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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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Indicador, que representa 60% do PIB, cai 0,7% em 2002

Consumo das famílias recua com renda menor e inflação

DA SUCURSAL DO RIO

Apesar do crescimento da economia em 2002, houve uma redução no consumo das famílias. Esse indicador sofreu uma retração de 0,7%. Havia registrado uma ligeira expansão de 0,7% em 2001 -ano também difícil para a economia brasileira, cuja expansão foi menor do que a de 2002.
O IBGE afirma que o consumo das famílias brasileiras representa cerca de 60% do PIB. Segundo Roberto Olinto, economista do instituto, a queda é reflexo principalmente do menor rendimento recebido pelo trabalhador. Em 2002, a renda caiu 3,8% até novembro (último dado disponível).
"É claro que o rendimento influenciou. Mas não foi só ele. Somado a isso, há uma forte contração do crédito que já dura muito tempo. Os bancos estão financiando menos, e o tomador também está com medo de se endividar. Combinando renda em queda, inflação subindo e crédito em baixa, forma-se um cenário perfeito para o consumo despencar", disse o economista-chefe do BankBoston, José Antônio Pena.
O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, lembrou ainda que a taxa de juros subiu sete pontos percentuais de outubro a dezembro do ano passado, o que explica a restrição do crédito. "Desse jeito, não há consumidor que aguente", disse.
Para Juan Pedro Janssen, da Tendências, a causa primordial para o achatamento da renda em 2002 foi a disparada da inflação. Tanto Romão como Lima concordam com a avaliação.
"A aceleração da inflação acabou comendo o salário real do trabalhador, que não consegue um reajuste que cubra essa perda. Com isso, teve menos dinheiro para consumir", afirmou Janssen.
Para o economista da Tendências, a maior parte da alta da inflação veio da pressão sobre a taxa de câmbio, que disparou no período pré-eleitoral e ainda se mantém em patamar elevado.

Investimento
Medidos pelo indicador chamado formação bruta de capital fixo, os investimentos no setor produtivo da economia também caíram em no ano passado: 4,1%, contra alta de 1,1% em 2001, ano em que o país sofreu o racionamento de energia elétrica e os efeitos dos ataques terroristas contra os Estados Unidos.
Essa redução, diz Olinto, foi ocasionada pelo enfraquecimento da construção civil, que já vinha em queda, e da produção de máquinas e equipamentos.
Na visão de Pena, a economia mundial patinou em 2002 com a queda das Bolsas causada pelas fraudes contábeis de várias companhias internacionais e o Brasil sofreu um grande período de instabilidade -com reflexos na alta do dólar, dos juros e da inflação.
Tudo isso, diz ele, fez com que o empresário ficasse mais cauteloso e adiasse investimentos em novos projetos. "Foi uma combinação muito grande de incertezas", afirmou Pena.
Paulo Levy, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cita as mesmas causas para a redução da confiança. Acrescenta que 2001 também foi um ano ruim. Ocorre que, afirma, o próprio racionamento levou a novos investimentos para aumentar a capacidade de geração de energia e reduzir o seu gasto.


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