São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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BARRIL DE PÓLVORA

Altas e baixas dos últimos dias indicam ação especulativa

Analistas ainda duvidam de recuo maior no petróleo

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Depois de cinco dias de queda consecutiva dos preços do petróleo, economistas ainda têm dúvidas se isso representa uma inversão de tendência.
Uma certeza dos analistas, por outro lado, é que os bruscos movimentos de alta da semana passada, seguidos de forte recuo nos últimos dias, são sinais da pressão de movimentos especulativos sobre o mercado.
"A forte correção verificada após os anúncios de estoques de gasolina nos Estados Unidos e a recuperação da produção no Iraque são indicadores de que especuladores, fundos e bancos saíram vendendo suas posições de compra de petróleo no longo prazo", afirma Manouchehr Takin, pesquisador do Centre for Global Energy Studies, em Londres.
Analistas ouvidos pela Folha afirmam que, além de especulação e de riscos de novos problemas de oferta, a busca de proteção contra uma alta persistente por parte das empresas explica, em parte, por que os preços do petróleo atingiram os atuais patamares e seguem elevados, mesmo com as quedas recentes.
"As grandes empresas saíram à procura de proteção porque acham que os preços podem subir ainda mais", afirma Bruce Evers, analista de petróleo do banco Investec.
E o pior é que, de acordo com Evers, podem mesmo. "Se, no quarto trimestre, tivermos um inverno muito intenso [no hemisfério Norte], a capacidade de oferta pode ser pressionada até o limite. Com isso, os preços podem subir muito mais. Por isso, tem havido uma corrida por maiores compras", diz Evers.
Takin diz que os preços tendem a cair para patamares mais baixos, à medida que o nível de crescimento da economia global fique mais moderado. Mas, assim como Evers, ele diz que essa possível queda pode ser, parcialmente, freada no último trimestre de 2004 se o inverno for intenso.

Revisões
Gerard Walsh, diretor do EIU (The Economist Intelligence Unit), respeitado centro de pesquisa britânico, diz que a tendência no médio prazo é que os preços recuem dos atuais patamares.
"Acho que a tendência é que demanda e oferta encontrem um equilíbrio. Pode não ser nas próximas semanas ou meses, mas isso vai acabar ocorrendo", diz ele.
Apesar disso, o EIU revisou para cima, nesta semana, suas projeções dos preços médios do petróleo até 2008. O instituto projetava, no início de julho, um preço médio de US$ 33,50, em 2004, e de US$ 28, em 2005, para o barril do petróleo do tipo Brent, negociado em Londres. Mas revisou esses dados para, respectivamente, US$ 35,70 e US$ 31.
"Há uma série de razões, todas ocorrendo ao mesmo tempo. A demanda está muito alta e isso ocorre ao mesmo tempo em que tem havido problemas de oferta. Há vários problemas de segurança e, além de tudo, há a atividade dos "hedge funds'", afirma Walsh.
Na semana passada, conforme o preço do barril se aproximou de US$ 50, movimentos especulativos passaram a ser mais citados por analistas e até por autoridades como importante fator de pressão para elevar as cotações.
Em relatório, o banco JP Morgan afirmou que investimentos especulativos contribuíram para o exagero na alta do barril. O banco também reviu sua estimativa para o preço médio do barril negociado em Nova York neste ano, de US$ 37,13 para US$ 39,27.
Apesar da volta dos preços nos últimos dias para patamares mais baixos, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) acha que o recuo está sendo lento. O presidente da Opep, Purnomo Yusgiantoro, espera que os preços voltem para o patamar de US$ 30.


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