São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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Argentino vê paralelo entre planos

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

O criador da primeira versão do Plano de Conversibilidade e hoje presidente do Centro de Análise Social e Econômica (Case), Eduardo Cúria, acha que a maior falha do Plano Real foi a mesma do plano argentino: a longa duração do sistema de âncora cambial.
Ele acredita, porém, que as conseqüências desse sistema, que sobrevalorizou artificialmente as moedas dos dois países, foram menos traumáticas no Brasil porque o Plano Real foi mais flexível.
Entre 1989 e 1990, Cúria foi o vice de Ernam Gonzáles, o ministro da Economia do presidente Carlos Menem que antecedeu Domingo Cavallo, que entre 1991 e 2001 manteve o peso argentino atrelado ao valor do dólar americano por força de lei.
Ele afirma que foi dele a primeira versão do sistema de âncora cambial, mas sua proposta foi rejeitada. Segundo ele, sua versão "não tinha a âncora cambial como norma ou fundamento da economia".
"Eu apoiei a desvalorização do real em 1999. Defendia que a situação do real era insustentável e que, cedo ou tarde, a moeda teria que ser desvalorizada", afirmou.
Ter deixado o real flutuar livremente em relação ao dólar, na sua opinião, foi o que levou o Brasil a evitar um desastre econômico como o que ocorreu na Argentina, cuja desvalorização em 2001 culminou na decretação da moratória do pagamento da dívida pública e na suspensão das movimentações financeiras para evitar uma bancarrota generalizada no sistema financeiro.
"Os dois tiveram êxito no início ao combaterem a inflação e provocar uma onda de expansão na economia, mas terminaram mais ou menos igual porque câmbio real pouco competitivo dificulta as exportações e facilita as importações e isso não é sustentável. Para ter dinamismo, os países tiveram que recorrer ao endividamento, mas não puderam manter isso e chegaram ao colapso."
Crítico desse sistema como forma de combater a inflação, o professor de macroeconomia da Universidade de Buenos Aires (UBE) Eduardo Conesa acredita que os prejuízos do Plano Real foram maiores do que os benefícios. "O Brasil ganhou uma dívida enorme e um crescimento econômico pobre", disse.

Atraso
Para ele, Brasil e Argentina estão tentando manter baixa a inflação por meio do controle fiscal, mas com dez anos de atraso. "Agora o sacrifício é muito maior porque as dívidas explodiram e, por mais que os governos se apertem, não conseguirão pagá-las."
Segundo Conesa, o Real fez mal não só ao Brasil, mas também à Argentina, ao dar uma sobrevida ao Plano de Conversibilidade depois da crise do México, em 1994. Com o aumento dos juros nos Estados Unidos por causa do "efeito tequila", secaram os recursos que permitiam que a Argentina mantivesse a paridade com o dólar, mas, segundo Conesa, o real (moeda brasileira adotada em julho de 1994) funcionou como uma espécie de desvalorização para a Argentina.
Com moedas artificialmente fortes, os produtos argentinos ganharam competitividade no mercado brasileiro.
"O Brasil tornou-se o principal parceiro comercial da Argentina e praticamente o único a comprar produtos industrializados e foi uma espécie de tábua de salvação para a Argentina", afirmou.


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