São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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TRABALHO

Recuo nos três primeiros meses de 2002 foi de 5,7%, informa IBGE

Renda tem a maior queda trimestral dos anos FHC

RICARDO REGO MONTEIRO
DA SUCURSAL DO RIO

O rendimento dos trabalhadores brasileiros teve, no primeiro trimestre deste ano, a maior queda desde o início do Plano Real. Dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE indicam redução de 5,7% da renda do total de pessoas ocupadas entre janeiro e março deste ano. O percentual é maior do que o pior resultado registrado até 1999, quando houve queda de 4,8%.
O recrudescimento do desemprego nos últimos quatro anos deverá deixar sequelas para o próximo governo, segundo especialistas, mesmo que a futura política econômica seja comprometida com o crescimento econômico, a geração de empregos e a distribuição de renda.
Economista do Departamento de Estudos Sindicais da Unicamp (Universidade de Campinas), Antônio Luís dos Santos afirma que as condições macroeconômicas atuais indicam a necessidade mínima de quatro anos para reverter o atual processo de desvalorização da renda do trabalhador.
Somente após esse período, segundo Santos, seria possível ampliar o número de trabalhadores ocupados no país e gerar um número de vagas capaz de absorver o contingente anual de novos trabalhadores incorporados à população economicamente ativa -as precondições para a valorização da renda do trabalho.

Mais desemprego
Segundo o IBGE, a queda dos rendimentos é resultado direto do aumento da população desempregada do país. Embora tenha sido verificado, entre abril de 2001 e abril deste ano, crescimento de 1,8% na taxa de ocupação, o aumento tem sido insuficiente para reduzir os índices de desemprego.
Isso porque, no mesmo período, identificou-se crescimento ainda maior da população economicamente ativa e da taxa de desocupação do país. Com isso, afirmam economistas, a tendência é que os rendimentos continuem a cair no curto e médio prazos.
"Com tanta gente desempregada, a tendência é que os empregadores demitam para recontratar, depois, alguém que exerça as mesmas funções do demitido por um salário menor. Essa tem sido uma tendência do mercado de trabalho em geral", diz Santos.
A economista Shyrlene Ramos de Souza, do Departamento de Emprego e Renda do IBGE, acredita, no entanto, ser possível reverter o atual processo de queda dos rendimentos do trabalhador.
Para ela, qualquer movimento em favor do crescimento econômico já deverá se refletir na melhoria do emprego e, consequentemente, da renda do trabalhador.
Já o economista da Unicamp afirma que há necessidade de uma taxa de crescimento anual de 4% para pelo menos diminuir a tendência de queda da renda do brasileiro.
No entanto dadas as atuais restrições ao crescimento (como a alta taxa de juros e os déficits da balança de conta corrente e da balança comercial), Santos acredita que somente após quatro anos será possível voltar aos níveis de meados da década de 90.
Menos pessimista, o professor da USP José Paulo Chahad identifica no aumento das exportações a precondição para a reversão da queda dos rendimentos do trabalhador brasileiro. "As exportações movimentam toda uma cadeia produtiva geradora de empregos", afirmou.



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