São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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COMÉRCIO

Apesar de região ter as taxas mais baixas, expansão nas vendas é das mais lentas; desemprego pode ser explicação

SP cobra juros menores, mas vende menos

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O comércio de São Paulo oferece hoje a menor taxa de juros ao consumidor no país. Comprar uma TV a prazo na capital paulista é mais barato do que no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Sul. No entanto, na contramão do que se poderia esperar, o varejo de São Paulo tem atualmente um dos ritmos mais lentos de crescimento em relação ao resto do país.
A Folha cruzou dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Anefac -entidade que realiza pesquisas mensais de juros no país. O levantamento mostra que a taxa de expansão na venda (em volume) de mercadorias no comércio paulista é apenas superior à de Estados como Piauí, Paraíba e Acre, com minguado poder de compra.
Ao mesmo tempo, porém, os juros de lojas na capital e no interior de São Paulo são os menores atualmente -estão em 5,90% ao mês, em média. Portanto são mais convidativos às compras.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, com a maior taxa apurada, os juros estão em 6,25% ao mês, segundo análise da Anefac realizada mensalmente em sete Estados.
Especialistas enumeram razões que poderiam explicar o ritmo de vendas do comércio paulista. Uma delas é unânime: há uma concentração de desempregados em São Paulo.
Dos 2,5 milhões de pessoas desempregadas em fevereiro nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, 48,5% estavam em São Paulo, onde a taxa de desemprego ficou em 13,6%, contra 12,9% do mês anterior. Sem renda, o comércio estaciona.
Mais: a renda dos trabalhadores da área industrial -setor com a sua força concentrada no Estado de São Paulo- tem sido comprimida de forma consecutiva há meses. Com menos dinheiro no mercado, há menor demanda e consumo na região.
"Não há dúvida de que o mercado de São Paulo é mais "evoluído" por conta da forte concorrência do varejo. Mas, quando a crise bate à porta, todo mundo perde", diz Miguel de Oliveira, economista e presidente da Anefac.
Foram analisados resultados da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE em 2003. De outubro de 2003 a janeiro de 2004, o desempenho do comércio na maioria -ou seja, em mais da metade- dos Estados brasileiros foi superior ao apurado pelo setor em São Paulo.
Detalhe: em dezembro, mês do Natal, 21 regiões no país apresentaram crescimento nas vendas superior ao verificado em São Paulo, incluindo Estados de pequena expressão no setor, como Maranhão, Piauí e Sergipe.
Em janeiro, o cenário se repete. O volume de vendas do comércio no Estado de São Paulo cresceu 6,79% sobre igual período de 2003. É um dado positivo. Mas 14 regiões do país foram melhores. Exemplos: Santa Catarina e Paraná tiveram resultados superiores, com altas de 13,20% e de 7,72%, respectivamente, no mesmo período. No Rio, a alta foi de 7%.
Se no início de 2003 o varejo no Sul tivesse tido resultados negativos, um aumento agora seria fácil de ocorrer. Isso porque a base de comparação seria fraca. Mas não é o caso: nas regiões do Sul houve alta nas vendas naquele mês. Apenas no Rio o resultado no início de 2003 foi muito fraco.

Agressividade
A agressiva política de vendas adotada pelas redes varejistas em São Paulo, abrindo espaço para uma acirrada concorrência, ajuda a evitar quedas bruscas nos resultados do setor na região. Mas essas ações para atrair clientes não são de exclusividade do comércio paulista.
A rede Insinuante, com lojas apenas no Nordeste, e a Colombo -com sede na região Sul- seguem a mesma cartilha. Isso porque a necessidade de elevar as vendas e fazer caixa atinge redes em todo o país.



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