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País tem poucas patentes e em setores não-tecnológicos
Ranking mostra que áreas de ponta não estão entre os dez maiores "patenteadores'
Indicador que será lançado nesta semana pela Unicamp é o primeiro passo para a criação, ainda em 2007, do Índice Brasil de Inovação
Joel Silva - 10.out.06/Folha Imagem
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Operário trabalha em indústria do setor de máquinas agrícolas
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Indicador de patentes da indústria que a Unicamp divulga
nesta semana mostra outro retrato do atraso do setor na área
de pesquisa, desenvolvimento
e inovação. Ao já conhecido fato de a indústria brasileira patentear poucos produtos, a pesquisa acrescenta outro: nossas
patentes são registradas por setores tradicionais, fora do eixo
de alta tecnologia em que elas
se concentram nos países desenvolvidos.
O setor de máquinas e equipamentos é o campeão em registro de patentes entre as
áreas que compõem a indústria
de transformação no Brasil, o
que sugere que ele deve estar
também entre os que mais inovam na indústria brasileira.
Áreas de ponta, como farmácia,
biotecnologia e comunicações,
sequer estão no ranking dos
dez maiores "patenteadores".
O ranking de patentes da indústria foi elaborado pelo
DPCT (Departamento de Política Científica e Tecnológica)
da Unicamp. Ele mostra que, ao
contrário dos países desenvolvidos, por aqui, quem mais recorre a patentes são setores
tradicionais. Figuram entre os
dez líderes do indicador de patentes setores como os de artigos de borracha e veículos.
O indicador pega o número
de pedidos e de patentes concedidas e o divide pelo número de
empregados. Em número total
de patentes, o ranking muda
um pouco, mas com os mesmos
setores tradicionais no topo.
"Não estão lá [no ranking] setores como aeronáutica, farmacêutica e química. Justamente
os mais intensivos em tecnologia, que lideram a lista nos países desenvolvidos", diz Ruy
Quadros, do DPCT.
O número de patentes é um
dos indicadores que podem ser
usados para estimar o grau de
inovação de um setor ou empresa. Novos produtos e tecnologias são geralmente protegidos com patentes. Portanto,
quanto maior o número delas,
maior deve ter sido o esforço de
pesquisa e desenvolvimento
(P&D) da empresa ou setor.
"Realmente, temos um número de patentes muito baixo.
O tempo que se leva para conseguir um registro no Brasil é
alto. As patentes que temos não
são de produtos de tecnologia
de última geração, que são os
que mais geram riqueza", diz
José Ricardo Roriz, diretor do
Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.
Relatório da Organização
Mundial de Propriedade Intelectual mostra que, no Brasil,
são registrados 21 pedidos de
patentes para cada 1 milhão de
habitantes. Menos do que na
Argentina (28), bem menos do
que a média mundial (148) e
muito menos do que no campeão de patentes em 2004, o
Japão (2.884). E os dados incluem patentes de todos os setores, não apenas da indústria.
Na área farmacêutica, onde
adquirir a patente é parte importante do negócio, o primeiro medicamento patenteado
por empresa brasileira saiu
apenas em 2005. "Quando
comparamos o número de patentes que temos em relação ao
de outros países emergentes,
perdemos de goleada", diz José
Roberto Lazzarini, diretor do
Aché, laboratório que desenvolveu o medicamento.
Mesmo o Aché ainda engatinha. Ele investe cerca de R$ 25
milhões em P&D. Um grão de
areia se comparado ao R$ 1,7 bilhão de faturamento da empresa e bem menos do que a média
das grandes farmacêuticas internacionais, que dedicam à
área entre 6% a 20% do faturamento líquido.
"Temos que fazer como
aprendizado", diz Lazzarini,
lembrando da pouca experiência das empresas brasileiras em
P&D e dos grandes riscos que a
atividade envolve. A empresa
agora tem quatro linhas de pesquisa. Depois de ter financiado
toda a pesquisa do primeiro
medicamento patenteado com
recursos próprios, ela conta
agora com linha do BNDES para custear parte delas.
Ele lembra ainda de outro
problema enfrentado por quem
quer investir em P&D no Brasil.
"A dificuldade de transformação da academia, dos cientistas
e da universidade para atender
à demanda", diz. "Temos uma
academia que tem dimensão
para atender as nossas necessidades, mas existe um vale enorme entre o mundo real das empresas e o mundo dos cientistas
[no Brasil]", completa Roriz.
O diretor da Fiesp fala de outro grande inibidor da inovação
no caso da indústria. "É muito
cara a inovação no Brasil. Você
tem que correr risco, o produto
pode não ser lançado e o custo
de capital é muito alto."
Pesquisa
O ranking de patentes da indústria é o primeiro passo do
DPCT/Unicamp para elaborar
o IBI (Índice Brasil de Inovação), que deve ser divulgado
ainda neste ano.
Apesar do número de patentes ser um indicador indireto
do grau de inovação de um setor ou empresa, ele nem sempre é um bom avaliador. Em alguns setores, o segredo industrial é importante e, nesses casos, não faz sentido tornar público um processo de produção.
O IBI terá apenas as indústrias que voluntariamente quiserem participar, já que incluirá dados que elas enviam ao IBGE sobre gastos com P&D e que
são sigilosos.
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