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CRISE NOS MERCADOS / REFLEXOS
Crise não afeta nota do país, dizem agências
Para receber grau de investimento, Brasil precisa fazer reformas estruturais independentemente do cenário externo, afirmam
"Governo tem de mostrar boa vontade em continuar realizando as melhorias", avisa analista da Standard
& Poor's sobre elevação
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
A maneira como o Brasil enfrentará as turbulências geradas pelos temores de recessão
nos EUA será decisiva para que
a obtenção do almejado grau de
investimento continue no horizonte. Segundo as principais
agências de classificação de risco, a lista de exigências para
que o país seja considerado um
destino seguro para investimentos não mudou com a iminência de uma crise internacional e precisa ser cumprida urgentemente: reformas da Previdência, tributária e trabalhista e diminuição dos gastos públicos e da dívida interna.
"Em tempos de grande instabilidade, fica ainda mais evidente a importância dessas medidas. O Brasil se beneficiou
bastante do ambiente mundial
extremamente favorável dos
últimos anos. Houve vários
progressos, como a alta da renda da população e o crescimento das reservas internacionais.
Porém, ainda há muito a ser feito: pode-se comparar o país a
um barco que possui uma vela
cheia de buracos. Antes, ele
atravessava um mar calmo e
contava com vento a favor; agora, está passando por uma tempestade", afirma Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch
Ratings no Brasil.
Ele explica que a avaliação
dos candidatos a receber o grau
de investimento -uma espécie
de atestado de bom pagador das
suas dívidas- considera as suas
características e indicadores,
não importando o cenário
mundial. "O "rating" indica para
o investidor qual a probabilidade de ele receber o seu pagamento independentemente
das condições do ambiente econômico. Afinal, o mundo naturalmente alterna períodos de
expansão e retração."
As expectativas eram que o
tal selo de qualidade -que permite às empresas e ao governos
tomar financiamentos no exterior a juros mais baixos- fosse
concedido entre o final deste
ano e o começo de 2009. Em
meados de 2007, as agências
elevaram essa classificação
-falta apenas um degrau para o
país alcançar o topo da escala.
Entretanto, na opinião do
mexicano Mauro Leos, analista
sênior de crédito da consultoria
Moody's em Nova York, "será
difícil conseguir aumentar a
nota do Brasil em 2008". "Uma
recessão nos EUA prejudicaria,
por exemplo, as exportações
brasileiras. É preciso, antes, ver
como o país vai reagir, quais decisões as instituições vão tomar. É questão de aguardar."
Lisa Schineller, diretora de
"ratings" soberanos da Standard & Poor's, lembra que os
EUA respondem por uma parcela de 15% a 20% das exportações brasileiras. "O problema é
saber quanto uma desaceleração dos EUA contaminaria nações com as quais o Brasil tem
relações comerciais fortes."
A analista estima que, considerando uma diminuição das
exportações, a também provável queda dos investimentos
feitos por estrangeiros no mercado financeiro do país e o aumento da demanda doméstica,
o PIB (Produto Interno Bruto)
deve crescer perto de 4,5% neste ano, contra 5,25% em 2007.
"Assim, a nossa perspectiva
para a classificação do Brasil
segue positiva. Os fundamentos sólidos estão aí. O "upgrade"
vai depender dos indicadores e
dos sinais de boa vontade política para fazer as reformas. Como os investidores ficam especialmente sensíveis nestes momentos, é essencial o governo
ser bem claro nas demonstrações de confiabilidade e de que
pretende seguir implementando as mudanças."
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