São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

Amigo

BENJAMIN STEINBRUCH

Quando carolina e eu decidimos nos casar, em 1991, ele foi o meu primeiro amigo a saber da novidade. Abriu um largo sorriso por baixo do bigodão, fez festa, me abraçou e desejou felicidades.
Quase 11 anos se passaram desde então, seguimos caminhos distintos, divergimos em muitos temas, mas ele continua sendo amigo do peito. É leal e íntegro, tanto na vida pública quanto na particular.
Conheço a maneira como ele vive, como educa os dois filhos, Mariana e Pedro, como trata carinhosamente a mulher, Regina. É uma pessoa de bem. O Brasil seria muito melhor se contasse com uma centena de homens públicos como ele.
Tenho a maior admiração pelo economista formado na USP e pós-graduado na Unicamp, pelo professor universitário da PUC de São Paulo, pelo deputado federal eleito com a maior votação de seu partido em 1990 e com a terceira maior votação do Brasil em 1998, pelo corajoso candidato a vice-presidente em 1994, pelo competente líder de bancada na Câmara Federal.
Apesar da amizade, pensamos de forma diferente tanto na economia como na política. Temos divergências monumentais em matéria ideológica e partidária. Nossa amizade não prosperou em razão de nenhum tipo de interesse.
Em 1997, quando o governo federal decidiu privatizar o controle da Vale do Rio Doce, ele foi radicalmente contra. Coerente com suas convicções, defendeu até quando foi possível a manutenção da empresa sob o comando estatal. Quando viu que a luta antiprivatização estava perdida, passou a defender publicamente a idéia de que pelo menos a maioria do capital deveria permanecer em mãos de brasileiros, com controle compartilhado e gestão profissionalizada. Por isso, na condição de assessor econômico do Sindicato dos Bancários, aconselhou os funcionários do Banco do Brasil a apoiar um grupo de capital nacional que disputaria o leilão da Vale.
Sei que seu conselho foi sábio. A Previ, com a Petros, a Funcef e a Funcesp, fez um excelente negócio para seus segurados.
Em cinco anos nas mãos da iniciativa privada, a Vale deu um lucro acumulado de US$ 8,22 bilhões a seus acionistas, cabendo ainda à Litel (consórcio dos fundos de pensão) ter 53% da Valepar e com isso uma jóia: o controle da Vale do Rio Doce, que não deve ser vendido nunca!
Preocupa-me a forma covarde com estão pretendendo envolver meu amigo em um episódio no qual não teve nenhuma participação, a não ser essa posição nunca escondida de ninguém, primeiro contrária à privatização e depois à desnacionalização da Vale. Por razões unicamente eleitoreiras, procuram fotografias em que ele apareça ao meu lado, como se essa amizade fosse algum segredo de Estado. Vasculham a sua vida pessoal, numa atitude leviana, covarde e truculenta.
Aloizio Mercadante Oliva é o nome completo de meu amigo. Deputado federal, ele nasceu em Santos há 49 anos, é pai de família responsável e político honesto. Como já disse, temos enormes divergências ideológicas, mas uma coisa nos une: o sonho de um Brasil melhor.


Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br


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