São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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ORTODOXIA REVISTA

Economista Olivier Blanchard diz que juro alto pode elevar risco e preços em país endividado como o Brasil

"Papa" do MIT critica rigor da meta de inflação

GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO

A política de juros altos, em um país altamente endividado como o Brasil, pode ampliar a percepção de risco dos investidores, o que pressiona o câmbio e alimenta a inflação. Em casos como esse, o regime de metas de inflação pode ter efeitos perversos e a única saída é o compromisso com o controle das contas públicas.
"Essa foi a situação em que a economia brasileira se encontrou em 2002 e em 2003", diz o economista Olivier Blanchard, um dos maiores especialistas em macroeconomia do mundo, no artigo "Fiscal Dominance and Inflation Targeting: Lessons from Brazil" (Domínio Fiscal e Metas de Inflação: Lições do Brasil).
Blanchard, 55, professor e ex-diretor do Departamento de Economia do MIT (Massachusetts Institute of Technology), acaba de publicar o artigo sobre a política monetária recente no Brasil. Em entrevista à Folha, por e-mail, o economista diz que juros altos têm efeito limitado no controle da inflação e que o primordial é manter o superávit fiscal.
Blanchard revela que estudou o caso brasileiro a partir de um convite indireto do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Na verdade, o governo Lula, que havia acabado de assumir, solicitou um estudo ao Banco Mundial, que o encomendou a Blanchard.
A análise do economista aparece em um momento de dilema da equipe econômica, que sofre fortes críticas e pressões para relaxar o sistema de metas inflacionárias. Na semana passada, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu rever metas futuras. Na visão de vários economistas, o atual regime é rígido demais e debilita o crescimento.
A meta para este ano está fixada em 5,5%, e o índice de referência é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Para o ano que vem, a meta estipulada é de 4,5%.
Blanchard diz que o preocupa é a fixação de metas muito baixas. Para o economista, razoáveis são índices entre 5% e 6%, a serem obtidos a médio prazo.
Ilan Goldfajn, diretor do BC durante a crise de 2002, nega que a política monetária tenha perdido a eficácia naquele período, mas reconhece: "É claro que controlar a inflação com aquele choque fica mais difícil. Tivemos de desenhar metas ajustadas para alongar o horizonte de combate à inflação".


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