|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Erros fatais
Crescimento rápido com
estabilidade foi o prêmio dos
países que acumularam
reservas em moeda forte
DESDE OS anos 80, os coeficientes de abertura das economias (exportações mais importações) se ampliaram de forma
geral e irrestrita. A maior mobilidade do capital, em suas diversas modalidades, convidou as economias
emergentes a relaxar os controles
até então impostos ao investimento
direto, às aplicações de portfólio e
aos empréstimos em moeda estrangeira.
Os economistas da corrente principal -revela um trabalho recém-publicado pelo FMI- ainda não
chegaram a um acordo a respeito
das relações entre abertura da conta
de capitais e crescimento. Há evidência de que, em alguns países em
desenvolvimento, o investimento
direto contribuiu positivamente para a elevação da taxa de investimento, para a graduação tecnológica e
para o avanço das exportações de
manufaturados. Há também sinais
de que as políticas econômicas passaram a ser vigiadas com maior rigor, mas nem sempre com eficiência, pelos mercados financeiros.
Crescimento rápido com estabilidade foi o prêmio recebido pelos
países que buscaram acumular reservas alentadas em moeda forte e
controlar o endividamento externo
de curto prazo, com o propósito de
dissuadir movimentos especulativos contra a moeda nacional e frustar arbitragens indesejadas entre os
ativos denominados em moeda nacional e na moeda reserva. Com isso,
conseguiram estabilizar a taxa de
câmbio nominal,controlar a inflação, defender a taxa de câmbio real e
manter taxas de juros reais baixas, o
que ensejou um baixo custo de carregamento das reservas e, portanto,
uma evolução adequada da relação
dívida pública/PIB.
Não faltará, neste Brasil varonil,
quem questione a possibilidade de
intervenções eficazes no mercado
cambial e duvide da existência de
uma base segura para afirmar o grau
de desajuste da taxa de câmbio real.
É possível, no entanto, recorrer a indicações tão elementares quanto
óbvias. Por exemplo: a capacidade
de atrair investimento direto nos setores mais dinâmicos da economia
global, a relação entre as taxas de
crescimento das exportações e as
das importações de manufaturas de
maior intensidade tecnológica, a
evolução da participação do país nas
exportações mundiais de produtos
de maior valor agregado.
A vigorosa expansão do comércio
mundial e a sucessão de inovações
financeiras foram, ademais, acompanhadas do surgimento de novos e
implacáveis competidores. Nesse
ambiente, o desalinhamento da taxa
de juros e do câmbio real são pecados mortais, erros fatais que comprometem o crescimento.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 63, é professor titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos
do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de
Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo
Quércia).
Texto Anterior: Outro lado: "Obras foram compradas como originais" Próximo Texto: Entrevista: Luiz Roberto Ayoub Índice
|