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Argentino vê paralelo entre planos
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
O criador da primeira versão do
Plano de Conversibilidade e hoje
presidente do Centro de Análise
Social e Econômica (Case),
Eduardo Cúria, acha que a maior
falha do Plano Real foi a mesma
do plano argentino: a longa duração do sistema de âncora cambial.
Ele acredita, porém, que as conseqüências desse sistema, que sobrevalorizou artificialmente as
moedas dos dois países, foram
menos traumáticas no Brasil porque o Plano Real foi mais flexível.
Entre 1989 e 1990, Cúria foi o vice de Ernam Gonzáles, o ministro
da Economia do presidente Carlos Menem que antecedeu Domingo Cavallo, que entre 1991 e
2001 manteve o peso argentino
atrelado ao valor do dólar americano por força de lei.
Ele afirma que foi dele a primeira versão do sistema de âncora
cambial, mas sua proposta foi rejeitada. Segundo ele, sua versão
"não tinha a âncora cambial como norma ou fundamento da
economia".
"Eu apoiei a desvalorização do
real em 1999. Defendia que a situação do real era insustentável e
que, cedo ou tarde, a moeda teria
que ser desvalorizada", afirmou.
Ter deixado o real flutuar livremente em relação ao dólar, na sua
opinião, foi o que levou o Brasil a
evitar um desastre econômico como o que ocorreu na Argentina,
cuja desvalorização em 2001 culminou na decretação da moratória do pagamento da dívida pública e na suspensão das movimentações financeiras para evitar uma
bancarrota generalizada no sistema financeiro.
"Os dois tiveram êxito no início
ao combaterem a inflação e provocar uma onda de expansão na
economia, mas terminaram mais
ou menos igual porque câmbio
real pouco competitivo dificulta
as exportações e facilita as importações e isso não é sustentável. Para ter dinamismo, os países tiveram que recorrer ao endividamento, mas não puderam manter
isso e chegaram ao colapso."
Crítico desse sistema como forma de combater a inflação, o professor de macroeconomia da Universidade de Buenos Aires (UBE)
Eduardo Conesa acredita que os
prejuízos do Plano Real foram
maiores do que os benefícios. "O
Brasil ganhou uma dívida enorme
e um crescimento econômico pobre", disse.
Atraso
Para ele, Brasil e Argentina estão
tentando manter baixa a inflação
por meio do controle fiscal, mas
com dez anos de atraso. "Agora o
sacrifício é muito maior porque as
dívidas explodiram e, por mais
que os governos se apertem, não
conseguirão pagá-las."
Segundo Conesa, o Real fez mal
não só ao Brasil, mas também à
Argentina, ao dar uma sobrevida
ao Plano de Conversibilidade depois da crise do México, em 1994.
Com o aumento dos juros nos Estados Unidos por causa do "efeito
tequila", secaram os recursos que
permitiam que a Argentina mantivesse a paridade com o dólar,
mas, segundo Conesa, o real
(moeda brasileira adotada em julho de 1994) funcionou como
uma espécie de desvalorização
para a Argentina.
Com moedas artificialmente
fortes, os produtos argentinos ganharam competitividade no mercado brasileiro.
"O Brasil tornou-se o principal
parceiro comercial da Argentina e
praticamente o único a comprar
produtos industrializados e foi
uma espécie de tábua de salvação
para a Argentina", afirmou.
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