São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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LUIZ GONZAGA BELLUZZO

Erros fatais

Crescimento rápido com estabilidade foi o prêmio dos países que acumularam reservas em moeda forte

DESDE OS anos 80, os coeficientes de abertura das economias (exportações mais importações) se ampliaram de forma geral e irrestrita. A maior mobilidade do capital, em suas diversas modalidades, convidou as economias emergentes a relaxar os controles até então impostos ao investimento direto, às aplicações de portfólio e aos empréstimos em moeda estrangeira.
Os economistas da corrente principal -revela um trabalho recém-publicado pelo FMI- ainda não chegaram a um acordo a respeito das relações entre abertura da conta de capitais e crescimento. Há evidência de que, em alguns países em desenvolvimento, o investimento direto contribuiu positivamente para a elevação da taxa de investimento, para a graduação tecnológica e para o avanço das exportações de manufaturados. Há também sinais de que as políticas econômicas passaram a ser vigiadas com maior rigor, mas nem sempre com eficiência, pelos mercados financeiros.
Crescimento rápido com estabilidade foi o prêmio recebido pelos países que buscaram acumular reservas alentadas em moeda forte e controlar o endividamento externo de curto prazo, com o propósito de dissuadir movimentos especulativos contra a moeda nacional e frustar arbitragens indesejadas entre os ativos denominados em moeda nacional e na moeda reserva. Com isso, conseguiram estabilizar a taxa de câmbio nominal,controlar a inflação, defender a taxa de câmbio real e manter taxas de juros reais baixas, o que ensejou um baixo custo de carregamento das reservas e, portanto, uma evolução adequada da relação dívida pública/PIB.
Não faltará, neste Brasil varonil, quem questione a possibilidade de intervenções eficazes no mercado cambial e duvide da existência de uma base segura para afirmar o grau de desajuste da taxa de câmbio real.
É possível, no entanto, recorrer a indicações tão elementares quanto óbvias. Por exemplo: a capacidade de atrair investimento direto nos setores mais dinâmicos da economia global, a relação entre as taxas de crescimento das exportações e as das importações de manufaturas de maior intensidade tecnológica, a evolução da participação do país nas exportações mundiais de produtos de maior valor agregado.
A vigorosa expansão do comércio mundial e a sucessão de inovações financeiras foram, ademais, acompanhadas do surgimento de novos e implacáveis competidores. Nesse ambiente, o desalinhamento da taxa de juros e do câmbio real são pecados mortais, erros fatais que comprometem o crescimento.


LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 63, é professor titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).


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