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OPINIÃO ECONÔMICA
Lula lá?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Uma das grandes novidades
dos últimos dias foi a divulgação de pesquisas de opinião e
intenção de voto que apontam
crescimento da oposição e, sobretudo, declínio de Fernando
Henrique Cardoso. Um segundo
turno é dado como provável. A
reeleição do presidente, vista
até há pouco como assegurada,
passou a ser colocada em dúvida.
Essa reversão de expectativas
está produzindo várias consequências. Uma delas é o renascimento do interesse pelo discurso e propostas da oposição.
Os economistas do PT, que andavam praticamente esquecidos, ressurgem com destaque no
noticiário. De repente, a imprensa quer saber o que eles
pensam sobre os grandes temas
macroeconômicos: câmbio, juros, desemprego, déficit externo
e déficit fiscal.
Bem. Macroeconomia nunca
foi um dos pontos fortes do PT.
Na última eleição presidencial,
por exemplo, erros de avaliação
sobre o impacto do Plano Real
deixaram o candidato do partido mais perdido do que cego em
tiroteio.
Agora começam a surgir algumas propostas exóticas. Vejam
vocês. Segundo economistas do
partido, para crescer e gerar
empregos é preciso desmontar a
armadilha financeira criada
pela sobrevalorização cambial
e a consequente necessidade de
manter taxas de juro elevadas.
Com juros menores, a economia
cresceria e geraria mais empregos. Haveria aumento da arrecadação e redução das despesas
financeiras do governo, permitindo o equacionamento do déficit fiscal.
Até aí tudo bem. Mas não era
o câmbio sobrevalorizado que
impedia a queda dos juros? O
que fazer com o câmbio? A resposta oferecida é intrigante:
acelerar o ritmo das minidesvalorizações. Um dos economistas
do PT chegou a sugerir que o
ritmo de desvalorização nominal poderia passar dos atuais
0,6% para 1% ao mês.
Não sendo filiado ao PT ou a
qualquer outro partido, sinto-me à vontade para fazer algumas ponderações. É como dizia aquele velho provérbio: para todo problema complexo, há
uma resposta simples -e ela
está errada. Infelizmente, a
aceleração das mínis não é consistente com a diminuição das
taxas de juro.
Tudo o mais constante, uma
elevação programada do ritmo
mensal de desvalorização aumentaria a desvalorização esperada e forçaria o Banco Central a aumentar as taxas de juros. Isso porque a aceleração
das mínis diminuiria a rentabilidade em dólares das aplicações financeiras em reais. Para
manter o influxo de capital necessário ao financiamento do
grande déficit externo e garantir a rolagem dos elevados passivos de curto prazo do país, o
Banco Central seria então obrigado a subir as taxas básicas de
juros.
Um aumento da desvalorização esperada de 0,6% para 1%
ao mês, por exemplo, elevaria o
piso da taxa básica de juro em
cerca de 5% em termos anuais.
O piso para a TBC (taxa básica
de juro do Banco Central),
atualmente em torno de 20%,
passaria para a faixa de 25% ao
ano. Acelerar as mínis substancialmente e, ao mesmo tempo,
reduzir as taxas básicas de juro
só seria possível se houvesse
uma alteração significativa em
outros fatores. Por exemplo,
uma queda apreciável dos juros
no exterior ou uma diminuição
dos prêmios de risco associados
à aplicação em papéis brasileiros.
Não cabe, a essa altura, alimentar ilusões. A margem de
manobra do Banco Central do
Brasil é muito estreita. Não por
força de alguma "lei" macroeconômica. Nem por culpa da
mítica "globalização". Mas sim,
volto a dizer, por causa da leviandade da política macroeconômica seguida pelo governo
brasileiro desde 1994, especialmente na fase inicial do Plano
Real.
Sobrevalorização cambial,
abertura pouco criteriosa às
importações e ao capital externo volátil ou de curto prazo,
descaso na promoção de exportações, falta de rigor no controle das contas públicas -tudo
isso gerou desequilíbrios macroeconômicos imensos e de
correção muito difícil.
Em vez de sair fazendo propostas ingênuas, os economistas
do PT e de outros partidos de
oposição precisam parar para
pensar um pouco. Afinal, todos
aqueles que querem que o Brasil mude esperam que a oposição possa apresentar um discurso consistente e fundamentado em 1998. E não a repetição
do amadorismo econômico que
tanto prejudicou a candidatura
Lula na eleição de 1994.
Paulo Nogueira Batista Jr., 43, professor da
Fundação Getúlio Vargas escreve às quintas-feiras nesta coluna.
E-mail: pnbjribm.net
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