São Paulo, domingo, 27 de setembro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Os juros põem o pé na escada


Juro real de mercado sobe; economistas e financistas passam a prever que a Selic vá a 11% no final de 2010


OS JUROS estão subindo. Ao menos, põem o pé na escada, o que ameaçaram fazer em junho, recuando no início de setembro. Agora, a taxa de juro real (descontada a inflação) passou de 5% (vide gráfico). O juro foi empurrado pelo bom resultado do PIB, foi vitaminado pelos dados impressionantes sobre emprego e, enfim, anabolizado ao longo da semana pela alta geral das previsões de gasto público e de crescimento. Ainda é uma taxa baixa para os padrões extravagantes do Brasil. Em outubro de 2008, o juro real estava na casa de brutais 10%.
Na sexta-feira, economistas de bancos maiores modificaram com mão pesada suas projeções para a Selic no final de 2010 (a Selic é a "taxa do Banco Central", ora em 8,75%, nominais). Os do Bradesco, por exemplo, reviram sua estimativa para a Selic de 9,5% para 11,5% no final do ano que vem (com previsão de PIB em alta de 5,4%).
Dissemina-se a ideia de que a Selic subiria já no final do primeiro trimestre de 2010. A estimativa para 2010, porém, é de inflação na meta ou abaixo dela. Mesmo o relatório de inflação do BC foi morno. Os reajustes de preços indexados serão muito menores, dada a baixa dos índices de inflação no atacado em 2009. O dólar ficaria em torno de R$ 1,80. O aumento do consumo e o real forte vão provocar um aumento do deficit externo (em transações correntes), mas a avalanche de investimento estrangeiro deve cobrir com folga tal deficit.
Mesmo neste 2009 de crise na finança, os investimentos estrangeiros em ações e títulos brasileiros já superam os de 2008 (de janeiro a agosto). O investimento direto ("produtivo") supera o do ano passado (se descontados os investimentos brasileiros lá fora). Enfim, "o nível de utilização da capacidade instalada está abaixo da média histórica e só deve voltar aos níveis que pressionam os preços no segundo trimestre de 2010", escrevem em seu relatório semanal os economistas do Santander.
Talvez o preço das commodities (comida, matérias-primas, combustíveis) suba ainda mais com a recuperação mundial e a decadência do dólar. Mas, de evidentemente ruim mesmo, há apenas o deficit público, que deve dobrar neste ano (de 1,5% em 2008 para mais de 3% em 2009) e sabe-se lá o que será num 2010 de tanto gasto contratado e de eleição.
Aqui e agora não vem ao caso se a numeralha das previsões está correta. Importa é que mercado, analistas econômicos, governo e mesmo empresas convergem no otimismo, a cada dia reforçado pela excepcional recuperação da economia no Brasil (é claro que governo e mercado divergem sobre juros). Ou seja, o mercado converge para o consenso de que "os juros reais estão abaixo do nível de equilíbrio", como diziam na sexta os economistas do Bradesco.
A alta provável e precoce dos juros não deve afetar tão cedo o consumidor comum. Mas vai contribuir para a piora da dívida e do deficit públicos.

vinit@uol.com.br


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