|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Negócio só não faz
bem para o paladar
JOSIMAR MELO
Especial para a Folha
A superfusão dos gigantes ingleses das bebidas (Guinness e Grand
Metropolitan) não vai incluir o
grupo francês Louis Vuiton-Moet-Hennessy. Será um gigante menor que o vislumbrado.
Mesmo assim, é preocupante.
Explico: acompanho há meses
este processo de superfusão, cercado de lances ousados e cifras estonteantes. Não torci para ninguém: estava menos interessado
no negócio em si do que com as
consequências para nós, consumidores.
Com ou sem os franceses, cria-se
um agrupamento, nas mesmas
mãos, de um número enorme de
marcas de bebidas. Algumas, como os whiskies Johnnie Walker e
J&B, tradicionais rivais. Preocupa-me vê-las todas com um mesmo dono -porque francamente
sempre adorei vê-los todos brigando entre si. Pelo seguinte.
O mercado de bebidas é tão vasto
e milionário que os produtores
disputam cada centímetro de terreno. E ganhar terreno é ganhar a
adesão dos consumidores. Não é
sensacional ver megaempresas
cortejando seu paladar? Sim, é
sensacional, por um bom motivo:
para tirar o consumidor do concorrente, é preciso ser cada vez
melhor. Nós somos o estímulo para a melhoria de qualidade. Por isso, a cada trago, cada um de nós,
miúdos consumidores, decide o
destino de imensas multinacionais.
Ou decidíamos. Porque quando
todas as marcas têm um mesmo
dono... elas é que ganham o poder
de decidir nosso gosto, moldar
nosso paladar. Retirando do nosso
alcance marcas que não interessa
promover neste ou naquele país.
Alterando o padrão de gosto do
whisky, do gim, da vodca. Tudo isso sem medo da concorrência, que
agora é da casa.
Pode ser que financeiramente as
superfusões sejam o melhor. Mas
então, já vejo outros gigantes, como Seagram e Allied Distillers, fazendo o mesmo. E depois os supergigantes resultantes unindo-se
num único megamonopólio, detentor do poder supremo sobre
nossos gostos.
Pode ser bom para as finanças.
Mas me tira um pouco a sede.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|