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ORTODOXIA REVISTA
Economista Olivier Blanchard diz que juro alto pode elevar risco e preços em país endividado como o Brasil
"Papa" do MIT critica rigor da meta de inflação
GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO
A política de juros altos, em um
país altamente endividado como
o Brasil, pode ampliar a percepção de risco dos investidores, o
que pressiona o câmbio e alimenta a inflação. Em casos como esse,
o regime de metas de inflação pode ter efeitos perversos e a única
saída é o compromisso com o
controle das contas públicas.
"Essa foi a situação em que a
economia brasileira se encontrou
em 2002 e em 2003", diz o economista Olivier Blanchard, um dos
maiores especialistas em macroeconomia do mundo, no artigo
"Fiscal Dominance and Inflation
Targeting: Lessons from Brazil"
(Domínio Fiscal e Metas de Inflação: Lições do Brasil).
Blanchard, 55, professor e ex-diretor do Departamento de Economia do MIT (Massachusetts
Institute of Technology), acaba de
publicar o artigo sobre a política
monetária recente no Brasil. Em
entrevista à Folha, por e-mail, o
economista diz que juros altos
têm efeito limitado no controle da
inflação e que o primordial é
manter o superávit fiscal.
Blanchard revela que estudou o
caso brasileiro a partir de um convite indireto do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Na verdade, o governo Lula, que havia
acabado de assumir, solicitou um
estudo ao Banco Mundial, que o
encomendou a Blanchard.
A análise do economista aparece em um momento de dilema da
equipe econômica, que sofre fortes
críticas e pressões para relaxar o
sistema de metas inflacionárias.
Na semana passada, o presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu rever metas futuras. Na visão de vários economistas, o atual regime é rígido demais
e debilita o crescimento.
A meta para este ano está fixada
em 5,5%, e o índice de referência é
o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Para o ano que
vem, a meta estipulada é de 4,5%.
Blanchard diz que o preocupa é
a fixação de metas muito baixas.
Para o economista, razoáveis são
índices entre 5% e 6%, a serem
obtidos a médio prazo.
Ilan Goldfajn, diretor do BC durante a crise de 2002, nega que a
política monetária tenha perdido
a eficácia naquele período, mas
reconhece: "É claro que controlar
a inflação com aquele choque fica
mais difícil. Tivemos de desenhar
metas ajustadas para alongar o
horizonte de combate à inflação".
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