São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Operação visa separar a administração do dia-a-dia da empresa da pressão das investigações federais

Consultoria assumirá crise da Parmalat

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Parmalat Alimentos, o braço operacional do grupo italiano no Brasil, negocia com a Galeazzi Associados para que a consultoria assuma o gerenciamento da crise vivida pela empresa. Até ontem, porém, ainda não havia sido assinado contrato com a consultoria.
O objetivo da contratação de serviços de "crisis management" (gerenciamento de crises, procedimento usual nos EUA e na Europa) é separar o dia-a-dia da empresa do fogo cruzado de bancos credores, fornecedores e Justiça.
Ontem, a Polícia Federal começou a trabalhar na sede da empresa, em São Paulo. A PF decidiu entrar no caso desde que um dos contadores da matriz, Gianfranco Bocchi, disse que a Parmalat italiana remetera "um saco de dinheiro" para a empresa Carital, ligada ao grupo e sediada no Brasil.
A Receita Federal também já iniciou os trabalhos na Parmalat e está auditando as contas da empresa referentes a 2003, segundo a Folha apurou.
Além disso, a Parmalat Alimentos está há uma semana com um comitê de fiscalização trabalhando em sua sede, nomeado pelo juiz da 42ª Vara Cível de São Paulo, Carlos Henrique Abrão.
Todos os movimentos de entrada e saída de recursos da empresa passam pelo crivo desse comitê, pois a Parmalat está proibida de vender ativos e remeter dinheiro à matriz ou às suas coligadas.
Anteontem, o juiz Luiz Burza Neto, da 8ª Câmara do 1º Tribunal de Alçada, de São Paulo, negou recurso aos advogados da empresa que tentavam sustar o bloqueio dos ativos e a ação do comitê fiscalizador. Ele autorizou só o pagamento dos fornecedores, mediante visto do comitê fiscalizador.
Desde que surgiu o escândalo na matriz, onde se constatou desvio de 14,3 bilhões, a Parmalat Alimentos suspendeu o pagamento dos fornecedores. Em menos de uma semana (15/1 a 20/1), sofreu 99 protestos na Justiça.
A empresa enfrenta, ainda, quatro pedidos de falência, dois de arresto de bens (um do Banco do Brasil, deferido anteontem) e um bloqueio de R$ 13,2 milhões em conta bancária, obtido pelo BB. Anteontem, ela conseguiu, por meio de agravo, liberar o dinheiro, mas outra decisão judicial determinou o arresto dos bens da fábrica de Jundiaí e dos R$ 13,2 milhões, em favor do BB. Devido à superposição de decisões, o juiz Abrão pretende agrupar os processos numa só jurisdição.
Essa sucessão de processos e investigações federais aumentou a carga de trabalho e a pressão sobre os executivos da empresa. O gerenciamento da crise por meio de uma consultoria tem o objetivo de aliviar essa tensão e de liberá-los para manter as operações.
A Folha apurou que a empresa que assumir fará a interface entre a Parmalat Alimentos e os diferentes atores da crise: pretende-se evitar decisões precipitadas e o uso inadequado de recursos.
Se contratada, a consultoria Galeazzi & Associados vai elaborar uma estratégia para monitorar a empresa e definir prioridades. Não será um processo de reestruturação ou de gestão compartilhada, segundo a Folha apurou. A Galeazzi desenvolveu trabalho semelhante, em 2003, para a BCP.
Ontem, o diretor da Parmalat José Antônio Fay se reuniu em Brasília com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, no primeiro dia da comissão criada para investigar as atividades da empresa no país. Segundo Cunha, Fay disse que a filial tem condições de manter a produção porque existe mercado e de sair da crise caso consiga "algum respiro" (referência aos credores).


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