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São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Previsão consta na ata da última reunião do Copom, que manteve juros em 26,5% e introduziu o "viés de alta"

BC estuda ampliar meta ajustada de inflação para 9,5%

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central já estuda a possibilidade de alterar a meta de inflação deste ano, fixada pelo próprio BC há dois meses. No final de janeiro, havia sido anunciado que o objetivo da instituição era mantê-la em, no máximo, 8,5%. Ontem, foi informado que a taxa poderá passar para 9,5%.
A possível mudança é citada na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), realizada na semana passada. O documento diz, porém, que seria "prematuro" ajustar a meta neste momento, sendo necessário aguardar uma melhor definição da conjuntura econômica.
A ata do Copom mostra os motivos que levaram à manutenção dos juros básicos da economia em 26,5% ao ano. Na ocasião, também foi adotado, pela primeira vez, o "viés de alta", instrumento que permite que os juros sejam elevados antes da próxima reunião do comitê, marcada para o mês que vem.
Uma meta mais folgada pode abrir espaço para que o BC reduza os juros -ou, pelo menos, promova aumentos menores. Em tese, taxas elevadas tornam o crédito mais caro e desestimulam o consumo. Isso leva a uma retração da economia e a uma consequente queda na renda da população. Diante de consumidores com menor renda, as empresas ficam com uma margem menor para reajustar seus preços. Assim, a inflação acaba contida.
Por esse raciocínio, sempre que a inflação começa a se desviar da meta, o BC aumenta os juros. Portanto, se a meta de inflação é maior, os juros não precisariam ser tão elevados.
Segundo o BC, caso os juros fiquem em 26,5% ao ano e a cotação do dólar se estabilize em R$ 3,43, a inflação ficará acima de 8,5%. Ou seja, a atual meta não será cumprida, a menos que o dólar caia ou os juros subam. Desde outubro, a taxa Selic subiu 8,5 pontos percentuais.
Questionado sobre o assunto, após depoimento em comissão do Senado, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse que "estão dadas as condições para que a inflação baixe de fato e possamos cumprir nossas metas". Por condições, ele se referia a dados que indicam queda dos índices de inflação e do câmbio.

Gasolina
Na ata da reunião do Copom, justifica-se uma eventual mudança na meta com "o efeito do choque primário dos preços administrados por contrato e monitorados". Em outras palavras, os reajustes nas tarifas públicas e no preço da gasolina ocorridos no início do ano ficaram acima do previsto pelo BC quando da definição da meta de 8,5%.
Diante dos novos números, seria necessário, diz o BC, ajustar a meta "em um ponto percentual".
Na ata da reunião do Copom divulgada em janeiro, o BC afirmava: "não haverá modificações na meta ajustada [8,5%" ao longo deste ano". Mas já abria uma exceção para o "caso de uma significativa alteração nos preços administrados e monitorados". No início do ano, projetava-se um aumento de 14% para esse conjunto de preços. Agora, essa estimativa passou para 16,8%.
Essa revisão é consequência, principalmente, da alta do preço da gasolina. Em janeiro, nas contas do BC, ele ficaria estável ao longo de todo o ano de 2003. Só o reajuste acumulado em janeiro e fevereiro, porém, chegou a 12,4%.
Segundo a ata do Copom, o BC ainda não alterou a meta de inflação porque espera que o preço internacional do petróleo se estabilize depois da guerra no Iraque. Além disso, aguarda "uma melhor definição sobre as revisões tarifárias" a serem feitas neste ano, para reestimar o reajuste das tarifas públicas neste ano.
A meta de 8,5% perseguida hoje pelo BC -e que pode ser alterada para 9,5%- é chamada de "meta ajustada". Oficialmente, a meta é de no máximo 6,5%.
O BC diz, porém, que para atingir esses 6,5% seria necessário um aumento muito forte de juros, que levaria o país a uma recessão. Assim, fixou nova meta, que inclui o efeito de choques sofridos pela economia nos últimos meses.


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