São Paulo, segunda, 27 de outubro de 1997.




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Negócio só não faz bem para o paladar

JOSIMAR MELO
Especial para a Folha

A superfusão dos gigantes ingleses das bebidas (Guinness e Grand Metropolitan) não vai incluir o grupo francês Louis Vuiton-Moet-Hennessy. Será um gigante menor que o vislumbrado. Mesmo assim, é preocupante.
Explico: acompanho há meses este processo de superfusão, cercado de lances ousados e cifras estonteantes. Não torci para ninguém: estava menos interessado no negócio em si do que com as consequências para nós, consumidores.
Com ou sem os franceses, cria-se um agrupamento, nas mesmas mãos, de um número enorme de marcas de bebidas. Algumas, como os whiskies Johnnie Walker e J&B, tradicionais rivais. Preocupa-me vê-las todas com um mesmo dono -porque francamente sempre adorei vê-los todos brigando entre si. Pelo seguinte.
O mercado de bebidas é tão vasto e milionário que os produtores disputam cada centímetro de terreno. E ganhar terreno é ganhar a adesão dos consumidores. Não é sensacional ver megaempresas cortejando seu paladar? Sim, é sensacional, por um bom motivo: para tirar o consumidor do concorrente, é preciso ser cada vez melhor. Nós somos o estímulo para a melhoria de qualidade. Por isso, a cada trago, cada um de nós, miúdos consumidores, decide o destino de imensas multinacionais.
Ou decidíamos. Porque quando todas as marcas têm um mesmo dono... elas é que ganham o poder de decidir nosso gosto, moldar nosso paladar. Retirando do nosso alcance marcas que não interessa promover neste ou naquele país. Alterando o padrão de gosto do whisky, do gim, da vodca. Tudo isso sem medo da concorrência, que agora é da casa.
Pode ser que financeiramente as superfusões sejam o melhor. Mas então, já vejo outros gigantes, como Seagram e Allied Distillers, fazendo o mesmo. E depois os supergigantes resultantes unindo-se num único megamonopólio, detentor do poder supremo sobre nossos gostos.
Pode ser bom para as finanças. Mas me tira um pouco a sede.



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