São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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PRESSÃO TOTAL

Encarregado de expedição afirma que empresas têm solicitado até 5 anos de experiência

Mercado exige mais, diz desempregado

Marcio Fernandes/Folha Imagem
O encarregado de expedição Vicente Gonçalves, sem trabalho há três meses e desempregado pela décima vez em 18 anos


DA REPORTAGEM LOCAL

Para Vicente Gonçalves, 32, desempregado há três meses, a dificuldade em retornar ao mercado está no grau de exigência feito pelas empresas. "Como a oferta de mão-de-obra é muito grande, as empresas têm pedido dois, três e até cinco anos de experiência."
Encarregado de expedição, Gonçalves afirmou que, desde que ingressou no mercado de trabalho, com 14 anos, essa é a décima vez em que perde o emprego.
"A falta de salário já me fez parar a faculdade. Sinto que, desta vez, a situação é mais grave. As empresas querem rebaixar os salários porque há muita hora extra e não querem ter de pagar muito no final do mês." Ele disse que pretende insistir em conseguir um trabalho com a mesma faixa salarial anterior -cerca de R$ 700.
"O problema é que, após seis meses sem emprego, a pessoa passa a se sujeitar a ganhar menos. O impacto psicológico é sentido em uma entrevista, quando você preenche uma ficha ou vai conversar com os representantes de recursos humanos", afirmou.

Mudança
Após oito meses sem emprego, Ricardo Alexsander Drecker, 24, trocou de cidade em busca de um emprego. Ele saiu de São Paulo para São Roque, com a mulher e dois filhos, para morar na mesma casa dos sogros, dividindo despesas e o aluguel.
Conseguiu "registro em carteira" em setembro como porteiro. "Um mês depois da mudança, com muita sorte", disse. "O salário era um pouco mais baixo, mas a certeza de um rendimento para sustentar a família era o que mais importava."
Na semana passada, veio a notícia da demissão. "Agora não tenho nem dinheiro para tomar ônibus e ir atrás de outras empresas, já que saí de São Paulo", afirmou Drecker. Ele diz que o salário "não era lá essas coisas, R$ 460", mas ajudava a pagar os R$ 300 do aluguel e os R$ 150 gastos em média mensalmente com alimentação.
A demissão também provocou mudanças na família. "Minha mulher voltou a trabalhar como doméstica. O salário dela, de R$ 300, é o que temos agora para passar o mês." (CR)


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