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INVESTIGAÇÃO
Banqueiro é processado em ação proposta pelo Ministério Público
Juíza denuncia Dantas por calúnia
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A juíza substituta da 5ª Vara
Criminal do Rio de Janeiro, Juliana Kalichstein, abriu processo criminal contra o banqueiro Daniel
Dantas, sócio-fundador do grupo
Opportunity, sob acusação de
"denunciação caluniosa" contra o
ex-presidente do grupo canadense TIW (Telesystem International
Wireless) Bruno Ducharme e o
empresário Luiz Roberto Demarco, ex-sócio e atual adversário de
Dantas.
A ação penal foi proposta pelo
Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro. Em outubro de
2001, o banqueiro entrou com representação no Ministério Público acusando Ducharme e Demarco de tentativa de extorsão e de
ameaças.
Segundo Dantas, Nelson Tanure e Paulo Marinho, respectivamente acionista controlador e vice-presidente do "Jornal do Brasil", teriam sido porta-vozes das
ameaças de Demarco e Ducharme.
A acusação foi considerada falsa
e o processo foi arquivado pelo
Ministério Público em junho de
2002. Dois anos depois, foi reaberto a pedido de Paulo Marinho.
Na quarta-feira da semana passada, a promotora de Justiça Dora
Beatriz Costa propôs a ação penal
contra Dantas, que foi aceita pela
juíza na sexta-feira.
Segundo a promotora, Dantas
teria feito as acusações, "consciente e voluntariamente", para
provocar a investigação no Ministério Público. A pena prevista no
Código Penal para a denunciação
caluniosa é de dois a oito anos de
prisão. O depoimento de Dantas
está marcado para 10 de outubro.
Guerra comercial
A reabertura do processo revela
bastidores da guerra havida entre
os grupos Opportunity e TIW,
durante a disputa pelo controle
acionário das empresas Telemig
Celular e Tele Norte Celular, ambas privatizadas pela União em
julho de 1998, em leilão.
A TIW participou do consórcio
vencedor com 49% do capital e
investiu US$ 380 milhões. Os conflitos com Dantas começaram em
2000. O grupo canadense foi excluído do acordo de acionistas,
aliou-se aos fundos de pensão e
passou a brigar na Justiça contra o
Opportunity.
A guerra se estendeu por quase
três anos. Em março de 2003,
pressionada por uma crise financeira no exterior, a TIW vendeu
sua participação nas duas teles
para o Opportunity por US$ 70
milhões. O prejuízo em relação ao
que investiram na privatização foi
de US$ 310 milhões.
Encontro no hotel
Dantas afirmou ao Ministério
Público, em 2001, que as tentativas de extorsão e as ameaças teriam ocorrido durante uma reunião no hotel Sheraton, no Rio de
Janeiro, da qual participaram,
além dele próprio, Sérgio Goldberg (amigo de Dantas), Nelson
Tanure e Paulo Marinho. Os dois
últimos, supostamente, representavam a TIW e Luiz Demarco, que
move ação judicial de indenização contra o Opportunity nas
Ilhas Cayman (paraíso fiscal).
Na representação, à qual a Folha teve acesso, Dantas diz que
Tanure teria feito ameaças à sua
irmã Verônica Dantas, também
acionista do Opportunity, com as
seguintes palavras: "Eu teria, se
estivesse no seu lugar, preocupação com a segurança de sua irmã.
Tem muita gente ruim em volta
dos canadenses. Compre a participação dos canadenses. Pague o
preço".
Segundo a representação, ""além
da ameaça, todo um contexto de
extorsão permeou o encontro
ocorrido no dia 1º de maio". Um
dado curioso do processo é o fato
de o banqueiro só ter registrado a
notificação no Ministério Público
em 31 de outubro de 2001, seis
meses depois do encontro sigiloso
no hotel.
Além das declarações de acusação, Dantas entregou ao Ministério Público cópia de um documento em que a TIW (como acionista da Telemig Celular e Tele
Norte Celular) assegurava que
Demarco receberia indenização
de US$ 1,4 milhão caso vencesse a
disputa judicial em Cayman contra o Opportunity. Em contrapartida, deveria manter a TIW informada do processo.
Posteriormente, por ordem da
Grande Corte das Ilhas Cayman,
Dantas entregou uma declaração
por escrito ao Ministério Público
do Rio dizendo que o documento
da TIW havia sido furtado de Demarco e que seu conteúdo referia-se apenas a um acordo para compartilhamento de serviços de advogados.
O relatório do Ministério Público sobre a investigação do caso
concluiu que não houve ameaça
nem tentativa de extorsão e que os
diálogos reproduzidos por Daniel
Dantas ocorreram no contexto de
uma reunião de negócios entre
pessoas que têm interesses comuns em alguns momentos e divergentes em outros.
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