o chamado A-3, ocorrido ontem em São Paulo. Três tipos diferentes de fonte foram ofertadas -gás natural, hidrelétrica e óleo combustível. Só a última teve demanda.
Durante o leilão, virtual, 12 usinas venderam energia para 36 distribuidoras. Ao todo, foram negociados 1.304 MW (megawatts) médios, ou 1.781,8 MW de potência instalada. A energia será entregue a partir de janeiro de 2010. Os contratos têm prazo de 15 anos, e o preço médio do megawatt-hora ficou em R$ 134,67.
"As empresas foram totalmente atendidas. O sistema como um todo saiu ganhando", disse o presidente do conselho de administração da CCEE (Câmara de Comercialização Energia Elétrica), Antônio Carlos Fraga Machado.
De acordo com ele, o montante negociado atende a 101,8% da demanda declarada pelas distribuidoras.

Cenário
O Brasil vive com a economia estabilizada há 17 anos e, apesar de registrar um crescimento pequeno em comparação a outros países emergentes, viu seu parque industrial se expandir. Além de condições mais favoráveis no mercado interno, o país investiu em exportações.
Mas só comprar máquinas não é suficiente. É preciso que elas funcionem. Por isso, na esteira dos investimentos, vem a necessidade de energia.
O Estado brasileiro investiu pouco na infra-estrutura. Especialistas do setor dizem que o país sofre o risco de um apagão energético a partir de 2010.
As projeções negativas interferem no planejamento dos investidores. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu publicamente que, "para a gente crescer acima 5%, vamos ter que garantir aos investidores que não vai faltar energia a partir de 2012".
O Brasil registra em sua história a tradição de grandes usinas hidrelétricas, obras demoradas e que garantiam o abastecimento de várias regiões.
O cenário, entretanto, mudou. Os ambientalistas ganharam força, com suas teses reforçadas pelos problemas climáticos. As agências reguladoras criaram uma etapa a mais para ser vencida pelas empreiteiras, as grandes beneficiadas com um modelo de grande escala. Por fim, há a busca constante dos especialistas por fontes alternativas de energia.
Ao unir os ingredientes dessa receita à dificuldade do Estado de oferecer soluções além das pontuais, obtém-se o cenário atual: obras embargadas ou sendo tocadas a partir de brechas e contradições legais.
O saldo é o do leilão de ontem: sem demanda para energia hidrelétrica.
O mesmo aconteceu com outra aposta do governo, a oferta de energia criada a partir de gás natural. A regulamentação para esse tipo de energia não está pronta, e os investidores temem que a Petrobras, grande consumidora, não cumpra os contratos posteriormente.
"Só foi vendida energia térmica a óleo, que é mais cara e poluente do que as outras duas", disse a Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia), em nota.
A energia é mais cara porque o preço médio de R$ 134,67 o megawatt-hora, auferido no leilão, não embute o custo variável de ativação das usinas. Se elas tiverem de ser ativadas, o valor poderia subir até R$ 270, segundo analistas.
E é mais poluente porque a queima do óleo para a produção de energia produz gases que agravam o efeito estufa.


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