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Bancos reduzem crédito a pessoas físicas
Com a crise internacional, instituições financeiras colocam o pé no freio nessas operações, especialmente no consignado
Na primeira quinzena
deste mês, operações com pessoas físicas ficaram praticamente estáveis, com aumento de apenas 0,9%
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O mercado de crédito no Brasil reflete a combinação de alta
da taxa Selic com os efeitos da
piora da crise internacional.
Dados parciais do Banco Central referentes aos primeiros 15
dias deste mês, período em que
as turbulências externas atingiram seu ápice com a quebra do
banco Lehman Brothers, mostram que os bancos estão mais
seletivos -colocando o pé no
freio nas operações com pessoas físicas, sobretudo no crédito consignado, e cobrando
mais caro nas demais modalidades.
Ao mesmo tempo, as empresas continuam procurando crédito e são abastecidas por financiamentos que custam
mais e são feitos a partir de recursos captados no país. Isso
devido à falta de linhas externas. O lançamento de papéis no
mercado interno tem sido a alternativa desde julho.
A captação líquida de CDB
(Certificado de Depósito Bancário), um dos principais instrumentos para obter dinheiro
e repassar na forma de empréstimos, foi de R$ 35,4 bilhões em
agosto, segundo o Banco Central. No final do primeiro semestre, essa captação estava
abaixo de R$ 18 bilhões.
Esse dinheiro, que serve para
atender principalmente a demanda por crédito das empresas, cresceu 3,9% na primeira
quinzena deste mês, impulsionada pelas linhas de capital de
giro, recursos que atendem às
necessidades de curto prazo.
O valor é maior do que os
3,4% de aumento registrado
em todo o mês de agosto e se
elevou a despeito da alta no
custo nas operações com empresas, que atingiram a taxa
média de 28,3% ao ano em
agosto -o maior valor desde junho de 2006.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco
Central, Altamir Lopes, como a
demanda da empresas ainda é
forte, o mercado de crédito
manterá crescimento, mas em
ritmo menor. Desde março, o
volume total de empréstimos
acumulado em 12 meses tem
subido a taxas superiores a
30%.
Por isso, apesar de as taxas
estarem mais caras -a taxa
média geral de 40,1% ao ano é a
maior cobrada desde o final de
2006- e de as linhas externas
terem sumido nos últimos dias,
a expectativa do Banco Central
é que o Brasil feche o ano com
volume total de crédito equivalente a 40% do PIB (Produto
Interno Bruto, total de riquezas produzidas pelo país em um
ano). Em agosto, essa taxa atingiu o valor recorde de 38%, o
que representa um volume de
R$ 1,1 trilhão.
Perda de fôlego
As operações com pessoas físicas, porém, devem perder
ainda mais o fôlego. Na primeira quinzena deste mês, elas ficaram praticamente estáveis,
com aumento de 0,9%, bem
abaixo dos 2,6% de crescimento verificado no volume total de
crédito na economia no período. O custo médio atingiu, em
agosto, 52,1% ao ano, o maior
desde janeiro do ano passado
(com destaque para o cheque
especial, que cobra juro de
166,4% ao ano).
"Há uma desaceleração na
margem nas operações com
pessoas físicas, mas o leasing
nesse segmento ainda cresce
fortemente. Na pessoa jurídica,
o crescimento em 12 meses até
agosto estava em 40,7%. A crise
[externa] não deve mudar muito isso", avalia Lopes.
A redução na concessão de
crédito consignado é o que tem
diminuído o crédito para as
pessoas físicas. O custo de captação dos bancos subiu por causa do aumento da taxa Selic, reduzindo o ganho final, e o segmento está chegando a um
ponto de saturação.
Os principais alvos -os aposentados e os funcionários públicos- já não têm tanto apetite e os trabalhadores da iniciativa privada não são tão atrativos. Em agosto, o crédito consignado cresceu 1,1% na área
pública, totalizando empréstimos de R$ 42,7 bilhões. No setor privado, houve queda de
0,2%, alcançando saldo de R$
6,8 bilhões.
O que tem subido são as operações de leasing, que somaram
R$ 51,3 bilhões em agosto. No
período acumulado de 12 meses, houve aumento de 135% no
volume, com destaque para o
setor de automóveis.
Somente em julho, os contratos de venda de veículos por
meio de leasing para pessoas físicas cresceu 22,9% em relação
ao verificado em março.
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