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Tarifas pesam mais nos gastos da família
Preços de serviços públicos, indexados à inflação, e os administrados pelo governo consomem 17% da despesa familiar em 2003
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Únicos itens que continuaram
indexados após o lançamento do
real, as tarifas públicas, cujos preços subiram acima da inflação oficial desde 1994, ganharam peso
no orçamento das famílias.
As tarifas e os preços administrados (controlados pelo governo) abocanhavam 16,81% da despesa familiar em 2003 nas 11 mais
importantes regiões metropolitanas ou capitais do país, segundo
levantamento inédito do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) feito a pedido da Folha com dados da POF (Pesquisas
de Orçamentos Familiares). Em
1996, esse valor era de 12,98%.
Os reajustes maiores do que a
inflação, dizem especialistas, são
o principal motivo da expansão
do peso desses itens. Parte das tarifas é indexada aos IGPs (Índice
Geral de Preços, que mede os preços no atacado), que subiu mais
do que o IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo, o indicador oficial) desde 1994, em decorrência dos choques cambiais.
Enquanto o IPCA teve alta de
167,21% de julho de 1994 a maio
de 2004, o IGP-DI subiu 296,44%.
O telefone fixo, corrigido pelo
IGP-DI, é um exemplo: subiu
546,11% no período, segundo dados do IPCA. Sua participação no
orçamento saltou de 1,08% em
1996 para 2,31% em 2003. A energia, também indexada, teve seu
peso ampliado de 2,11% para
2,50%. Seu aumento foi de
352,91% no período. Ambos os
serviços foram privatizados no
governo FHC.
"Indexar as tarifas nos contratos de privatização foi a grande falha do Plano Real. Foi um erro
gravíssimo. Foram os únicos preços que permaneceram indexados, distorcendo tudo", disse Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista do Grupo de Conjuntura
da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro).
Segundo ele, essa situação criou
uma armadilha: o Banco Central
tem de comprimir os preços livres
(sensíveis ao juros) para conter a
alta dos administrados. Sempre
depois de um ano de choque cambial, diz, o BC "tem de correr" para segurar a inflação do ano seguinte, contaminada pelo efeito
das tarifas sobre a inflação ao consumidor. É que os IGPs, por medirem o atacado, são mais sensíveis aos movimentos do câmbio.
Para Alex Agostini, da Global
Invest, "a correção das tarifas foi
contra a regra do Real, de desindexar a economia". A solução,
diz, é criar índices setoriais (que
medem os custos das empresas de
cada ramo) para corrigir os preços de itens como telefone.
Mas foi um preço administrado
quem mais ganhou espaço na
despesa familiar: a gasolina.
O peso do combustível passou
de 1,73% em 1996 para 3,47% em
2003. O motivo foi a abertura do
mercado a partir de 1998, que permitiu o alinhamento dos preços
da Petrobras aos praticados no
mercado internacional. No período do real, a gasolina subiu
256,75%, segundo o IPCA.
Pelo mesmo motivo, o gás doméstico passou de 0,45% da despesa total para 0,96%. O peso do
transporte urbano, que é influenciado pelos combustíveis, aumentou de 3,11% para 3,41%.
Segundo Edílson Nascimento
Silva, gerente da POF do IBGE,
dois são os motivos para a maior
participação das tarifas no orçamento familiar: os preços mais altos e a maior oferta de produtos e
serviços. Citou o exemplo da expansão dos serviços telefônicos. O
celular, que consumia 0,23% do
orçamento, passou para 0,99%.
Regionalmente, as tarifas e os
preços administrados têm maior
peso para quem mora na região
metropolitana do Rio (19,83% do
orçamento em 2003). Depois aparecem Goiânia (19,51%), Curitiba
(17,25%) e São Paulo (16,26%).
As tarifas têm participação menor em Fortaleza (14,05%), Salvador (14,74%), Belém (15,21%) e
Porto Alegre (15,43%).
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