São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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Bancos reduzem crédito a pessoas físicas

Com a crise internacional, instituições financeiras colocam o pé no freio nessas operações, especialmente no consignado

Na primeira quinzena deste mês, operações com pessoas físicas ficaram praticamente estáveis, com aumento de apenas 0,9%

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O mercado de crédito no Brasil reflete a combinação de alta da taxa Selic com os efeitos da piora da crise internacional. Dados parciais do Banco Central referentes aos primeiros 15 dias deste mês, período em que as turbulências externas atingiram seu ápice com a quebra do banco Lehman Brothers, mostram que os bancos estão mais seletivos -colocando o pé no freio nas operações com pessoas físicas, sobretudo no crédito consignado, e cobrando mais caro nas demais modalidades.
Ao mesmo tempo, as empresas continuam procurando crédito e são abastecidas por financiamentos que custam mais e são feitos a partir de recursos captados no país. Isso devido à falta de linhas externas. O lançamento de papéis no mercado interno tem sido a alternativa desde julho.
A captação líquida de CDB (Certificado de Depósito Bancário), um dos principais instrumentos para obter dinheiro e repassar na forma de empréstimos, foi de R$ 35,4 bilhões em agosto, segundo o Banco Central. No final do primeiro semestre, essa captação estava abaixo de R$ 18 bilhões.
Esse dinheiro, que serve para atender principalmente a demanda por crédito das empresas, cresceu 3,9% na primeira quinzena deste mês, impulsionada pelas linhas de capital de giro, recursos que atendem às necessidades de curto prazo.
O valor é maior do que os 3,4% de aumento registrado em todo o mês de agosto e se elevou a despeito da alta no custo nas operações com empresas, que atingiram a taxa média de 28,3% ao ano em agosto -o maior valor desde junho de 2006.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, como a demanda da empresas ainda é forte, o mercado de crédito manterá crescimento, mas em ritmo menor. Desde março, o volume total de empréstimos acumulado em 12 meses tem subido a taxas superiores a 30%.
Por isso, apesar de as taxas estarem mais caras -a taxa média geral de 40,1% ao ano é a maior cobrada desde o final de 2006- e de as linhas externas terem sumido nos últimos dias, a expectativa do Banco Central é que o Brasil feche o ano com volume total de crédito equivalente a 40% do PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas pelo país em um ano). Em agosto, essa taxa atingiu o valor recorde de 38%, o que representa um volume de R$ 1,1 trilhão.

Perda de fôlego
As operações com pessoas físicas, porém, devem perder ainda mais o fôlego. Na primeira quinzena deste mês, elas ficaram praticamente estáveis, com aumento de 0,9%, bem abaixo dos 2,6% de crescimento verificado no volume total de crédito na economia no período. O custo médio atingiu, em agosto, 52,1% ao ano, o maior desde janeiro do ano passado (com destaque para o cheque especial, que cobra juro de 166,4% ao ano).
"Há uma desaceleração na margem nas operações com pessoas físicas, mas o leasing nesse segmento ainda cresce fortemente. Na pessoa jurídica, o crescimento em 12 meses até agosto estava em 40,7%. A crise [externa] não deve mudar muito isso", avalia Lopes.
A redução na concessão de crédito consignado é o que tem diminuído o crédito para as pessoas físicas. O custo de captação dos bancos subiu por causa do aumento da taxa Selic, reduzindo o ganho final, e o segmento está chegando a um ponto de saturação.
Os principais alvos -os aposentados e os funcionários públicos- já não têm tanto apetite e os trabalhadores da iniciativa privada não são tão atrativos. Em agosto, o crédito consignado cresceu 1,1% na área pública, totalizando empréstimos de R$ 42,7 bilhões. No setor privado, houve queda de 0,2%, alcançando saldo de R$ 6,8 bilhões.
O que tem subido são as operações de leasing, que somaram R$ 51,3 bilhões em agosto. No período acumulado de 12 meses, houve aumento de 135% no volume, com destaque para o setor de automóveis.
Somente em julho, os contratos de venda de veículos por meio de leasing para pessoas físicas cresceu 22,9% em relação ao verificado em março.


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