|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RAMEZ TEBET
A crise das agências reguladoras
As agências reguladoras não dispõem de estruturas e de recursos, sofrem influências político-partidárias
MECANISMOS importantes
para a credibilidade do país
nos foros internacionais,
os chamados marcos regulatórios
padecem de graves deficiências no
Brasil, a partir da precária situação
em que se encontram as agências reguladoras. Criadas para pôr regras e
fiscalizar a prestação de serviços públicos por concessionárias privadas,
as agências enfrentam sérias dificuldades para desempenhar seu papel.
Não dispõem de estruturas e de recursos, sofrem influências político-partidárias; mudam de rumo, a cada
ciclo presidencial; aguardam a nomeação de diretores e seus quadros
se esvaziam.
A previsibilidade dos marcos é elemento essencial para atrair investidores. Seus limites são difusos, ocasionando déficit operacional e, às
vezes, duplicidade de funções entre
pessoas jurídicas do governo e órgãos de Estado. Por falta de regras
estáveis, a desconfiança grassa em
muitos setores. O setor de transportes enfrenta grave crise, decorrente
da baixa integração dos modais, péssima qualidade e insuficiência do
sistema rodoviário e dificuldade de
acesso aos portos, cujo modelo de
gestão é dos mais precários.
Exemplo de falta de integração
entre os modais está na região de
Três Lagoas e o bolsão sul mato-grossense, onde uma industrialização incipiente poderia ser acelerada
com os aproveitamentos da bacia
Paraná-Tietê e a estrada de ferro da
Rede Ferroviária Federal, além da
integração com a Ferronorte, que
atravessa Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Para o setor de transportes, há duas agências reguladoras, a
ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), ambas criadas em 2001.
Nos últimos 20 anos, os investimentos no setor de transportes têm sido
baixos, oscilando de 0,09% a 0,28%
do PIB. As deficiências aparecem na
natureza limitada das concessões
rodoviárias, no caráter estatal das
administrações de portos e na fragmentação na estrutura de propriedade das operadoras ferroviárias.
Como decorrência, emergem elevados custos de logística, estimados
em 16% a 20% do PIB, quando comparados a uma média de 11% a 12%
na Europa e 9,8% nos Estados Unidos. Estimam-se em R$ 10 bilhões as
perdas de companhias brasileiras
com logística.
As agências do setor de transportes -ANTT e Antaq- trabalham de
maneira isolada, sem foco para a
questão logística, razão pela qual devem ser fundidas. Entre os tipos de
navegação fiscalizados por essa última agência, está a navegação de cabotagem, realizada entre os portos
ou pontos do território nacional,
utilizando a via marítima e as vias
navegáveis interiores. Não se compreende a razão por que não abriga a
cabotagem turística. A ausência de
definições é imensa, enquanto se
multiplicam normas e resoluções a
cargo de inúmeros órgãos. Trata-se
de um mercado promissor para o
Brasil, que poderá comportar um
fluxo de 5 milhões de turistas. No
entanto, por falta de regras claras e
excesso de burocracia, o turismo
marítimo está ameaçado.
Os agentes que atuam no setor
-PF, Ministério do Trabalho, Receita Federal, Capitania dos Portos e
Vigilância Sanitária- expandem a
burocracia e afugentam os grandes
navios de turismo marítimo. Veja-se
a disposição do Conselho Nacional
de Imigração, sob a égide do Ministério do Trabalho, que chega a exigir
a contratação de 30% de brasileiros
para as operações a bordo, coisa impraticável ante a moldura internacional que baliza os contratos das
tripulações. Por falta de unificação
legislativa, somos obrigados a conviver com situações extravagantes. A
praticagem -atividade que consiste
em receber o navio e conduzi-lo para dentro do porto- é uma delas.
Chega-se a cobrar uma taxa de praticagem de US$ 30 mil, no porto de
Santos, quando esse custo oscila entre US$ 5.000 e US$ 10 mil nos portos internacionais. Pela inexistência
de marcos próprios para definir as
atividades, o Brasil permanece ao
largo da cabotagem turística.
Há, ainda, o processo de escolha
dos dirigentes pelo presidente da
República, após indicação aprovada
pelo Senado. Constata-se pressão de
partidos e grupos na indicação dos
diretores. A governança regulatória
sujeita-se a contratos de gestão que
não são implementados, seja por
conta das formas sugeridas seja por
conta da reduzida capacidade de
controle dos ministérios sobre as
agências. As agências reguladoras
carecem de aperfeiçoamento, sob
pena de se expandirem os conflitos
entre elas e os Poderes Executivo e
Legislativo, além de organizações da
sociedade civil.
RAMEZ TEBET (PMDB-MS), senador, foi presidente da
Comissão de Assuntos Econômicos e do Senado.
Texto Anterior: Outro lado: Empresa nega irregularidades em importação; distribuidora não comenta Próximo Texto: Anac diverge em pareceres sobre VarigLog Índice
|