São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Estatal chinesa entra na disputa de aparelho celular

Empresa pretende ingressar no mercado do Brasil até o fim deste ano, mas nega que promoverá guerra comercial

Para executivo, esta é a hora de China e Índia crescerem no mercado mundial de telecom; ele aposta no fim das fabricantes tradicionais

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL À CHINA

Segunda maior fabricante de produtos de telecomunicações da China, a ZTE entrará com a sua marca no mercado de telefones celulares no Brasil até o final do ano. A estatal chinesa é pouco conhecida dos usuários finais porque a sua estratégia no exterior tem sido fabricar aparelhos para vender diretamente às companhias telefônicas, que então imprimem suas marcas nos produtos. É a chamada "customização".
Pela primeira vez, a fabricante chinesa fará uma campanha de marketing agressiva no Brasil. O presidente da ZTE Brasil, Eliandro Ávila, informou que os celulares serão montados pela Evadin. Inicialmente serão oferecidos modelos populares e de custo médio, para "disputarem nichos", afirmou. A América Latina representa cerca de 7% da receita mundial da ZTE, e a meta do grupo é aumentar o faturamento na região em 200% neste ano. A fama dos chineses de derrubar preços não deve acontecer no mercado brasileiro. "Os preços serão competitivos, mas não entraremos em guerra comercial", disse Ávila.

Voracidade
A cada ano, os chineses ficam mais vorazes no mercado internacional de telecom. Em 2007, pela primeira vez, as exportações da ZTE ultrapassaram as vendas dentro da China.
No ano passado, foram 6 milhões de telefones vendidos à Vodafone e serão 15 milhões neste ano. A operadora portuguesa TMN adquiriu 2 milhões de unidades para suas subsidiárias em países africanos como Uganda, Zâmbia e Ruanda.
O grupo chinês diz que está fechando contrato com uma operadora de celular brasileira e que o negócio será anunciado nos próximos dias. A ZTE produzirá 50 milhões de aparelhos neste ano, em nível global, contra 30 milhões em 2007.
Em entrevista a jornalistas do Brasil e da Argentina, na sede da ZTE, em Shenzhen (sul do país asiático), o vice-presidente da empresa para a América do Norte e a América Latina, Wu Zengqi, disse que chegou a vez de China e Índia crescerem em telecomunicações e que os fabricantes tradicionais europeus e norte-americanos vão morrer: "They are going to die", provocou.
"A Siemens e a Nokia se juntaram e mesmo assim continuam perdendo espaço. A Nortel desapareceu. Quantos produtos a Motorola lança por ano? Hoje elas têm mercado, mas vão morrer. É assim que a economia mundial evolui. O mundo está vindo para a China e para a Índia", afirmou.
Fundada há 23 anos, a ZTE tem controle de capital estatal e 50 mil empregados. Os concorrentes internacionais a acusam de crescer à custa de subsídios e das encomendas do Estado. A empresa diz que houve subsídios no início, mas que o quadro mudou e agora ela se tornou uma companhia global, com custos competitivos e presença em mais de cem países.
Enquanto o mercado mundial de telecom cresceu à taxa média de 9% no ano passado, o balanço da ZTE aponta aumento de receita de 49,8%. Segundo Zengqi, é na África que a empresa tem obtido maiores lucros nas vendas. Questionado sobre a razão de a maior lucratividade vir de um continente pobre, respondeu que a empresa chegou à África antes dos concorrentes e pegou o mercado no começo.
Na América Latina, segundo ele, a empresa chegou quando os fabricantes europeus e norte-americanos já estavam instalados e, por isso, sua lucratividade na região é menor. A ZTE não tem planos de instalar fábrica no Brasil a curto prazo. Diz que a construção de uma unidade só acontecerá quando o volume de vendas justificar o investimento. Fora da China, ela só tem uma fábrica de celular, na Índia, mas possui 15 centros de desenvolvimento de pesquisa no exterior, sendo três nos Estados Unidos.

Laboratórios
A empresa convidou os jornalistas para conhecerem o centro de desenvolvimento de design de celulares em Xangai e a fábrica e o laboratório de testes de qualidade em Shenzhen, num esforço para derrubar a imagem de que os produtos chineses não teriam qualidade.
A companhia afirma que, do faturamento anual de US$ 5,8 bilhões, 12% são investidos em pesquisa e desenvolvimento.


A jornalista ELVIRA LOBATO viajou à China a convite da ZTE


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