São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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CONTAGEM REGRESSIVA

Analistas acreditam em alta entre 0,25 e 0,50 ponto percentual; decisão pode afetar emergentes

Fed deve elevar os juros pela 1ª vez em 4 anos

DA REDAÇÃO

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) deve anunciar na próxima quarta-feira o aumento da taxa básica de juros norte-americana, hoje em 1% ao ano (a menor em mais de 40 anos). Se confirmada, será a primeira elevação em quatro anos.
Segundo levantamento feito pela agência de notícias Reuters com 21 grandes empresas negociadoras de títulos, que operam diretamente com o Fed, todas disseram esperar uma elevação dos juros ao fim da reunião do Fomc (o comitê de política monetária da instituição), que começa amanhã.
A dúvida reside na intensidade da elevação. Embora a maioria dos analistas acredite em uma alta de 0,25 ponto percentual, outros dizem que não seria uma surpresa um aumento da taxa para 1,5%.
Os juros começaram a cair em janeiro de 2001, até chegar à atual taxa de 1%. A medida visava estimular o consumo e aquecer a economia dos EUA, que vinha de um período de breve recessão. Agora, há um temor de que o dinheiro esteja barato demais, provocando pressão inflacionária.
O presidente do Fed, Alan Greenspan, ao longo das últimas semanas, disse que estava preparado para tomar qualquer medida necessária para "atingir a estabilidade dos preços e garantir o máximo crescimento sustentado" dos EUA. Mas também deu indícios de que o processo de elevação dos juros tenderá a ser gradual.
Greenspan, 78, é o presidente do Fed há 17 anos e acabou de tomar posse para seu quinto mandato -ele deverá deixar o cargo em 31 de janeiro de 2006. À frente do Federal Reserve, ele já atravessou duas recessões, três guerras, um "crash" da Bolsa de Valores, uma bolha acionária e os ataques terroristas de 11 de Setembro.
Greenspan agora enfrenta um dilema novo. A grande questão não é mais se a taxa vai subir, mas quanto e com que rapidez.
Muitos especialistas acreditam que o Fed já tenha esperado tempo demais para elevar os juros. "Eu acredito que eles estejam atrás da curva [de preços], mas não creio que seja inusual que consigam modificar isso", diz Allan Meltzer, professor da Carnegie Mellon University.
Alguns acreditam que haja um componente político por trás das decisões do Fed. Em novembro, acontecerão as eleições presidenciais americanas. Os dois principais candidatos são o atual presidente, George W. Bush (republicano), e John Kerry (democrata).
Na última sexta-feira, o Departamento de Comércio revisou para baixo a taxa de crescimento (anualizada) do país no primeiro trimestre, passando-a de 4,4% para 3,9%. Índices recentes têm mostrado pressão na inflação do país -atribuída pelas autoridades à variação do petróleo no mercado internacional.
J. Bradford DeLong, professor da Universidade da Califórnia, acredita que a inflação poderá continuar sob controle porque ainda há um contingente alto de desempregados no país -1 milhão de postos de trabalho foram fechados desde 2000.
A possibilidade de uma elevação mais agressiva dos juros pode ter um efeito secundário -a atração de dinheiro para os títulos do Tesouro dos EUA, que passarão a ser mais atrativos, com risco nulo.
Isso pode provocar uma saída de recursos alocados para países emergentes -como o Brasil. De acordo com analistas ouvidos pelo jornal "Financial Times", porém, o aumento da taxa de juros nos EUA já está "precificada", ou seja, já influenciou a decisão dos gestores de recursos.


Com agências internacionais e com o "New York Times"

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