São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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Cana turbina investimentos em SP e MG

Ao menos 38 novas usinas estão sendo instaladas no interior paulista; outros setores devem se beneficiar com o boom

Além de quitar débitos, usineiro investe o lucro na aquisição de máquinas, na reforma de casas, na compra de bens e em viagens

MARIA FERNANDA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

"Compensa mais investir no álcool que aplicar dinheiro na Suíça. Quem quiser investir aqui terá sucesso." A frase do usineiro Maurílio Biagi Filho, de Ribeirão Preto (SP), reflete o otimismo dos produtores de cana-de-açúcar em relação à safra deste ano, que deve superar a anterior em 11%.
Usineiros da região afirmam que vão aproveitar o bom faturamento para investir na construção de novas usinas -a maioria delas no oeste de São Paulo e no sul de Minas Gerais.
A Crystalsev, usina de Jardinópolis, por exemplo, está com duas novas unidades em operação e constrói mais quatro em São Paulo e no sul de Minas. O grupo Ipiranga, de Descalvado, está com empreendimentos em Iacanga, oeste paulista.
A usina Santo Antonio, de Sertãozinho, comprou um terreno em Uberaba (MG) e deve iniciar a construção da terceira usina do grupo no segundo semestre, com a intenção de moer cana já em 2007. Um investimento de R$ 300 milhões, sendo 70% financiado pelo BNDES e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.
Como investimento futuro, alguns estudam investir na Bolsa de Valores, como já fez a Cosan, que disponibilizou ações em Nova York. O presidente da Crystalsev, João Carlos de Figueiredo Ferraz, é um dos que não descartam a possibilidade.
"Já fomos assediados para isso [investir na Bolsa], mas ainda precisamos fazer a lição de casa. Mas é interessante buscar recursos fora do Brasil", disse Ferraz. Outro que vê o investimento na Bolsa como bom negócio é José Coral, presidente da Afocapi (associação dos fornecedores de Piracicaba).
Segundo Coral, os usineiros e produtores vão aproveitar a alta no setor para melhorar as condições das lavouras, com tecnologias. "Tem dinheiro à vontade para quem quiser investir em cana no Brasil", disse.

Faturamento
Os bons ventos do setor sucroalcooleiro contrastam com a crise vivida pelos produtores de soja, milho e algodão. A diferença ficou evidente na Agrishow: os negócios com cana cresceram R$ 50 milhões sobre 2005, mas o faturamento geral da feira caiu de R$ 760 milhões para R$ 500 milhões.
Não são apenas os usineiros que vão usufruir dos bons resultados do setor sucroalcooleiro. Pequenos produtores da região de Piracicaba e Ribeirão Preto, além de quitar débitos anteriores, já estão investindo o lucro da cana na compra de novos maquinários. O lucro também será usado para reformas nas casas, compra de bens, como carros, e viagens.
Paulo Canesim, proprietário de 100 hectares de terra com plantação de cana em Sertãozinho, espera arrecadar cerca de R$ 180 mil -R$ 20 mil a mais que na última safra.
Além de programar viagem no final do ano com a família e de comprar novos equipamentos agrícolas, Canesim já iniciou reformas em sua casa para ampliar a área de lazer. "Nem só de pão vive o homem", disse.
Já o produtor de Piracicaba José Nivaldo Alécio disse que vai aproveitar a boa safra para quitar dívida de R$ 700 mil relativa à compra de fertilizantes e maquinário. "Foram três anos ruins, mas vai melhorar."
De acordo com dados da Udop (Usinas e Destilarias do Oeste Paulista), pelo menos 38 novas usinas devem se instalar nesta região do Estado até a próxima safra. Nos últimos dois anos, foram construídas cinco usinas em São Paulo que já estão em operação.
Para a Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), o que impulsionou o crescimento na produção da cana foi a procura pelo álcool com o aumento na venda dos carros bicombustíveis e a manutenção da exportação na média de 2,4 bilhões de litros/ano.


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