São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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PAÍS DO MENSALÃO

Receita agora prioriza lista de 200 servidores com movimentações "gritantemente incompatíveis" com a renda

Investigação mira funcionários públicos

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos principais alvos das investigações da Receita e da Polícia Federal é uma lista que contém cerca de 200 nomes de servidores públicos que realizaram operações financeiras por meio de doleiros nos últimos anos.
Os dados das movimentações desses funcionários públicos ainda não foram totalmente fechados, mas mostram movimentações qualificadas pela Receita como ""gritantemente incompatíveis" com o nível de rendimento de seus donos.
A PF pretende dar prioridade na instauração de inquéritos policiais contra esses funcionários públicos assim que receber a lista completa da Receita.
Segundo a Folha apurou, o número de pessoas que fizeram movimentações via doleiros e que são suspeitas de terem cometido crimes fiscais é muito superior ao que está totalizado nas listas.
Para a investigação e a elaboração das relações, a Receita descartou movimentações inferiores a US$ 30 mil. De uma lista de 9.600 pessoas, por exemplo, 5.469 ficaram de fora por terem movimentado quantias menores do que o "valor de corte" estabelecido.
A Polícia Federal, no entanto, tem outras bases de dados que incluem essas movimentações menores e pretende, com o tempo, instaurar inquéritos para averiguar esses nomes.
As investigações da PF e da Receita avançaram de forma consistente por causa da organização e dos métodos de contabilidade que os doleiros utilizavam para registrar suas operações.
Várias das contas que usavam nomes "fantasia", como Carinhoso, por exemplo, acabaram sendo abertas (supinadas, no jargão da PF) depois com a ajuda de autoridades norte-americanas.

Foz do Iguaçu
Pouco mais de cem pessoas físicas e empresas localizadas em Foz do Iguaçu, na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, movimentaram US$ 50,4 milhões entre 2000 e 2002, segundo os dados das listas da Receita Federal e da PF.
Essas movimentações são o principal foco de interesse das investigações da promotoria distrital dos EUA, que vem colaborando com as autoridades brasileiras de forma mais ativa desde os ataques terroristas contra os EUA de 11 de setembro de 2001.
Em investigações já realizadas, a PF não encontrou nenhum indício da existência de células terroristas na região da Tríplice Fronteira. Em operação recente, no entanto, foram presos vários cidadãos de origem árabe que tinham envolvimento em atividades relacionadas ao crime organizado na região de Foz do Iguaçu (PR).
Já as autoridades norte-americanas chegaram a anunciar publicamente que rastrearam cerca de US$ 30 milhões em operações para uma conta do banco MTB. O dinheiro, segundo os funcionários americanos, teria sido movimentado para financiar as atividades do grupo terrorista Hamas e foi bloqueado pelo governo dos EUA. (FERNANDO CANZIAN)


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