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SINAIS TROCADOS
Segundo Palocci, FMI comprometeu-se apenas a avaliar propostas do Brasil; benefícios só viriam em 2005
Projeto do FMI pode não aliviar restrição fiscal
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
A anuência do FMI (Fundo Monetário Internacional) para que
sejam realizados projetos pilotos
de exclusão de investimentos do
cálculo de superávit primário
soou aparentemente como uma
vitória do governo, mas pode não
trazer mudança prática para as
contas públicas.
O próprio ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) admitiu isso
ontem, para satisfação de diretores de bancos de investimentos
preocupados com o compromisso de equilíbrio fiscal do governo.
"Na verdade, estamos fazendo
primeiro estudos de caso mesmo.
Projeto piloto é isso, você tem
uma determinada decisão de explorar os investimentos que sejam positivos para o equilíbrio fiscal dos países. Então nós vamos
montar os projetos pilotos que
vão demonstrar se essa é uma
possibilidade real ou se essa não é
uma possibilidade real."
A adoção de projetos pilotos pode até significar o efeito inverso
para a capacidade de investimento do governo, impondo uma nova espécie de restrições de gastos a
partir de 2005. Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, têm afirmado que o
Brasil não vai renovar o atual
acordo com o FMI, que termina
em dezembro.
Seria a primeira vez em oito
anos que o Brasil poderia adotar a
medida que desejasse no campo
fiscal sem precisar prestar contas
ao FMI, que mantém programa
de ajuda ao país desde 1998.
Cálculos
No último domingo, o FMI
anunciou que autorizaria o Brasil
a implantar projetos pilotos na
área de investimentos em infra-estrutura sem incluir os gastos
com os empreendimentos nos
cálculos do superávit primário.
Na ocasião, Palocci esclareceu
que os projetos só deverão ser formados a partir do ano que vem.
Apesar disso, o anúncio feito
em Washington motivou autoridades como o ministro Guido
Mantega, do Planejamento, e o
presidente do BNDES (Carlos
Lessa) a interpretar a novidade
como uma medida que irá beneficiar a capacidade de investimento
do Estado já sob o acordo atual do
Brasil com o FMI.
Além do mais, os projetos pilotos serão, na verdade, estudos de
caso que a equipe econômica fará
para tentar convencer o FMI de
que a proposta brasileira de não
computar na equação do superávit primário (economia de receitas para o pagamento de juros) investimentos públicos considerados positivos é boa para a situação
fiscal do país.
Hoje, investimentos de estatais
e da União, mesmo que considerados produtivos, ou seja, que representem retorno financeiro para o caixa do Estado, são tratados
simplesmente como despesas. A
única exceção é para parte dos investimentos da Petrobras.
Quando uma usina hidrelétrica
compra novas turbinas para gerar
energia, por exemplo, os gastos
com a aquisição são registrados
como despesas, o que obriga o governo a ter de economizar mais
para compensar os recursos despendidos pela estatal. Se assim
não o fizesse, prejudicaria a meta
de superávit primário. Muitas vezes as estatais ficam limitadas a
investir para não forçar a União a
ter de poupar mais.
Em estudos conjuntos da equipe econômica brasileira com técnicos do FMI, serão feitas simulações para tentar comprovar que
os investimentos produtivos são
positivos para a situação fiscal do
país. No exemplo da hidrelétrica,
o governo tentaria demonstrar
que a exclusão dos recursos gastos com a compra das turbinas seria mais do que compensada com
o aumento da receita obtida com
a maior venda de energia.
Ou seja, os projetos pilotos, pelo
menos num primeiro momento,
não vão representar exclusão de
investimentos do cálculo de superávit primário.
"Acho que não está claro que
não se está tocando no superávit
primário. Eu acho que é uma experiência gradual, qualitativa,
mas certamente não é nada na direção de reduzir o superávit primário. A falha na comunicação é
que está gerando essa preocupação", disse Paulo Leme, diretor da
Goldman Sachs.
Mais: mesmo que o governo
consiga apresentar bons resultados nos estudos de casos realizados, nada garante que o Fundo vá
concordar no futuro com a adoção dessa medida, segundo apurou a Folha.
Pelas regras do FMI, novas medidas são incorporadas pela instituição somente se for viável aplicá-las a qualquer país. No caso de
o Brasil mostrar que o mecanismo seria bom para o país, experiências em outras economias
provando o contrário já seriam
suficientes para que o Fundo não
concordasse com a prática.
Palocci, no entanto, acredita
que o Fundo deverá aceitar a proposta brasileira. "O fato de o FMI
ter concordado com os projetos
pilotos é uma disposição em compreender que essa questão é viável. É um passo dado no sentido
de ver a viabilidade dos projetos."
No final de semana passado,
quando o FMI acatou a idéia dos
projetos pilotos, a diretora-gerente da instituição, Anne Krueger,
afirmou que prosseguem dúvidas
dentro do Fundo em relação à
proposta de excluir os gastos com
investimentos em infra-estrutura
do cálculo do superávit primário.
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