São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS / REFLEXOS

Crise não afeta nota do país, dizem agências

Para receber grau de investimento, Brasil precisa fazer reformas estruturais independentemente do cenário externo, afirmam

"Governo tem de mostrar boa vontade em continuar realizando as melhorias", avisa analista da Standard & Poor's sobre elevação

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

A maneira como o Brasil enfrentará as turbulências geradas pelos temores de recessão nos EUA será decisiva para que a obtenção do almejado grau de investimento continue no horizonte. Segundo as principais agências de classificação de risco, a lista de exigências para que o país seja considerado um destino seguro para investimentos não mudou com a iminência de uma crise internacional e precisa ser cumprida urgentemente: reformas da Previdência, tributária e trabalhista e diminuição dos gastos públicos e da dívida interna.
"Em tempos de grande instabilidade, fica ainda mais evidente a importância dessas medidas. O Brasil se beneficiou bastante do ambiente mundial extremamente favorável dos últimos anos. Houve vários progressos, como a alta da renda da população e o crescimento das reservas internacionais. Porém, ainda há muito a ser feito: pode-se comparar o país a um barco que possui uma vela cheia de buracos. Antes, ele atravessava um mar calmo e contava com vento a favor; agora, está passando por uma tempestade", afirma Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch Ratings no Brasil.
Ele explica que a avaliação dos candidatos a receber o grau de investimento -uma espécie de atestado de bom pagador das suas dívidas- considera as suas características e indicadores, não importando o cenário mundial. "O "rating" indica para o investidor qual a probabilidade de ele receber o seu pagamento independentemente das condições do ambiente econômico. Afinal, o mundo naturalmente alterna períodos de expansão e retração."
As expectativas eram que o tal selo de qualidade -que permite às empresas e ao governos tomar financiamentos no exterior a juros mais baixos- fosse concedido entre o final deste ano e o começo de 2009. Em meados de 2007, as agências elevaram essa classificação -falta apenas um degrau para o país alcançar o topo da escala.
Entretanto, na opinião do mexicano Mauro Leos, analista sênior de crédito da consultoria Moody's em Nova York, "será difícil conseguir aumentar a nota do Brasil em 2008". "Uma recessão nos EUA prejudicaria, por exemplo, as exportações brasileiras. É preciso, antes, ver como o país vai reagir, quais decisões as instituições vão tomar. É questão de aguardar."
Lisa Schineller, diretora de "ratings" soberanos da Standard & Poor's, lembra que os EUA respondem por uma parcela de 15% a 20% das exportações brasileiras. "O problema é saber quanto uma desaceleração dos EUA contaminaria nações com as quais o Brasil tem relações comerciais fortes."
A analista estima que, considerando uma diminuição das exportações, a também provável queda dos investimentos feitos por estrangeiros no mercado financeiro do país e o aumento da demanda doméstica, o PIB (Produto Interno Bruto) deve crescer perto de 4,5% neste ano, contra 5,25% em 2007.
"Assim, a nossa perspectiva para a classificação do Brasil segue positiva. Os fundamentos sólidos estão aí. O "upgrade" vai depender dos indicadores e dos sinais de boa vontade política para fazer as reformas. Como os investidores ficam especialmente sensíveis nestes momentos, é essencial o governo ser bem claro nas demonstrações de confiabilidade e de que pretende seguir implementando as mudanças."


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